Avião militar para 100 passageiros decolou do Afeganistão com mais de 600 a bordo
Segundo o relato feito ao Defense One, a decisão de decolar, em vez de tentar expulsar as pessoas, foi da tripulação.
Em meio ao caos que se instalou no Afeganistão após a tomada da capital, Cabul, pelo Taleban, um avião militar americano C-17 Globemaster III decolou com 640 pessoas a bordo neste domingo (15), de acordo com o site Defense One.
Segundo um funcionário da Defesa dos Estados Unidos, que falou ao site sob condição de anonimato, não estava previsto que a aeronave levasse tantas pessoas, mas afegãos se atiraram na rampa entreaberta para entrar no avião. O C-17 tem como capacidade indicada pouco mais de 100 passageiros.
O voo de Cabul, que partiu pouco tempo depois do retorno do grupo extremista ao poder no país, tinha como destino o Qatar, onde pousou depois de mais de duas horas no ar, segundo um site de acompanhamento de voos.
Segundo o relato feito ao Defense One, a decisão de decolar, em vez de tentar expulsar as pessoas, foi da tripulação.
O aeroporto da capital afegã tem registrado cenas surreais de desespero de moradores buscando fugir da cidade. Na mais chocante delas, ao menos duas pessoas morreram após se alojar junto ao trem de pouso de um gigantesco cargueiro militar americano em plena decolagem –não se sabe se seria o mesmo C-17 que levou os cerca de 640 passageiros.
Dezenas de civis fizeram o mesmo com outros aviões militares e invadiram duas aeronaves comerciais estacionadas na pista. Ao menos sete pessoas morreram, de acordo com a agência de notícias Associated Press.
O aeroporto de Cabul foi transformado em uma espécie de embaixada de países ocidentais, que transferiram seu pessoal de helicóptero, para que fossem removidos em cargueiros. Além dos americanos, britânicos, franceses e alemães fizeram o mesmo, dando apoio a outros aliados ocidentais.
Após a manhã desta segunda-feira (16/8), os americanos suspenderam até mesmo os pousos militares, obrigando um avião alemão a desviar para o vizinho Uzbequistão.
Isso não impediu empurra-empurra e mais violência. Ao menos duas pessoas foram mortas, de acordo com o Pentágono, por se aproximarem armadas de barreiras com soldados americanos.
“Forças militares americanas estão trabalhando junto a tropas turcas e de outros países para esvaziar a área. Não sabemos quanto tempo isso levará”, afirmou John Kirby, porta-voz do Departamento de Defesa americano.
Além disso, os EUA recomendaram que empresas aéreas evitem voar também sobre o Afeganistão. Desde domingo, isso foi acatado por United Airlines, British Airways e Virgin Atlantic. Nesta segunda, foi a vez de Qatar Airways, Singapore Airlines, Taiwan’s China Airlines, Air France, KLM e a Lufthansa.
Os americanos ocupavam o Afeganistão com tropas militares desde 2001, após os atentados terroristas de 11 de setembro, quando os americanos retiraram o Taleban do poder. Antes, o grupo fundamentalista governou o país por cinco anos, em um regime marcado pela violência e pelo desrespeito aos direitos humanos.
Após 20 anos de guerra, no entanto, as tropas ocidentais não conseguiram fortalecer o Estado afegão, e bastou o anúncio do governo Joe Biden de que retiraria os militares do país para que, em poucas semanas, o Taleban retomasse o poder, numa ofensiva militar que se concretizou neste domingo.
Até aqui, o grupo fundamentalista islâmico tem cumprido sua promessa de não impedir a saída de pessoal ocidental do Afeganistão. É incerto, contudo, o que fará em relação a afegãos com a mesma ideia.