Euro cai ao mesmo valor do dólar pela primeira vez desde 2002; entenda
Por volta das 8h30, no horário de Brasília (11h30, no horário da zona do euro)
O euro atingiu nesta terça-feira (12/7) o mesmo valor do dólar pela primeira vez desde 2002, ano em que a moeda única europeia foi introduzida nos países que fazem parte da zona do euro. Por volta das 8h30, no horário de Brasília (11h30, no horário da zona do euro), a moeda chegou a ser negociada a 99 centavos de dólar. O mercado, porém, ainda está aberto para negociações de câmbio.
Considerada um valor de refúgio por investidores, a moeda americana valorizou 14% desde o início do ano, na comparação com o euro. O tombo da moeda europeia se deve ao risco que um corte no abastecimento de gás russo representa para a economia da UE (União Europeia). A matéria-prima chega pelo gasoduto Nord Stream 1, atualmente em manutenção, e essa tensão alimenta os temores de uma recessão na Europa.
Outro fator que contribuiu com esse cenário foi o anúncio de sábado (9/7) de que o Canadá devolverá turbinas à Alemanha para aliviar a crise energética com a Rússia. Segundo a analista Jeffrey Halley, da empresa Oanda, o anúncio “não teve um impacto positivo”.
O grupo russo Gazprom iniciou os trabalhos de manutenção do Nord Stream 1 ontem, e os países europeus estão na expectativa para saber se Moscou vai restabelecer o fornecimento após as obras, previstas para durar 10 dias.
“A questão chave é saber se o gás voltará depois de 21 de julho. Os mercados parecem já ter tomado uma decisão”, disse Halley.
Para Mark Haefele, analista do UBS, uma suspensão do fornecimento de gás russo na Europa “provocaria uma recessão em toda a zona do euro com três trimestres consecutivos de contração da economia”.
Na avaliação de especialistas, esse cenário de recessão também dificultaria o trabalho do BCE (Banco Central Europeu) caso a instituição deseje acabar com sua política monetária expansionista e passar para uma fase de contração para combater a inflação que agrava a situação.
Ao mesmo tempo, o Federal Reserve Fed (o Banco Central americano) tem mais margem de manobra para continuar elevando as taxas, já que os números de emprego divulgados na sexta-feira (8) provaram que a economia dos Estados Unidos apresenta maior resiliência no momento.
Inflação e medo de recessão derrubam o Euro
Além da questão do gás, os altos preços de importação, especialmente de energia, também estão impulsionando a inflação. E isso não é bom para o BCE, pois o órgão quer contrabalançar a inflação com aumentos planejados das taxas de juros.
O fato de o euro estar caindo em relação ao dólar sempre tem relação com a avaliação da moeda americana.
“O Banco Central americano, o Fed, está definindo o ritmo novamente”, explica o ex-economista-chefe da Allianz, Michael Heise, em entrevista à emissora alemã Deutsche Welle. A instituição americana está tomando medidas contra a inflação e já começou a aumentar as taxas de juros.
Se o BCE fizer o primeiro aumento da taxa de juros em julho e outros aumentos se seguirem -até elevando as taxas de juros um pouco mais do que se – pode ajudar a taxa de câmbio do euro novamente. Assim, a moeda comum europeia poderia voltar a ser cotada a 1,10 dólar, ou até mais.
Euro x Dólar
O que define o valor de uma moeda, na prática, é a oferta e a demanda. Embora exista a teoria de Fischer, que calcula o preço justo de uma moeda a partir do diferencial da taxa de juros e da inflação, a maior quantidade de dólar no mercado puxa o valor do câmbio americano para baixo.
“Pode parecer uma resposta simples, mas não há escapatória. Os Estados Unidos têm uma quantidade de moeda muito grande no mercado, o que aumenta sua liquidez e deixa a moeda mais barata”, explicou ao UOL Daniel Abrahão, sócio da iHUB Investimentos, em entrevista em março.
O dólar, por se tratar de uma moeda usada como padrão em contratos internacionais, acaba tendo muito mais oferta no mercado que o euro. Além disso, o câmbio americano é usado como reserva internacional em bancos centrais de todo o mundo.
De acordo com levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado em maio de 2021, o dólar representa 59% das reservas internacionais de outros países. O euro, desde sua criação, tem flutuado em torno de 20%.