Sem pressão, Maria Suelen Altheman vira a chave por feito inédito em Tóquio
Judoca conta viver hoje um sentimento completamente oposto ao que sentiu há quase cinco anos, na Rio 2016
A judoca Maria Suelen Altheman, 32, conta viver hoje um sentimento completamente oposto ao que sentiu há quase cinco anos, na Rio 2016.
Na ocasião, ficou marcada a imagem da atleta chorando e escorada no técnico da equipe feminina de judô, Mario Tsutsui, logo após a derrota para a sul-coreana Minjeong Kim por yuko (pontuação mínima do esporte), justamente no dia de seu aniversário, em 12 de agosto.
Durou somente quatro minutos um ciclo olímpico de quatro anos que contava com a superação de uma grave lesão sofrida em setembro de 2014, quando rompeu os ligamentos cruzado anterior, colateral lateral e colateral medial do joelho direito.
“Existia uma pressão por voltar, por estar em casa. Não deveria ter chamado isso para mim, mas não soube como controlar. Hoje estou mais leve”, disse à reportagem.
Em Tóquio após vencer acirrada seletiva com Beatriz Souza, nove anos mais nova, a peso-pesado que jamais temeu expor exatamente tudo aquilo o que sente também é franca ao dizer sobre o futuro e dos planos longe do esporte. Não há mais pressões para ela.
“Essa é a minha última Olimpíada. [O esporte] Desgasta demais, tenho um corpo bem remendado e outros planos futuros agora”, relata.
No início da madrugada desta sexta (30/7), ela estreia nas Olimpíadas de Tóquio, na categoria acima de 78 kg. A adversária ainda não está definida.
“Meu treino é baseado na força. Sempre quis me dedicar muito a ser atleta para depois ter a minha família. Quero ser mãe [depois de 2021] e ou é 100% atleta ou 100% mãe”, completa.
Ao ser derrotada em casa, no Rio de Janeiro, Suelen sentiu que era momento para mudanças. Durante o último ciclo olímpico, trocou quase tudo o que a cercava: clube, nutricionista, técnico e até o psicólogo, que deu lugar a um coach que lhe ajuda com trabalhos motivacionais.
“A única coisa que não troquei foi o meu preparador físico [Thiago Rodrigues, desde 2006 com a atleta]. Saí de Santos [da Unimes] e vim para o Pinheiros. O coach [Elison Dantas], por exemplo, me sugere fazer outras coisas: ler mais, passear mais, viagens curtas”, conta.
O plano tem dado certo até aqui. A fase mais relaxada para a atleta que se classifica como “pilhada” e “competitiva ao extremo” resultou numa façanha inédita às vésperas da estreia na competição: a vitória contra a cubana Idalys Ortiz, medalhista nas últimas três Olimpíadas (bronze em Pequim-2008, ouro em Londres-2012 e prata na Rio-2016) e maior algoz de sua carreira.
“Quando se fala de Olimpíada, não se fala só de uma atleta. Ela (Ortiz) tinha um jogo que me incomodava muito, gosto de ajustar a minha pegada. Eu só entro no golpe na certeza, mas ela não deixava. O meu físico sempre foi muito bom, mas treinei a minha cabeça. Era a parte mental”, explica.
A vitória sobre Ortiz foi resultado de resiliência. Até ali, eram 17 derrotas em 17 confrontos entre as duas. O esforço foi premiado com a medalha de bronze na etapa de Budapeste do Mundial, na Hungria, no último mês.
“Isso já é página virada. Decidiu vaga olímpica, mas talvez nem encontre com ela nas Olimpíadas. Há muitas adversárias ótimas, que não conseguiam ranking, mas que depois do Rio evoluíram”.
Durante a pandemia, Suelen precisou improvisar. Ela utilizou a academia do marido, professor de muai thay, com a ajuda de cinco amigos judocas para treinar. A tática funcionou. “Na primeira competição depois, dava para ver todos os atletas sentindo muito, bem abaixo”.
Além disso, ela acredita ter tido significativo ganho técnico nos últimos meses pela influência de Leandro Guilheiro e Tiago Camilo, contratados pelo Pinheiros. “Eles entendem muito, temos um diálogo de atleta e isso faz muita diferença”.
Medalhista em campeonatos mundiais e em dois Pan-Americanos (bronze em Guadalajara-2011 e Toronto-2015), Suelen agora, de mente renovada e sem pressão, pode, enfim, conquistar o feito inédito da carreira. “Sou feliz por minha história no judô, mas ainda me falta essa medalha”, completa.
Matéria escrita por Klaus Richmond