Seleção se mobiliza após desabafo de Neymar e põe saúde mental em debate – Mais Brasília
FolhaPress

Seleção se mobiliza após desabafo de Neymar e põe saúde mental em debate

Em entrevista, jogador disse que a Copa do Mundo do Qatar pode ser a sua última

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Cerca de duas mil pessoas se aglomeraram do lado de fora do Estádio da Colina, em Manaus, para tentar ver o mínimo que fosse do treino desta terça-feira (12/10) da seleção brasileira. Cada vez que dava para ver por entre as grades de proteção Neymar correndo no campo era uma gritaria só. Os cantos “Neymar, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver” e o simples “Neymar, Neymar” duraram quase a uma hora e meia da atividade.

Em meio à óbvia missão de ser a maior estrela do time e ao peso que carrega um jogador com sua importância no futebol internacional, Neymar deu mostras nesta semana de que não está tudo bem. Numa entrevista ao Dazn, que repercutiu mundo afora, disse que a Copa do Mundo do Qatar pode ser a sua última, porque ele não sabe se terá “mais condições, de cabeça, de aguentar mais futebol.”

Não bastasse o tema ter bombado durante um período de jogos da seleção, outro ingrediente impulsionou o nome de Neymar a virar o centro das atenções: um áudio vazado durante a transmissão da Globo de Colômbia x Brasil, no domingo (10/10), supostamente traz o narrador Galvão Bueno chamando Neymar de “idiota” durante entrada do repórter Eric Faria. Não é certeza nem que a ofensa foi feita, nem que a voz era de Galvão, mas o caso entrou no pacote de reclamações de familiares e amigos do jogador que veem desrespeito do mundo do futebol a Neymar.

O próprio camisa 10 da seleção já desabafou sobre o assunto em setembro. Desde então, o tema cresce de importância nos bastidores da equipe e levou a manifestações públicas nos últimos dias, de jogadores como Fred e Thiago Silva. Apesar de não acontecer de um modo formal, o debate sobre saúde mental motivado pelo desabafo de Neymar tem sido uma realidade no dia a dia da equipe.

Influenciadores seguidos nas redes sociais por jogadores e membros da comissão técnica da seleção brasileira fomentam esta discussão. Um dos pontos levantados é de parte da mídia massacrar atuações ruins, tratando jogadores como vilões. Outro, diz respeito ao tratamento supostamente diferente que teve o desabafo de Neymar quando comparado à ação da ginasta Simone Biles, que desistiu de disputas nos Jogos Olímpicos de Tóquio por questões psicológicas.

“As pessoas só pensam no lado delas, esquecem do lado humano”, disse o zagueiro Thiago Silva, que postou na internet uma declaração de apoio a Neymar indicando que o companheiro de seleção vive um momento de vulnerabilidade e ainda concedeu entrevista coletiva em que alguns minutos foram dedicados a respostas sobre Neymar.

“Embora a gente saiba que a gente [seleção brasileira] sofre pressão de todos os lados, é uma pressão diferente [sobre Neymar], parece direcionada, pessoal. Se tem deixado de lado o que ele vem fazendo dentro de campo e focando em outras coisas que não são interessantes (…) Fica uma cobrança muito forte de coisas que não têm nada a ver”, disse o veterano do Chelsea.

Tite e sua comissão técnica têm preocupação com o lado emocional dos jogadores que comanda. O técnico saiu em defesa de Neymar depois do jogo contra a Colômbia, no domingo, negando que ele esteja em má fase e atribuindo à boa marcação adversária a má atuação: “As expectativas em cima dele talvez sejam de que faça toda hora excepcionalidade e diferença. É um jogador excepcional porque faz jogadas excepcionais excepcionalmente, não corriqueiramente.”

Apesar de tais preocupações, a comissão técnica da seleção não tem um profissional de psicologia esportiva. Tite já chegou a declarar que considera curtas as janelas para jogos da equipe e que, portanto, não haveria tempo para o trabalho ter efeito. Por meio da sua plataforma de cursos, a CBF promoverá entre este mês e novembro um curso de psicologia esportiva que fala sobre prevenção e cuidados com a saúde mental no futebol, entre outros temas.

No dia a dia de irritação com a imprensa ou em discussões mais elaboradas, a seleção vive de perto um assunto que aos poucos também deixa de ser tabu na sociedade. Ao mesmo tempo, se preocupa com o jogo de amanhã (14), às 21h30 (de Brasília), contra o Uruguai, pela 12ª rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar. A vaga no Mundial – o último que Neymar garante participação – está próxima.

Por Gabriel Carneiro