Medina, sem Yasmin, tenta levar temporada dominante ao pódio das Olimpíadas
Em seis etapas até o momento, surfista chegou à final em cinco e venceu duas
Não fosse a polêmica decorrente do veto ao credenciamento de Yasmin Brunet na delegação olímpica brasileira, Gabriel Medina chegaria a Tóquio badalado por outro assunto: a temporada excepcional que faz na WSL (World Surf League) em 2021.
Bicampeão mundial (2014 e 2018), o brasileiro tem dominado o circuito na busca pelo tricampeonato. Em seis etapas até o momento, ele chegou à final em cinco e venceu duas. Na classificação geral, lidera o ranking com 46.720 pontos –Italo Ferreira, segundo colocado, tem 33.555.
Poderia ser discutido o que o surfista fez de diferente para brilhar como nunca na perna australiana do calendário, ou ainda sua motivação para a estreia do surfe no programa dos Jogos Olímpicos. Mas não são esses assuntos que uma pesquisa na internet pelo nome do atleta apresentará como resultados.
Desde junho, quando Medina falou pela primeira vez sobre o tema em entrevista à CNN, sua participação em Tóquio foi pautada pela impossibilidade do credenciamento de Yasmin, sua esposa, como treinadora.
Ele reclamou do COB (Comitê Olímpico do Brasil), e a modelo, mais ainda. A entidade argumenta que Medina havia concordado com a inscrição do treinador australiano Andy King, que o acompanhou no circuito nos últimos meses, e que Yasmin não teria qualificação técnica comprovada para ocupar a vaga.
Devido à pandemia de Covid-19, turistas não podem entrar no Japão, e o credenciamento de delegações para as Olimpíadas de Tóquio foi bastante restrito. As limitações provocaram atritos em diferentes modalidades, mas nenhum caso reverberou tanto quanto esse, envolvendo duas celebridades.
Assim, antes mesmo de começarem, os Jogos saíram da bolha dos espectadores ávidos por esportes e alimentaram a produção de memes relacionados a Medina e Yasmin. Parecia que o assunto não acabaria nunca. No aeroporto, prestes a embarcar, ele afirmou ao UOL que sem a esposa não iria completo ao Japão. “É chato, não estou indo 100%. É ela quem me dá força, e eu gosto de estar junto dela.”
O COB também voltou a se posicionar sobre o tema. “Fomos bem transparentes com ele. Sei que a Yasmin não entendeu, passou a impressão de que o COB estava perseguindo. Se no início do ano, quando pedimos para indicar os nomes, ele tivesse indicado a Yasmin, talvez não tivesse esse problema. Mas ele indicou o técnico australiano”, disse o chefe de missão, Marco La Porta.
Polêmica superada ou não, agora o atleta está no Japão para disputar o primeiro torneio de surfe da história das Olimpíadas. Diante de tudo o que já fez no mar em 2021, ele será o favorito, ainda que Italo Ferreira, John John Florence, o atleta da casa Kanoa Igarashi, entre outros, sejam concorrentes à altura.
A primeira chamada da competição está marcada para as 19h deste sábado (24), no horário de Brasília. O programa original prevê as disputas por medalhas na terça (27), mas há quatro dias a mais de janelas abertas para continuar a competição caso as condições de ondas não favoreçam.
A ausência delas na praia de Tsurigasaki nesta época do ano é um dos grandes temores da organização dos Jogos e também dos surfistas. Por enquanto, eles só puderam treinar nas “marolas”. A previsão da chegada de um tufão, no entanto, tem o potencial de mudar esse quadro nos próximos dias.
Independentemente do tamanho das ondas, se o episódio recente não tiver tirado seu foco, Medina tem tudo para se dar bem nos Jogos e quem sabe voltar a ganhar repercussão por seus feitos esportivos.
Ele se preparou para isso. Parou de comer carne vermelha e cumpriu o cronograma estabelecido para perder peso, já que estar mais leve ajuda em ondas menores. O trabalho com King também o ajudou a evoluir. “Ele é um cara do bem e entende muito de surfe. Assim como eu, é goofy [surfa com o pé direito na frente da prancha]. Está sempre positivo e, tecnicamente falando, me ajudou a corrigir coisas em que eu não prestava tanta atenção”, afirmou Medina.
Apesar da polêmica ter tomado conta, quem acompanhou as etapas do circuito em 2021 viu um Medina mais leve viajando na companhia de Yasmin. Até 2019 -a temporada 2020 foi cancelada-, ele estava sempre com Charles, seu padrasto e ex-treinador. “Tenho feito coisas diferentes dos anos passados, tenho vivido mais como ser humano. Mas sempre fui assim, sou isso aí, gosto de dar risada, conversar e me divertir. Não sou uma máquina de competição. Não quero ficar igual ao Kelly [Slater], 40 anos no tour. Nunca se sabe até quando eu vou [surfar profissionalmente], então me deixa aproveitar como eu quero.”