DJ do vôlei nas Olimpíadas leva ‘didididiê’ ao mundo, exalta Anitta e veta letra ‘suja’
DJ austríaco transformou-se no sétimo jogador de vôlei e ainda despertou curiosidade pelo repertório de hits brasileiros
Como o “didididiê” (“Cheia de Manias”) do Raça Negra foi parar na arena de vôlei das Olimpíadas de Tóquio? Um DJ austríaco transformou-se no sétimo jogador das seleções de vôlei nos Jogos e ainda despertou a curiosidade nas transmissões pelo repertório de hits brasileiros.
Com a seleção brasileira (masculina ou feminina) em quadra, a playlist de Michael Staribacher, 42, conhecido como DJ Stari, tem Anitta, Pabllo Vittar, Raça Negra, Marília Mendonça, Tim Maia e dezenas de outros cantores brasileiros.
Em entrevista, nas cadeiras da silenciosa arquibancada da Arena Ariake, DJ Stari revelou um pouco de sua caixa de segredos musicais, reverenciou a obra brasileira e contou como se preparou diante de um cenário inédito de arena vazia em Tóquio.
“Raça Negra é ótimo. Conheço a banda há muito tempo, tem lindas músicas”, diz.
Ele reverencia Anitta: “É única na minha opinião. No momento, a artista brasileira mais conhecida no mundo. Ela faz sucesso não só dentro do Brasil, mas nos EUA, na Europa, todo mundo conhece Anitta”.
Stari destila elogios ao trabalho da Pabllo Vittar, que aparece durante a atuação de Douglas em quadra. “Sou muito fã da Pablo. Não a conheço há muito tempo, mas é música muito bem produzida. É algo especial, sabe o que faz’, diz.
DJ Stari é um veterano de Olimpíadas. Anima as partidas de vôlei desde Atenas-2004. Tóquio é sua quinta participação.
Sem torcida para empolgar desta vez, devido à pandemia da Covid-19, ele decidiu pesquisar as músicas de cada país do torneio de vôlei e tocá-las durante os duelos para os atletas e os espectadores das transmissões.
“O meu trabalho é entreter o público dentro das arenas. Só que agora (arenas vazias) é muito diferente do meu conceito de música. Então procurei algo especial para fazer com que cada time se sentisse num jogo em casa”, explica.
O processo de seleção das músicas inclui enquetes com amigos desses países, atletas das seleções e pesquisas na internet.
“Tento entender todas as músicas que toco, saber um pouco do que tem por trás. Conheço muitos atletas, e fico em contato com eles, perguntando o que está ouvindo agora”, diz.
Ele conta que a brasileira Tandara, da seleção feminina, sugeriu que tocasse “Baby me Atende”, parceria dos sertanejos Matheus Fernandes e Dilsinho. Outra sugestão foi “Tipo Gin”, de MC Kevin o Chris.
“Tento sempre traduzir e checar, primeiramente, se a música é apropriada, porque a brasileira, na verdade, às vezes não é tão fácil, vocês sabem disso. Há muitas palavras sujas”, diz o DJ.
Ele também afirma se preocupar em saber quem são os artistas. Stari vetou da sua lista, por exemplo, o DJ Ivis, que foi preso após aparecer em vídeos agredindo a mulher. “Sei da história dele porque é meu trabalho. Simplesmente não toco”, declara.
Segundo o austríaco, sua atuação nos Jogos de Tóquio tem repercutido tanto no Brasil como em nenhum outro lugar.
“A música brasileira é muito especial. A música é mais importante para brasileiros que em qualquer outro país. Eu toquei muitas músicas em eventos esportivos e os brasileiros são os que mais reagem”, afirma.
“O vôlei é bem importante no Brasil. Como sou a pessoa que pode combinar música com vôlei, estou sendo muito reconhecido no país”, acrescenta.
Dois brasileiros são lembrados constantemente na playlist do DJ nas partidas da seleção: Isac e Douglas.
Para Douglas, a escolha é “Zap Zum”, de Pabllo Vittar. Já Isac é recebido ao som de “Isaac”, do cantor de reggae Edson Gomes.
Segundo o DJ, seu repertório ajuda a motivar os jogadores em quadra. “Eu não só acho, como sei disso, porque os atletas me dizem. Eles se divertem e se motivam. Minha filosofia é que não quero tocar a música boa, mas também a certa nos momentos certos”.
Ele discorda ser o ‘sétimo’ jogador em quadra. “Não diria isso. Sou neutro, toco música brasileira quando o Brasil joga, a italiana com a Itália. Eu tento celebrar o vôlei internacional.”
O austríaco diz que, fora do período olímpico, ocupa metade do seu tempo com eventos esportivos e o vôlei é, de longe, o que mais tem sintonia com músicas na arena.
“É o melhor para entreter com música, no bloqueio, no saque, no corte. Numa situação dramática, a música vai ser mais poderosa”, diz.
O DJ conta que toca “Sweet Caroline” nos jogos da seleção em homenagem ao treinador do time masculino Renan Dal Zotto desde a conquista da Liga das Nações, em junho.
Ele atendeu a um pedido feito pela comissão técnica na ocasião. A canção era ouvida pelo técnico quando se recuperava da Covid-19.
A versão reproduzida é uma remixagem feita pelo próprio filho do treinador, Enzo. “Vou tocar sempre que o Brasil ganhar”, avisa Stari.
Matéria escrita por Leandro Colon e Camila Mattoso