Brasil atropela e vai à final do vôlei nas Olimpíadas horas após corte de Tandara
Vaga na final também garantiu a campanha com o maior número de medalhas do Brasil na história dos Jogos Olímpicos
Se existiam dúvidas sobre como a seleção brasileira feminina de vôlei reagiria ao corte de Tandara no mesmo dia da semifinal das Olimpíadas de Tóquio, a resposta veio logo de cara diante das coreanas: com uma atuação arrasadora para garantir vaga na decisão em busca do tricampeonato olímpico.
A vaga na final também garantiu a campanha com o maior número de medalhas do Brasil na história dos Jogos Olímpicos. São 20 presenças no pódio asseguradas, superando as 19 da Rio-2016.
Além da seleção feminina de vôlei, a seleção masculina de futebol e os boxeadores Hebert Souza e Beatriz Ferreira ainda descobrirão as cores de suas medalhas nas decisões dos próximos dias.
No domingo, à 1h30 (de Brasília), o último capítulo da trajetória verde-amarela no Japão será contra os Estados Unidos.
O placar de 3 sets a 0 ( 25/16, 25/16 e 25/16) nesta sexta-feira (6) fez a partida que garantiu mais uma medalha para o vôlei do Brasil parecer protocolar, mas as horas anteriores não tiveram nada de marasmo.
A equipe foi surpreendida com o corte da sua oposta titular na madrugada desta sexta-feira, no horário do Japão (tarde de quinta no Brasil). O COB (Comitê Olímpico do Brasil) informou ter recebido uma notificação da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), por email, sobre a suspensão provisória da atleta por potencial violação de regra antidoping.
O vice-presidente do COB, Marco La Porta, chefe da delegação brasileira, acionou o técnico Zé Roberto. Houve consenso formado para que Tandara retornasse ao Brasil, enquanto dirigentes tentavam blindar o restante da equipe sobre a notícia.
“Montamos uma estratégia que, de alguma forma, tivesse o menor impacto possível na equipe psicologicamente”, afirmou La Porta à reportagem.
A comissão técnica se reuniu com atletas, mais tarde, para comunicar o episódio, e o time fez um pacto de não se manifestar nas redes sociais sobre o tema e se concentrar apenas no jogo.
A concentração esteve visível durante todo o confronto. Rosamaria, a substituta de Tandara que já havia feito a diferença nas quartas de final, terminou com 10 pontos.
A maior pontuadora do Brasil foi Fernanda Garay, com 17. A outra ponteira titular, Gabi, em mais uma atuação produtiva no passe e no ataque, terminou com 12 pontos.
A fragilidade das sul-coreanas inclusive naquilo que deveria ser seu ponto mais forte, a defesa, também facilitou a vida para o Brasil. O máximo que as coreanas conseguiram brigar ponto a ponto foi até 10 a 10 do segundo set. Fora isso, o lado verde-amarelo sempre ficou na dianteira.
Campeã olímpica em Pequim-2008 e Londres-2012, a seleção brasileira chegou ao Japão sob desconfiança cinco anos depois do seu pior resultado em 28 anos nos Jogos: a queda nas quartas de final na edição do Rio de Janeiro. Além disso, a equipe atravessou um ciclo atormentada por lesões e maus resultados, como o sétimo lugar no Mundial de 2018.
Houve baixas importantes no elenco, como as centrais bicampeãs Thaisa, que se aposentou da seleção em abril, e Fabiana, que recentemente teve um filho.
Estados Unidos, Sérvia, Itália e China desembarcaram no Japão como principais cotados ao pódio. Surpreendentemente, a equipe chinesa, atual campeã olímpica, foi eliminada na primeira fase. As sérvias tiraram as italianas nas quartas e perderam para os EUA na outra semifinal.
A seleção brasileira chegou ao mata-mata de forma invicta e com um caminho teoricamente mais tranquilo. Nas quartas, superou a Rússia por 3 sets a 1 e marcou encontro com as coreanas, que protagonizaram outra surpresa ao eliminarem a Turquia.
Em busca do título, o Brasil terá seu maior desafio contra os Estados Unidos no domingo.
No último torneio antes das Olimpíadas, a Liga das Nações, realizada entre maio e junho deste ano na Itália, o Brasil foi vice-campeão após perder a decisão para as americanas, por 3 sets a 1 –também havia perdido na primeira fase.
A boa lembrança para Zé Roberto está nos títulos olímpicos de 2008 e 2012 sobre a equipe dos EUA, além da medalha de bronze nos Jogos de Sydney-2000.
Matéria escrita por Carlos Petrocilo e Daniel E. de Castro