Ana Marcela celebra o ouro como coroação do papel da mulher no esporte e na sociedade
No parque marinho Odaiba, ela garantiu a oitava medalha feminina do Brasil, superando o recorde de sete pódios em Pequim-2008
Ana Marcela Cunha, 29, celebrou o ouro conquistado na maratona aquática como a coroação de sua carreira e, principalmente, do papel da mulher no esporte e na sociedade. No parque marinho Odaiba, ela garantiu a oitava medalha feminina do Brasil, superando o recorde de sete pódios em Pequim-2008.
“A mulher pode ser o que ela quiser, onde quiser e como quiser. [A medalha] também é fruto do tanto que a gente vem recebendo de ajuda por igualdade”, disse a campeã olímpica em entrevista coletiva. Em Tóquio, além de Ana Marcela, Martine Grael e Kahena Kunze, na vela, e Rebeca Andrade, na ginástica, ganharam o ouro. A ginasta brasileira também conquistou uma medalha de prata no individual geral.
Rayssa Leal, no skate, garantiu outra prata, e, no judô, Mayra Aguiar ficou com o bronze, assim como a dupla de tenistas Laura Pigossi e Luisa Stefani. Há, ainda, a medalha de Beatriz Ferreira, que avançou à semifinal do boxe e, assim, garantiu ao menos o terceiro lugar –a boxeadora é favorita na briga pelo ouro.
“O COB [Comitê Olímpico do Brasil] está agindo de acordo com a meritocracia das coisas, e as mulheres estão vindo com gostinho especial”, afirmou Ana Marcela.
Após completar a prova de 10 km, a nadadora entrou no salão reservado à imprensa bastante sorridente.
O novo visual, com o cabelo tingido com as cores verde e amarela, é, segundo ela, uma maneira de relaxar antes da competição. “Às vésperas dos Mundiais, das Olímpiadas, eu me distraio com um novo corte. Às vezes o meu técnico fala para descansar, e estou lá pintando o cabelo. É uma distração”, disse ela.
“Muito feliz por ser campeã olímpica e nunca imaginei estar agora aqui. Nessa final, tentei ser europeia, agir com frieza, porque nós, latinos, somos muito emoção”, afirmou a brasileira, ao lado da holandesa Sharon van Rouwendaal, prata em Tóquio e ouro no Rio. A australiana Kareena Lee completou o pódio.
Eleita seis vezes a melhor atleta do mundo em maratona aquática, a baiana acumula 12 pódios em mundiais, mas deixou os Jogos de Pequim-2008 e do Rio-2016, respectivamente, em quinto e décimo lugar. Para Londres-2012, ela não conseguiu se classificar.
“Consegui realizar hoje o meu 100%. Não teve essa de chegar depois da prova e pensar ‘poxa, poderia ter feito um final de prova melhor, poderia ter esperado para ‘sprintar’. Só que hoje vim para ser campeã olímpica. Falei para o Fernando [Possenti, técnico], estou pronta”, afirmou a brasileira.
Para as Olimpíadas de Tóquio, a atleta trocou Santos (SP) pelo Rio de Janeiro. Lá, instalou-se em um apartamento com vista para o centro aquático Maria Lenk, no qual funciona o laboratório do Comitê Olímpico do Brasil. Na reta final da preparação, ela e o treinador permaneceram durante 50 dias no Centro de Alto Rendimento de Sierra Nevada, no sul da Espanha, a 2.320 metros acima do mar.
“Disse ao Fernando: para alguém ganhar de mim em Tóquio terá que estar melhor treinada. Sou motivada por provocação, teve quem me colocou como terceiro, segundo, mas nunca como campeã olímpica”, disse. “Sempre acreditei nos meus sonhos. Nos sonhos da minha família. Sou uma pessoa muito realizada, principalmente por ter pessoas ao meu lado. Isso me fez continuar, mesmo não ganhando em 2008, não indo em 2012. Mesmo sendo decepção para alguns brasileiros em 2016.”
Hoje, disse a medalhista de ouro, “ser campeã olímpica representa toda a minha história”. “Quantas vezes conquistei Mundiais, mas o ouro serve para coroar a minha carreira.”
Por Carlos Petrocilo