Entenda como 'Não Olhe para Cima' foi financiado graças a incentivos fiscais – Mais Brasília
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Entenda como ‘Não Olhe para Cima’ foi financiado graças a incentivos fiscais

“Não Olhe para Cima” teve apoio financeiro de órgãos governamentais

Filme 'Não Olhe Para Cima'
Foto: Divulgação

Lançado na véspera de Natal, o filme “Não Olhe para Cima” é um sucesso absoluto da Netflix. Com elenco estrelado, encabeçado por Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence, a sátira em que a Terra está prestes a ser atingida por um meteoro está entre os títulos mais vistos da plataforma atualmente.

Não é possível medir, no entanto, a audiência do longa com precisão, já que a plataforma é conhecida por apenas divulgar os dados que lhe convêm. Entre eles, neste caso, está também o orçamento de “Não Olhe para Cima”.

Segundo sites especializados em compilar esse tipo de informação, ele beiraria os US$ 75 milhões, ou cerca de R$ 422 milhões –mas, com uma dupla protagonista que sozinha levou para casa US$ 55 milhões de salário, segundo indicado pela revista Variety, ele provavelmente tem uma cifra muito mais alta.

Apesar dessa natureza sigilosa, é possível saber que o longa de Adam McKay chegou às telas graças a uma série de incentivos fiscais, que financiaram boa parte da empreitada. O mecanismo, que no Brasil tem sido demonizado pela gestão Bolsonaro, é, na verdade, relativamente comum em Hollywood e em outros países.

Originalmente um projeto da Paramount, comprado pela Netflix antes de as filmagens começarem, “Não Olhe para Cima” teve apoio financeiro de órgãos governamentais americanos.

Assim como a plataforma, as instituições públicas envolvidas também não são obrigadas a compartilhar essas informações. A partir das regras que elas definem para entrarem num projeto, no entanto, é possível estimar o quanto aqueles US$ 75 milhões declarados vieram de incentivos fiscais públicos.

O primeiro órgão envolvido no financiamento é o Massachusetts Film Office, departamento cinematográfico do estado de Massachusetts, onde o longa foi gravado.

Ele se dispõe a arcar com 25% da folha de pagamento, além de garantir isenções fiscais, desde que a produção se comprometa a gastar metade de seu orçamento no estado –ou então gravar metade de suas cenas por lá, gerando empregos e ajudando a desenvolver a economia local.

Já o departamento de televisão, cinema, música e entretenimento do Distrito de Colúmbia, onde fica a capital Washington, que também recebeu a equipe do filme, prevê até 35% de abatimento nos gastos tributáveis tidos naquela localidade. Para isso, “Não Olhe para Cima” precisou gastar ao menos US$ 250 mil de sua verba em Colúmbia e gerar empregos à população local.

O longa também conseguiu incentivos com o governo canadense, mais especificamente com o distrito da Colúmbia Britânica, que ajudou a financiar a pós-produção e é um verdadeiro polo cinematográfico para essa etapa final dos filmes –o que gera empregos e atrai mão de obra especializada e, portanto, moradores com alto poder aquisitivo para a região.

Assim, com os gastos básicos garantidos com financiamento público, a Netflix possivelmente teve mais liberdade para assegurar um elenco grandioso do seu próprio bolso.

Isso porque não se permite que a verba pública liberada para o projeto cubra super-salários como os que Meryl Streep, Cate Blanchett e Timothée Chalamet provavelmente embolsaram por suas participações coadjuvantes em “Não Olhe para Cima”.

É importante frisar que os mecanismos de incentivo de que o longa lançou mão não são estranhos a Hollywood. Vários outros filmes e séries americanos obtêm ajuda financeira de órgãos públicos, dentro e fora dos Estados Unidos –e muitos vão buscar financiamento até mesmo na Ásia, principalmente na China e na Coreia do Sul, países com governos que têm tornado a produção cultural uma prioridade.

Para saber se houve incentivo envolvido num título, basta ficar de olho nos créditos finais antes de sair da sala de cinema. Quando eles estão acabando, é comum notarmos selos de órgãos como o Massachusetts Film Office, o que indica que aquele título recebeu algum tipo de auxílio fiscal.

No distrito canadense de Colúmbia Britânica, por exemplo, atualmente estão sendo produzidos –e, portanto, estão recebendo incentivos fiscais– “Peter e Wendy”, versão em live-action da Disney para “Peter Pan”, e a sequência de “Sonic – O Filme”. No passado, passaram por lá as franquias “Crepúsculo”, “Planeta dos Macacos” e “Deadpool”.

As leis de incentivo que “Não Olhe para Cima” e tantos outros utilizam têm um princípio semelhante àquele de órgãos regionais como a Spcine, que ajuda a viabilizar produções que tenham São Paulo como cenário.

A lógica de entidades do tipo é de que, além de gerar empregos, o incentivo ainda põe a cidade numa vitrine, atraindo turistas e investidores. Como num ciclo, portanto, a aplicação de dinheiro ajudaria a trazer de volta mais dinheiro.

Por Leonardo Sanchez