‘É como recomeçar a carreira’, diz Claudia Raia sobre retorno aos palcos em musical
"Voltar é uma alegria imensa, incomensurável", disse a atriz
A última vez que Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello colocaram os pés em um palco foi em março de 2020, em Portugal, com a peça “Conserto para Dois, o Musical”. Um ano e meio depois, o casal retorna ao teatro pela primeira vez e com o mesmo espetáculo, desta vez em São Paulo, em estreia nesta sexta (1º).
“Voltar é uma alegria imensa, incomensurável. Trazer um pouco de entretenimento, alegria, risada e sonho para um público que está trancado em casa é gratificante”, afirma Claudia Raia à Folha de S.Paulo.
Casados desde 2018, Claudia e Jarbas se dizem ansiosos pelo retorno. “É como começar de novo”, afirma Jarbas. “Começando a carreira de novo”, interrompe Claudia, rindo, sobre a situação inédita na trajetória de ambos, que ficaram 18 meses longe dos palcos.
Eles contam que, durante a pandemia, reformularam o espetáculo “para deixá-lo mais ágil”. E voltaram a ensaiar intensamente há duas semanas, de cinco a seis horas por dia, pois dizem que perderam o ritmo.
“Estamos correndo atrás do fôlego e da agilidade perdidos, porque é um espetáculo dinâmico. Nós dançamos, cantamos e interpretamos 12 personagens. É difícil para o ator manter essa agilidade”, diz Claudia. “A equipe técnica também saiu do ritmo, estamos todos retomando o fôlego”, acrescenta.
Inspirados em “O Mistério de Irma Vap”, espetáculo que ficou por anos em cartaz e onde Marco Nanini e Ney Latorraca se revezavam em diversos papeis com trocas de figurinos super rápidas, Claudia e Jarbas pediram a Anna Toledo, que escreveu o texto, para fazer uma “Irma Vap” musical.
“Foi uma inspiração, não foi extraído nada da história [de ‘Irma Vap’], mas foi extraída a dinâmica. Temos trocas de figurinos inteiros em oito a dez segundos”, conta Claudia Raia. “Estamos ensaiando a todo vapor para entregar um espetáculo bonito nesse 1º de outubro”, enfatiza a atriz de musicais como “O Beijo da Mulher-Aranha” (2000), “Cabaret” (2011-13) e “Raia 30” (2015-16).
Na trama, o famoso escritor de best-seller Ângelo Rinaldi (Jarbas) embarca em uma viagem de navio para superar o divórcio, mas acaba se deparando com uma paixão avassaladora do passado, a diva de cinema e celebridade internacional Luna de Palma (Claudia). Outros personagens entram na história, também baseados em pessoas reais, sempre interpretados pelo casal.
Claudia Raia conta que o público tem curiosidade em saber de onde vieram os personagens. “A gente tem postado nas redes sociais de onde tiramos essas figuras, porque o público gosta de saber desse backstage, de onde o ator bebe e se inspira.”
Claudia Raia interpreta papéis masculinos e femininos, assim como Jarbas Homem de Mello. A atriz relembra de apresentação em Porto Alegre, antes da pandemia, quando sua sogra estava na plateia e não percebeu que a personagem Dona Socorro era interpretada por Jarbas, seu filho.
“Ela falava: ‘Que horas essa mulher vai sair do palco para eu ver meu filho?’. Foi muito divertido! Ela também nem percebeu que aquela personagem era uma homenagem a ela”, diz Claudia, aos risos.
“O musical ‘Conserto para Dois’ é uma grande homenagem ao fazer teatral. Trabalha com a magia do teatro sem pirotecnia. É simplesmente a magia teatral”, finaliza Jarbas, que interpretou Charles Chaplin no musical “Chaplin” (2018-19).
Em 2020, o casal chegou a se apresentar com o musical em algumas cidades brasileiras -em São Paulo a peça é inédita-, e em Portugal o espetáculo ficou dois meses em cartaz. “A temporada foi um enorme sucesso”, afirma Claudia.
Quando a pandemia pegou o mundo de surpresa, eles ainda tinham duas apresentações em terras lusitanas, nas cidades de Aveiro e Figueira da Foz.
“Dormimos achando que ia ter espetáculo e acordamos com o país todo fechado”, conta a atriz. “Tivemos que colocar nosso cenário enorme e os figurinos em um container, porque tínhamos 24 horas para sair do país”, completa Jarbas. “Desde então, nunca mais voltamos aos palcos”, completa a artista.
‘ESTAR EM CENA É UM ATO POLÍTICO’
Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello lamentam a situação atual da cultura na administração do presidente Jair Bolsonaro.
“Muito difícil, muito triste. A cultura está esfaqueada no hospital, nas últimas. Uma pena que estamos andando para trás”, diz a atriz, que continua. “A arte sempre foi resistência. Nosso ato político é justamente estar em cena. Parado não conseguimos fazer muita coisa, mas em cena, é um ato político.”
Jarbas concorda. “Já passamos por coisas parecidas e sempre resistimos”, diz. “E sempre apontamos um caminho, a arte tem o poder de espelhar a sociedade e de fazer as pessoas se enxergarem no palco. Essa é a função da arte. Governos passarão, a arte vai ficar.”
Claudia Raia muda de assunto e fala da série que fará no ano que vem. A atriz deixou o elenco de “Além da Ilusão” (Globo), novela onde faria o papel da mãe de Larissa Manoela, para abraçar um papel “ótimo” em uma série sobre a qual ainda não pode dar detalhes.
“Foi uma atitude do [diretor José Luiz] Villamarim [de realocar a atriz]. Ele queria muito que eu fizesse a série. Se eu fizesse a novela, não poderia fazer outra coisa. Vai ser para o primeiro semestre de 2022.”
Mais acostumada a fazer novelas e peças, Claudia Raia diz que fazer uma série é um desafio animador. “O ator que gosta do seu ofício, como é meu caso, está sempre em busca de novos e bons personagens.”