Claudia Leitte diz querer que ‘os gringos ouçam nosso samba’
A artista diz que se vê como uma águia, no sentido que permite se reconstruir e não se imagina presa, em um cativeiro
Atrevida, ousada e sempre pronta para novos ares. É assim que a cantora Claudia Leitte, 41, enxerga sua trajetória de quase 20 anos e os próximos passos da carreira, sempre pautada por amor, representatividade e respeito. “Preciso me sentir fazendo isso, se não, não faz sentido nem acordar.”
A artista diz que se vê como uma águia, no sentido que permite se reconstruir e não se imagina presa, em um cativeiro. Em seu lançamento mais recente, “Samba Lento”, ela usa a ave como inspiração e se aventura unindo o samba com ritmos latinos como reggaeton, e com o funk e o trap. “Queria que os gringos ouvissem nosso samba.”
Na parceria com o cantor panamenho Joey Montana, 39, ela afirma que não teve medo, como já se portou em outras ocasiões. “Sou atrevida e ousada no sentido de ir além daquilo que eu mesma acho que sou capaz”, diz em entrevista por vídeo chamada à Folha de S.Paulo.
A ex-jurada do The Voice Brasil Kids (Globo) e The Voice+ (Globo) afirma que teve a sensação de liberdade e quis representar o poder das mulheres. Ela conta que devido à pandemia, a canção e o clipe foram feitos com equipe reduzida, e que a nova música conseguiu ter um processo mais intenso que “Agradece”, lançado em fevereiro deste ano com a banda Natiruts.
“Embora parecesse uma história de um casal, a música foi se revelando para mim uma busca por autoconhecimento”, explica a cantora. Ela comenta saber que todas as mulheres sofrem de alguma maneira e relembra que no começo de sua carreira teve receio de ser objetificada por homens.
“Quando comecei, lembro que me vestia de uma maneira diferente”, diz, “eu tinha medo de como iriam me objetificar, como os homens me olhariam”. Claudia afirma que através do clipe quer passar a mensagem de que mulheres “não nasceram para uma gaiola, assim como as águias não nasceram para o cativeiro”.
A artista comenta que se inspirou principalmente no mito da águia, que conta que ao se tornar velha, a ave voa para o alto de uma montanha e decide arrancar o próprio bico, penas e garras para se renovar e viver por mais algumas décadas. No entanto, também teve como referência uma frase icônica da cantora Cher, 75.
“Esse cara sou eu”, brinca a cantora citando a música de Roberto Carlos. Ela diz que tomou como referência a história que, ao ouvir sua mãe dizendo que precisaria encontrar um homem rico para tudo ficar bem, Cher respondeu: “Mãe, eu sou o homem rico”.
Claudia também diz que precisou se adaptar para fazer os lançamentos durante a pandemia de Covid-19. “Tô me virando, minha equipe é maravilhosa, mas… Um saco”, afirma. A artista comenta que agradece por poder trabalhar e sua família ter saúde, mas que a “música não pode ser um serviço eletrônico, música é gente junta e une pessoas”.
“Mas eu vou dizer, o processo criativo é sofrido viu?”, afirma. A cantora conta que o mais importante em sua carreira vai além de aplausos, mas sim a experiência e a sensação que ela passa para os fãs em seus shows. “Tá bem puxado. Essa música em particular [‘Samba Lento’] me levou por um caminho que me surpreendeu”, diz. “‘Agradece’ já foi libertador, mas essa foi algo surreal.”
A artista comenta que está “a flor da pele”. Recentemente, ela fez um show nos Estados Unidos e se emocionou, pois estava há um ano e cinco meses sem pisar nos palcos. Ela relembra que seu último contato mais próximo ao público foi no Domingão do Faustão (Globo), quando viu a plateia virtual. “Tive que me controlar para não parecer uma abestalhada na televisão.”
Quanto ao show, realizado em Orlando com a participação de nomes como Anitta, 28, e Xanddy, 42, ela precisou segurar a emoção e superar o desafio. “Quando acabou, eu era lágrima pura, parecia uma cachoeira emocionada”, brinca a artista, que compartilhou o registro em suas redes sociais.
“Renovou minhas esperanças e acentuou que ver gente feliz é o que me move! Que haja vacina para todos!”, escreveu na publicação. A artista afirma que aconselha a “não postar no calor do momento”, nas redes sociais. Claudia diz que publica o que tem a intenção de fazer o bem, mesmo se “levantar haters de suas catacumbas”, brinca.
“Eu já fui uma adolescente cantora, aspirante ao reconhecimento e fama”, comenta, “até que você descobre que o seu chamado te conecta, e não te separa de pessoas”. Ela costuma compartilhar registros de sua família e pautas importantes para ela. Para o futuro, a cantora promete muitas surpresas para os fãs, assim como “Samba Lento” foi.
Agora, ela permanece torcendo para que a vacinação avance na população brasileira e que a arte possa voltar. “Não podemos diminuir a importância do entretenimento em detrimento da importância da saúde”, diz. “É óbvio que tem seus graus, mas todo mundo precisa de alegria, comida, segurança, tudo! Precisamos de equilíbrio na vida e carnaval também.”
Por Mariana Arrudas