Casagrande diz que se sentiu isolado na Globo e que suas posições não tinham mais eco
O ex-jogador Walter Casagrande deixou de ser comentarista do Grupo Globo na quarta (6/7)
O ex-jogador Walter Casagrande, que deixou de ser comentarista do Grupo Globo na quarta (6/7), após 25 anos na emissora, participou do UOL Entrevista nesta quinta-feira (7/7) e explicou que um dos motivos para sua saída foi a falta de apoio em seus posicionamento mais contundentes.
“Hoje, não só a Globo, quase todos os lugares ficam pautados em cima das redes sociais. A rede social é uma guerra lá dentro, as pessoas e emissoras estão preocupadas com seguidores e pessoas que falam de um determinado assunto popular demais, que não interessa de forma social ou política, e isso não faz parte do meu perfil. Gosto de me posicionar politicamente e falar sobre a sociedade. Gosto de me colocar nas polêmicas dentro do próprio esporte como homofobia, machismo, assédio sexual e estupro. Tem jogador que estuprou uma menina, o Robinho, e tá na praia, no Guarujá”, disse Casagrande.
“O mundo está desse jeito, não é a questão da Globo. O meu caminho da separação com a TV Globo começou quando percebi que as minhas posições não tinham mais eco lá dentro, eco de companheiros. Antes existia continuidade no meu posicionamento, na minha crítica, e não tinha mais esse eco. Vocês escreviam o que eu falava, as minhas críticas, externamente se falava isso, mas internamente não. Eu acho que no final pesou pro meu divórcio, não é uma crítica porque as pessoas não são obrigadas a serem iguais. Isso é coisa minha”, acrescentou.
Pouco tempo depois, Casão voltou a falar sobre a saída da Globo. O colunista do UOL Mauricio Stycer perguntou se Casagrande concordava em estar deslocado na emissora. O comentarista reconheceu que estava se sentindo isolado -mas que isso não era um complô contra ele.
“Deslocado, um pouco isolado, mas não é um complô. As mudanças foram acontecendo e no meu modo de ver tudo é uma coisa muito profunda. Futebol pra mim não é engraçado, futebol é coisa séria, que me deu um caminho de vida. Ajudei minha mãe, fui construindo minha vida, dei estudos para os meus filhos graças ao futebol. Então não consigo fazer gracinhas com futebol”, afirmou.
“Eu nunca fui censurado. Nunca me falaram nada. O que eu senti foi que meus posicionamentos sociais, políticos, dentro da TV Globo não tinha mais eco interno, de meus companheiros, e antes tinha. Percebi que eu precisava parar ou diminuir isso. Eu tenho um estilo de vida, uma personalidade, característica como pessoa, que não deixo passa batido coisas importantes na sociedade ainda mais onde vivemos hoje. Participei da Democracia Corinthiana com 18 anos. Jogador de futebol tem que falar e colocar sua voz em prática. O futebol é o esporte mais popular do país e precisam falar coisas úteis, não é só festa e iate, a vida do povo brasileiro não é em mansão, não é andando de Ferrari. Nosso povo está passando fome, e o jogador de futebol atual ostenta nas redes sociais do que falar coisas e cobrar situações, se colocar como solidário. Falar alguma coisa pra população saber que eles existem. O futebol faz com que o torcedor raiz não se sinta pertencente àquilo”, concluiu.
Na Rede Globo desde 1997, Casagrande trabalhou em Copas do Mundo e Jogos Olímpicos. Além disso, participou dos programas ‘Bem, Amigos’, ‘Seleção SporTV’, ‘Troca de Passe’, ‘Redação SporTV’, ‘Esporte Espetacular’ e escrevia um blog no ge chamado ‘De Peito Aberto’.
Em setembro de 2007, o comentarista sofreu um grave acidente de carro e ficou em coma por 24 horas. Após se recuperar, ele foi internado em uma clínica para dependente de drogas por conta de seu vício em heroína e cocaína -consequentemente parando com as aparições na TV.
Seu retorno à televisão aconteceu em abril de 2009 no Arena SporTV. No mesmo ano retomou as transmissões de partidas de futebol e participou do Globo Esporte.
Antes de ser contratado na Globo, Casão teve uma passagem pela ESPN.