Veículos, vestuário, móveis; veja 11 setores da indústria que retrocederam neste ano
Produção das fábricas sinaliza perda de fôlego ao longo de 2021
Sob impacto de uma combinação de efeitos negativos, 17 das 26 atividades industriais registraram, em setembro, nível de produção inferior ao do pré-pandemia no Brasil. O resultado foi divulgado nesta quinta-feira (4/11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Na visão de analistas, o dado representa mais um sinal de perda de fôlego das fábricas, que sofrem com escassez de insumos, aumento de custos e dificuldades no mercado interno.
O ritmo mais fraco tomou forma ao longo deste ano. Prova disso é que, em janeiro de 2021, o número de atividades abaixo do patamar pré-pandemia -de fevereiro de 2020- era menor.
No primeiro mês deste ano, 7 das 26 atividades industriais estavam em nível inferior ao anterior à crise. Enquanto isso, outras 19 operavam em patamar acima ou igual ao de fevereiro de 2020.
A questão é que, dessas 19, 11 perderam fôlego ao longo do ano e ficaram, em setembro, em nível menor do que o anterior à pandemia.
A situação mais complicada é a do ramo de veículos automotores, reboques e carrocerias. No nono mês deste ano, a produção da atividade amargou nível 19,4% abaixo do pré-crise.
É a maior distância negativa, entre os segmentos, frente a fevereiro de 2020. A título de comparação, em janeiro de 2021 o setor de veículos estava em patamar 3,5% superior ao pré-pandemia.
Segundo André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE, o desempenho dessa atividade tem sido freado pela escassez de insumos. A falta de chips, por exemplo, chegou a paralisar linhas de produção de montadoras.
“A pressão negativa é significativa”, relatou.
Em setembro, a confecção de artigos do vestuário e acessórios ficou 14,6% abaixo de fevereiro de 2020, a segunda maior redução entre as atividades. Em janeiro deste ano, esse ramo registrava produção 11,1% maior do que no pré-pandemia.
Na sequência, aparece o segmento de móveis, que está 14,4% abaixo do período anterior à crise da Covid-19. Em janeiro de 2021, a atividade operava em nível 11,2% acima de fevereiro de 2020.
Para o economista Rafael Cagnin, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a perda de fôlego da confecção e de móveis reflete um conjunto de aspectos que vai desde a escassez de alguns insumos até a inflação e o desemprego elevados.
Os dois últimos fatores, sublinha o economista, diminuem o poder de compra de parte da população, o que respinga nas fábricas.
Os outros oito setores que perderam fôlego ao longo deste ano e ficaram abaixo de fevereiro de 2020 são os seguintes: couro, artigos de viagem e calçados, equipamentos de informática, produtos diversos, têxteis, borracha e material plástico, perfumaria, bebidas e outros produtos químicos.
O único setor que, em janeiro de 2021, estava abaixo do pré-crise e, em setembro, conseguiu superar esse patamar foi a indústria extrativa.
Conforme o IBGE, a produção industrial em setembro, em termos gerais, ficou em nível 3,2% inferior ao pré-pandemia.
Em janeiro de 2021, a diferença era positiva. Na ocasião, o setor operava em patamar 3,5% acima do pré-crise.
“O jogo virou. Foi da água para o vinho. Perdemos a recuperação vista a partir da metade do ano passado, e o setor segue caindo. O ano de 2021 não é de reação para a indústria”, aponta Cagnin.
Segundo o IBGE, apenas 9 dos 26 ramos industriais operavam, em setembro, acima do pré-pandemia. A maior distância positiva, frente a fevereiro de 2020, foi registrada por máquinas e equipamentos.
A produção do setor ficou em nível 19,9% acima do pré-coronavírus. Em janeiro deste ano, a diferença era de 16,2%.
De acordo com Macedo, o desempenho positivo reflete a demanda por máquinas e equipamentos nos setores agrícola e de construção.
Nesta quinta, o IBGE informou que a produção da indústria geral caiu 0,4% no país, em setembro, frente a agosto. Foi a quarta retração consecutiva frente ao mês imediatamente anterior.
“A indústria teve uma reação a partir da metade do ano passado, com a base de comparação baixa e medidas emergenciais de auxílio a empresas e famílias. Mas, agora, esse processo se esgotou”, analisa Cagnin.
“Temos ainda uma desarticulação das cadeias produtivas, aceleração da inflação, aumento de juros e desemprego que não cede”, completa.
Na opinião do economista, o quadro pode colocar em xeque a capacidade de investimentos das empresas para modernização dos processos produtivos.