Produtores de café especial apostam em origem para disputar mercado em ascensão
Além de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Paraná e Rondônia são estados que já possuem regiões com denominação de origem ou indicação de procedência, conforme dados do Inpi
Um café tem como diferencial ser produzido na sombra de áreas remanescentes de mata atlântica no Ceará. Outro aposta na tradição secular no setor e na altitude mineira para deslanchar. Um terceiro, por sua vez, é cultivado numa das regiões mais pobres do país, o Vale do Jequitinhonha, e tenta ganhar mercado.
Divulgar a origem do café, mostrando aos consumidores quem produziu e quais são as características daquele lote, é a mais forte aposta das regiões produtoras de cafés especiais do país.
Espalhadas por 12 estados, elas disputam um mercado que deve consumir 1,1 milhão de toneladas de café torrado neste ano.
Em média, cada brasileiro consome 835 xícaras por ano, ou 2,2 por dia, volume que deve chegar a cerca de 1.050 em 2025, conforme dados da Euromonitor, empresa que realiza pesquisas de mercado.
Minas Gerais, que responde por cerca de metade de todo o café produzido no país, tem oito dessas regiões produtoras especiais, como Mantiqueira de Minas e Cerrado Mineiro, que têm em comum a rastreabilidade de suas produções.
“O consumidor verá que o café foi feito e obtido de forma correta, em cada detalhe. Não adianta hoje só fazer bem feito, tem de ter sustentabilidade também”, afirmou Eduardo Gonçalves, coordenador de qualidade da Coopervass, de São Gonçalo do Sapucaí (MG), que está na região da Mantiqueira de Minas, que engloba 25 cidades e mais de 800 produtores.
Por meio de um QR Code nas embalagens, o consumidor é levado a um endereço em que conhece a história por trás da bebida que irá ingerir. Informações como município em que foi produzido, área, altitude, certificações, variedade, nota do lote, local de armazenamento dos lotes e processo de preparo são fornecidas ao comprador.
Para Gonçalves, o rastreio proporciona mais firmeza nos negócios, garantia de autenticidade e atende a demanda de exigência cada vez mais presente no mercado.
Para tentar abrir mercado de forma conjunta, os produtores se agrupam em marcas coletivas ou buscam obter no Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) a indicação de procedência ou denominação de origem de seus produtos.
A indicação de procedência se refere à localidade/região que se tornou conhecida como centro de fabricação do produto, enquanto a denominação de origem designa um produto cuja qualidade se deve ao meio em que está inserido.
Ainda em Minas, produtores do entorno de Poços de Caldas e do Vale do Jequitinhonha se uniram em marcas coletivas, com chamarizes distintos. Enquanto a primeira fica numa região vulcânica que engloba 8 municípios mineiros e 4 paulistas, a segunda se localiza numa das mais pobres regiões do país.
No Jequitinhonha, produtores de 22 cidades, a maioria pequenos, criaram a Chapada de Minas, com um café marcado por ter sabor adocicado (achocolatado e caramelo), com notas de frutas vermelhas e aroma amanteigado, graças ao solo, clima e relevo.
“Antes, só se pensava em quantidade, depois a qualidade passou a ser buscada, aí apostaram em certificação. Além da qualidade precisavam mostrar o trabalho ambiental, social. A certificação veio para ficar, mas agora todo mundo tem certificação. Não existe mais diferencial, então estão apostando na origem, na história desse café”, diz o professor Leandro Paiva, responsável pelo polo de inovação cafeeiro do Instituto Federal Sul de Minas e que tem atuado no processo de desenvolvimento dos cafés da região vulcânica.
No Ceará, a maior região cafeeira é a da Serra do Baturité, onde à sombra das ingazeiras e camunzés são produzidas cerca de mil sacas por safra.
A produção ainda é modesta -entre 3 e 4 sacas de 60 quilos por hectare, ante a média nacional de 25 sacas na mesma área-, mas a previsão é alcançar 3.000 sacas por safra nos próximos cinco anos.
A vegetação existente na região faz com que o café sombreado tenha temperatura média de 23ºC, além de evitar picos de temperatura comuns no estado nordestino. Como o grão é cultivado em meio a outras plantas, todo o trabalho do plantio à colheita é manual.
“Antes era café verde, agora produtor tem a sua marca e temos conseguido vender para outros estados. Queremos produzir em consórcio com a mata, preservando e tentando ter o máximo de qualidade, preservando o ambiente”, disse Frederico Yan, sócio do Café Arvoredo e presidente da Aflora Café, durante participação na última semana na SIC (Semana Internacional do Café), em Belo Horizonte.
Além de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Paraná e Rondônia são estados que já possuem regiões com denominação de origem ou indicação de procedência, conforme dados do Inpi.
Por Marcelo Toledo