Produção de veículos acumula queda de 13,6% até abril
Produção do mês de maio começou comprometida
Abril terminou com 185,4 mil veículos leves e pesados produzidos no país. O número representa uma queda de 2,9% em comparação ao mesmo mês de 2021, segundo a Anfavea (associação das montadoras).
Na comparação entre o primeiro quadrimestre deste ano e o de 2021, a fabricação caiu 13,6%. A principal razão para os resultados ruins é a falta de semicondutores, mas a combinação de crédito mais caro com a alta no preço dos carros também leva à retração.
A variação entre os meses de março e abril indica estabilidade. Houve alta de 0,3%, e os movimentos de agora mostram que não deve haver melhora neste cenário.
A produção no mês de maio começou comprometida devido à escassez de semicondutores.
Desde segunda (9), cerca de 2.500 funcionários da Volkswagen entraram em férias coletivas na fábrica de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo). A paralisação se estenderá por 20 dias.
29 FÁBRICAS DE SEMICONDUTORES ESTÃO EM CONSTRUÇÃO, DIZ PRESIDENTE DA ANFAVEA
Márcio de Lima Leite, novo presidente da Anfavea, diz que 29 novas fábricas de semicondutores estão em construção mundo afora, com inaugurações a partir do segundo semestre -espera-se que todas estejam em funcionamento até o fim de 2023.
Segundo o executivo, esse aumento da produção deve regularizar o fornecimento desses itens.
Em Jacareí (interior de São Paulo), o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região segue negociando a manutenção de empregos com a Caoa Chery. Na semana passada, a montadora anunciou o fechamento da unidade e o investimento em carros híbridos e elétricos.
Em um comunicado, a empresa disse que se trata de uma interrupção temporária, para readequar a planta com a intenção de produzir veículos híbridos e elétricos.
A fabricante prepara a apresentação desses modelos, que deverá ocorrer em junho. Mas, a princípio, todos serão importados da China ou montados em Anápolis (GO).
O fechamento da unidade de Jacareí vai impactar o nível de empregos diretos nas empresas do setor. Hoje há 101,7 mil trabalhadores nas montadoras, o que significa queda de 2,9% na comparação com abril de 2021.
As vendas seguem em um ritmo lento de crescimento ao longo de 2022, mas ainda distante de recuperar as perdas em relação a 2021.
Foram comercializadas 147.256 unidades no último mês, alta de 0,3% em relação a março, que teve dois dias úteis a mais. Os dados são baseados no Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores).
Em relação a abril de 2021, houve queda de 15,9% na comercialização de veículos. O primeiro quadrimestre encerrou com 552.924 unidades licenciadas, o que significa retração de 21,4% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Os estoques se mantiveram entre março e abril. Há carros disponíveis para atender a 26 dias de comercialização. É um número historicamente baixo, mas seria ainda menor caso as vendas estivessem em ritmo mais acelerado.
A associação das montadoras acredita que a espera por uma nova rodada de redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializado) tenha gerado o represamento das vendas em alguns dias do último mês. No fim, os carros de passeio não foram incluídos na medida.
“A partir do segundo semestre, há uma expectativa de crescimento, que pode recuperar o que foi perdido nos últimos meses”, diz o novo presidente da Anfavea.
As exportações passam por um momento de retomada, com alta de 17,9% na comparação entre os primeiros quadrimestres de 2021 e 2022. No total, foram enviadas 152,9 mil unidades ao exterior, prioritariamente a países do Mercosul.
Em sua primeira apresentação de resultados à frente da Anfavea, Leite mantém o otimismo que marcou o fim da gestão de Luiz Carlos Moraes.
Torcedor do Atlético Mineiro, o novo presidente da associação das montadoras acredita que seu time será campeão da Libertadores -e do Mundial Interclubes- e que os números da indústria em 2022 serão melhores do que os registrados no ano passado, apesar dos resultados abaixo das expectativas até agora.
Em janeiro, a entidade projetava uma alta de 9,4% na produção de veículos leves e pesados. Embora ainda acredite em crescimento, a Anfavea deve revisar essa previsão para baixo no início do segundo semestre.
SETOR TEVE REUNIÃO COM GUEDES E BOLSONARO
Em sua primeira semana à frente da associação, Leite já se reuniu com o ministro Paulo Guedes (Economia). Ele estava acompanhado dos presidentes das montadoras, que combinaram não fazer nenhum pedido neste momento. O presidente Jair Bolsonaro (PL) participou do encontro, por vídeo.
Uma nova reunião deverá ocorrer em breve, quando será apresentado um diagnóstico do setor automotivo. Por enquanto, a entidade não agendou conversas com os demais candidatos à Presidência da República.
“A situação política é deixada em segundo plano nesse momento, há temas regulatórios, e também a reindustrialização”, diz Leite.
Para o presidente da Anfavea, é preciso aproveitar o momento atual, em que a indústria global passa por um rearranjo, para reinserir o Brasil no cenário mundial. “Não podemos perder esse momento, que é muito bom para atrair investimentos.”
A entidade pretende concluir um mapeamento das necessidades de insumos no setor automotivo para, então, definir o aumento da produção local de componentes. A fabricação nacional de semicondutores é um dos temas principais, que deve avançar por meio de parceria entre indústria, governo e universidades.
Por Eduardo Sodré