Pressão por alta nos gastos faz Bolsa cair na abertura de 2022
A tensão do mercado também pressionou a curva de juros
Preocupações que se arrastaram ao longo de 2021 deram o tom do primeiro dia de negociações na Bolsa de Valores brasileira em 2022.
Em meio a protestos do funcionalismo por aumentos salariais, sinais de que o governo do presidente Jair Bolsonaro segue distante de equilibrar as contas do país contribuíram para a queda de 0,86% do Ibovespa nesta segunda-feira (3).
O índice de referência do mercado acionário do país encerrou o dia acumulando 103.921 pontos. É a menor marca desde 1º de dezembro, quando índice havia recuado a 100.774 pontos.
Refletindo a tensão gerada pelo risco fiscal, o dólar subiu 1,54%, a R$ 5,6620.
A tensão do mercado também pressionou a curva de juros. Os contratos DI para janeiro de 2023, que são referência para o mercado de crédito neste ano, subiram 0,08 ponto percentual, a 11,87% ao ano.
Para janeiro de 2024, a taxa DI saltou 0,22 ponto percentual, a 11,19% ao ano.
Depois de ter mudado a regra do teto de gastos para ampliar gatos com o pagamento do Auxílio Brasil neste ano, quando tentará a sua reeleição, Bolsonaro é pressionado a reajustar salários de diversas categorias do funcionalismo.
Em ato semelhante ao orquestrado na Receita Federal nos últimos dias, o sindicato que representa os servidores do Banco Central iniciou movimento de entrega de cargos de chefia na autarquia nesta segunda.
“Passou o ano, mas o problema é o mesmo. Nem as aprovações da PEC dos Precatórios e do Orçamento de 2022 diluíram esse risco fiscal que está assombrando o mercado”, comentou Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
Declarações do líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), também direcionaram o mercado nesta segunda, segundo Felipe Vella, analista técnico da Ativa Investimentos.
Barros afirmou que o episódio das enchentes na Bahia, diante da alta da arrecadação, mostra que Brasil precisa repensar a sua âncora fiscal.
“Temos falas do líder do governo na Câmara que supõem que, com o recorde de arrecadação do governo, o país precisa gastar, defendendo assim mudanças no teto de gastos, inclusive falando sobre aumentos para o funcionalismo público, que vem ameaçando greves nos últimos tempos”, comentou Vella.
“Com isso o mercado como um todo ficou receoso por novas intervenções e insegurança jurídica, isso fez com que os juros longos subissem e a Bolsa como um todo caísse com novas preocupações com o fiscal”, disse o analista.
O petróleo se valorizou 1,59%, a US$ 79,02 (R$ 444,90), o que contribuiu para que a Petrobras subisse 2,25% na sessão da Bolsa brasileira.
Os papéis mais valorizados do pregão no país foram os da CSN Mineração (4,60%), anunciada nesta segunda como nova integrante na composição do Ibovespa.
A construtora Cyrela caiu 7,98%, maior baixa da sessão. A elevação da curva de juros é um dos fatores que contribuiu para a queda do setor da construção civil, segundo Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos.
Nos Estados Unidos, os mercados de ações fecharam em alta sob a perspectiva de que o avanço da variante ômicron não resultará em severas paralisações da atividade econômica.
Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 0,68%, 0,64% e 1,20%, respectivamente.
NUBANK SOBE 6,4% COM ALTA NO PREÇO INDICADA POR ANALISTAS
Listadas em Nova York, as ações do Nubank subiram 6,40% nesta segunda, após analistas iniciarem a cobertura do banco recomendando compra.
Analistas da Goldman Sachs iniciaram a cobertura do papel com preço-alvo de US$ 15 (R$ 84,45), enquanto o UBS BB deu um preço-alvo de US$ 12,50. O Citi, US$ 12.
O Nubank estreou na Nyse (Bolsa de Nova York) em dezembro, valendo US$ 9 (R$ 50,67) por ação. No encerramento da sessão desta segunda, a ação valia US$ 9,98.
A combinação da grande base de clientes e cultura orientada para o cliente oferecem vantagens competitivas no setor bancário latino-americano, disseram analistas do UBS BB. Ainda assim, eles acrescentaram que “há um longo caminho pela frente, cheio de riscos regulatórios e de execução”.
O Goldman Sachs previu lucro líquido de US$ 3,4 bilhões para o Nubank e retorno sobre o patrimônio líquido de 39% até 2025, dizendo que isso é “consistente com a lucratividade de outros bancos digitais globalmente e acima dos níveis de lucratividade de 20% a 30% que bancos de varejo tradicionais tiveram no Brasil”.
Por Clayton Castelani