Petrobras vai perder mais R$ 30 bilhões na segunda com CPI, diz Bolsonaro
A ameaça de uma CPI foi feita pelo presidente na sexta (17/6), após o anúncio do reajuste, que Bolsonaro chamou de "traição com o povo brasileiro".
O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste sábado (18/6) que o valor de mercado da Petrobras deve cair mais R$ 30 bilhões em razão da articulação, comandada por ele, para a abertura de CPI sobre a estatal.
Durante uma fala num culto evangélico em Manaus (AM), o presidente responsabilizou sócios minoritários pela queda de valor da empresa. Na última sexta-feira (17), a estatal perdeu R$ 27,3 bilhões de valor de mercado, segundo a plataforma de dados financeiros Economática, em razão da reação do governo ao novo reajuste dos combustíveis.
“Grande parte dos minoritários [são] empresas de fundo de pensão dos Estados Unidos que ganham em média R$ 6 bilhões por mês. Dinheiro de vocês que botam combustível nos carros. A Petrobras perdeu R$ 30 bilhões. Acredito que, na segunda-feira (18), com a CPI, vai perder outros 30”, disse Bolsonaro.
A ameaça de uma CPI foi feita pelo presidente na sexta (17), após o anúncio do reajuste, que Bolsonaro chamou de “traição com o povo brasileiro”.
“Eles não pensam no Brasil. Virou Petrobras futebol clube para seu presidente, diretores, conselheiros e dito minoritários.”
A reação do governo sobre a estatal foi um dos componentes de um discurso de mais de uma hora para fiéis do Ministério Ressurreição que participavam do Ato de Unção Apostólica na capital do Amazonas.
“Vamos para cima da Petrobras”, disse Bolsonaro, para aplauso dos fiéis presentes.
As declarações do presidente geraram críticas entre representantes dos minoritários no conselho.
Um deles disse à reportagem que Bolsonaro é o único acionista controlador que trabalha para reduzir o valor da empresa que controla.
Embora critique publicamente os lucros da Petrobras, Bolsonaro vê seu governo se beneficiar deles. Como maior acionista da estatal, o governo ficou com cerca de R$ 44 bilhões dos dividendos distribuídos pela empresa desde o início de 2021 .
Para opositores do governo, esses recursos poderiam ser usados para reduzir os preços dos combustíveis.
A União tem 28,67% das ações da Petrobras, mas controla a companhia por deter 50,3% das ações com direito a voto. Excluindo a participação do BNDES, de 7,94%, os 63,39% restantes pertencem aos chamados minoritários.
Em abril de 2022, a empresa tinha 718.185 acionistas pessoa física, 5.931 pessoas jurídicas e 2.949 investidores institucionais, segundo formulário de referência arquivado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
A perda no valor das ações, que Bolsonaro ressaltou no discurso, significa na prática um encarecimento no crédito da Petrobras, o que prejudica as contas da empresa.
Reduzir na marra os lucros da estatal também dificultaria investimentos no aumento da produção, comprometendo no longo prazo os lucros dos quais o próprio governo se beneficia.
À coluna Painel, do jornal Folha de S.Paulo, um ex-integrante da cúpula da companhia afirmou que o pedido de abertura de uma comissão de investigação por Bolsonaro já configuraria uma interferência na empresa, o que poderia ser interpretado como uma afronta à Lei das Estatais.
As fortes reações aos reajustes nos preços da gasolina e do diesel acenderam um sinal de alerta entre acionistas minoritários. Eles temem um avanço do governo e de partidos do centrão sobre a estratégia e diretorias da estatal.
Representante dos minoritários no conselho de administração, o advogado Francisco Petros chegou a enviar uma carta aos ministérios de Minas e Energia e da Casa Civil para tentar abrir um espaço para negociações.
No texto, ele sugere congelamento de reajustes por 45 dias em troca de manutenção do sistema de governança da companhia, que foi reforçado no governo Michel Temer (MDB) para melhorar a blindagem da estatal contra ingerências políticas.
Bolsonaro tenta mudar o comando da estatal desde o fim de maio, quando indicou Caio Paes de Andrade para substituir José Mauro Coelho na presidência da companhia, mas o processo esbarra nas regras de governança.
Andrade só pode assumir após avaliação de seu nome em assembleia de acionistas, que só será convocada depois de análise dos currículos de dez nomes indicados pelo governo para renovar o conselho.
Após a convocação da assembleia, é necessário respeitar um prazo mínimo de 30 dias para a realização do encontro.
O governo tenta forçar a renúncia de Coelho para agilizar a troca no comando, mas ainda não teve sucesso.
Minoritários temem o avanço de partidos do centrão sobre a direção da empresa, que deve ser renovada com a chegada de Paes de Andrade.
Um representante de investidores privados diz que a batalha agora não é mais pelos preços, mas pela diretoria.
Por Ítalo Nogueira e Nicola Pamplona