Ministros acusam Guedes de ‘enrolar’ e cobram medidas para baixar combustível por guerra na Ucrânia
De acordo com diferentes relatos, ministro teria se comprometido, antes mesmo do conflito, a adotar medidas drásticas
Ministros do governo do presidente Jair Bolsonaro aumentaram a pressão para que o comandante da economia, Paulo Guedes, acelere medidas que possam conter um aumento explosivo no preço dos combustíveis causado pela guerra da Rússia com a Ucrânia.
A coluna ouviu quatro integrantes da equipe de Bolsonaro.
De acordo com diferentes relatos, Guedes teria se comprometido, antes mesmo do conflito, a adotar medidas “drásticas” caso o preço do barril de petróleo chegasse a US$ 100. A principal delas seria a criação de um fundo estabilizador de preços dos combustíveis.
Com a invasão da Ucrânia e o cerco econômico de potências ocidentais a Putin, a barreira foi ultrapassada rapidamente, e o preço já chegou perto dos US$ 120.
“E agora Paulo Guedes está enrolando”, afirmou um ministro à coluna. “Ele é contra o fundo e não deixa a coisa andar.” O comandante da economia teria feito a promessa de tomar medidas por jamais ter acreditado que o preço do petróleo subiria tanto. Mas chegou a guerra, atrapalhando seus planos.
Procurado, Guedes não retornou à Folha.
“Estamos pressionando para que ele tome uma atitude”, afirma o mesmo integrante do governo, dizendo que vários outros colegas estão na mesma empreitada. E mais: eles teriam o apoio do próprio Bolsonaro, que estaria preocupado com a alta nos preços. “Sempre defendi Paulo Guedes, mas até eu estou agora contra a atitude dele”, completa.
Um outro ministro afirma que problemas cíclicos exigem ações cíclicas -e, no caso, emergenciais. Mas Paulo Guedes estaria esperando a guerra acabar e os problemas se resolverem por conta própria.
“O governo precisa intervir, e ele está segurando. É hoje o nosso grande drama”, afirma um dos colegas de Guedes no governo.
A ideia defendida por eles, e que sempre sofreu resistência da equipe econômica, é a criação do fundo para equalizar preços. Alimentado com recursos que o governo recebe do próprio setor de exploração de petróleo e gás, ele subsidiaria os combustíveis em momentos de explosão de preços -como ocorre agora.
Uma proposta de emenda à Constituição que já tramita no Senado sugere que sejam usados recursos do Fundo Social e de receitas obtidas com os leilões excedentes da cessão onerosa do pré-sal e dividendos da Petrobras pagos à União.
A equipe econômica, no entanto, apelidou a proposta de “PEC Kamikaze”.
“O que o governo está recebendo de royalties de petróleo hoje é fabuloso. Mas tudo vai para abater dívida”, afirma um dos ministros críticos de Paulo Guedes.
O comandante da economia seria contra o fundo porque, computado como despesa, o subsídio estouraria o teto de gastos imposto por lei ao governo.
Além disso, o ministro seria contra a própria ideia de subsídio. “Ele trabalha com uma cartilha dos anos 1970 para problemas do século 21, em que enfrentamos uma pandemia e agora até mesmo uma guerra”, afirma outro colega.
Um dos integrantes do governo afirma que o mercado financeiro entenderia que “passamos por um momento de calamidade. Não é um tempo normal. Não acredito que uma medida para equilibrar os preços em uma hora como essa poderia ser entendida de forma errada”.
Há outro projeto que versa sobre a diminuição do ICMS sobre combustíveis. Mas ele também empacou no Congresso.
A expectativa é que a gravidade da crise finalmente empurre o debate e a construção de uma solução.
Por Mônica Bergamo