JBS anuncia reestruturação acionária e passará a negociar papéis no Brasil e nos EUA
Negócio depende de aval da CVM e da SEC e permitirá que gigante global de alimentos busque mais investidores e reduza custo da dívida
Preparando um novo salto, a JBS, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, anunciou nesta quarta (12) que vai propor a seus acionistas negociar seus papéis tanto na Bolsa de Nova York (EUA) quanto na B3, a Bolsa brasileira, o que se chama dupla listagem.
Para isso, será preciso aprovação em uma assembleia geral de acionistas e obter autorizações junto aos órgãos reguladores –a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), no Brasil, e a SEC (Securities and Exchange Commission), nos EUA.
Se tudo der certo, as ações hoje negociadas serão trocadas por novos papéis da companhia até o fim deste ano.
Em entrevista à Folha, o presidente global da JBS, Gilberto Tomazoni, afirmou que o objetivo com essa mudança é destravar valor da companhia, hoje subavaliada na comparação com outras do mesmo ramo.
Esse índice é normalmente obtido dividindo-se o valor de mercado da empresa pelo seu lucro antes de impostos, juros, depreciações e amortizações.
Para se ter ideia, na americana Pilgrim’s, adquirida pela JBS, esse índice é de 9,3. O da JBS é 5,9.
“Com isso, a gente passa a aumentar nossa capacidade de investimento, tendo acesso a investidores institucionais que só atuam na Bolsa de Nova York”, disse Tomazoni.
Ao ingressar na Nyse, a JBS terá de demonstrar ter reforçado sua governança, especialmente em relação a regras de lavagem de dinheiro.
Em contrapartida, terá acesso a um mercado apto a comprar mais ações da empresa do que seus Bonds (títulos de dívida), que hoje são sobretaxados em ao menos 1,5% em relação a empresas similares que operam nos EUA.
A empresa avalia que isso vai gerar uma economia no custo financeiro da dívida —que hoje é de US$ 17 bilhões.
“Essa proposta dará mais flexibilidade de emissão de ações para financiar nosso crescimento”, disse Guilherme Cavalcanti, vice-presidente financeiro global e diretor de relações com investidores da JBS. “Além disso, ajuda na desalavancagem e na redução de nosso custo de capital, permitindo que a empresa concorra em pé de igualdade com seus pares globais.”
COMO SERÁ O PROCESSO
Para fazer essa mudança, a JBS pretende criar uma nova empresa, a JBS NV, sediada na Holanda. Ela servirá como veículo financeiro para atuar como emissora estrangeira, condição necessária para emitir BDRs (Brazilian Depositary Receipts) no Brasil e nos EUA.
“A beleza desse negócio é que, quando for concluída, essa operação não muda nada, nenhum aspecto da operação ou da gestão da JBS. A gente vai continuar com a sede na Marginal [em São Paulo]”, disse Tomazoni.
Para emitir BDRs, a nova empresa terá de solicitar registro junto à CVM e à B3 condicionada à aprovação pelos acionistas.
Assim que for aprovada, a JBS deixará de ter suas ações negociadas na B3 e só negociará BDRs. Pela proposta, cada BDR terá como lastro uma ação Classe A, tanto na B3 quanto nos EUA. Não haverá diferença de tratamento entre acionistas. As regras e os valores serão os mesmos, inclusive para minoritários, ainda segundo a companhia.
A dupla listagem começará com a incorporação das ações da JBS, incluindo a dos controladores – a família Batista, liderada por Joesley – pela JBS Participações Societárias.
Em contrapartida, cada acionista receberá uma ação preferencial convertida automaticamente em ação Classe A. Nessa troca, entregam duas ações da JBS S.A. para obter uma Classe A.
Os Batista se comprometem a destinar todas as suas ações para a JBS Participações, subsidiária da JBS NV. Ao final, terão 20,89% do capital total. Foi criado um mecanismo de conversão de ações para que os controladores não sejam diluídos.
Questionado pela Folha sobre a estratégia, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), segundo maior acionista da JBS, com 20,81% de participação, disse que “está iniciando estudos sobre o mérito da proposta e se manifestará sobre o tema no fórum adequado, que é a assembleia geral de acionistas”.
ESTÍMULO DE R$ 2,2 BILHÕES
Para incentivar o aval dos acionistas, a JBS informou ainda que pretende distribuir R$ 2,2 bilhões em dividendos para servir como fonte de recurso para eventuais pagamentos de tributos cobrados sobre essa operação.
Com uma plataforma diversificada por tipos de produtos alimentícios (aves, suínos, bovinos, ovinos e peixes, além de vegetal), a JBS emprega mais de 260 mil trabalhadores, concentrados em 130 fábricas e escritórios em todos os continentes, em países como Brasil, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália, China, entre outros.
Entre suas marcas estão Seara, Swift, Pilgrim’s Pride, Moy Park, Primo, Just Bare, entre muitas outras que chegam a 190 países.
Por Júlio Wiziack, colaborou Stéfanie Rigamonti