Inflação é a maior para março em 28 anos

Trata-se da maior alta para o mês desde 1994

Puxado pelo mega-aumento de combustíveis e pela carestia de alimentos, o índice oficial de inflação do país acelerou para 1,62% em março, informou nesta sexta-feira (8/4) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Trata-se da maior alta para o mês desde 1994 (42,75%), antes da implantação do real. Ou seja, o avanço do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é o mais intenso para março em 28 anos.

O resultado veio bem acima das expectativas do mercado financeiro. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam taxa de 1,35%. No mês anterior (fevereiro), o IPCA havia subido 1,01%.
Com a entrada dos novos dados, a inflação chegou a 11,30% no acumulado de 12 meses até março. É o maior nível desde outubro de 2003 (13,98%). Nessa base de comparação, a alta havia sido de 10,54% até fevereiro deste ano.

“O resultado [de março] é assustador”, definiu Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, ao citar pressões de preços espalhadas em diferentes grupos de produtos e serviços.
O chamado índice de difusão ficou acima de 70% pelo quarto mês consecutivo, conforme o IBGE. O indicador mede o percentual de bens e serviços com alta de preços no mês, em uma amostra com 377 componentes.

Na prática, a difusão maior sinaliza que a inflação está mais disseminada pela economia. Em março, o índice subiu para 76,13%. É o nível mais intenso desde fevereiro de 2016 (77,21%).

COMBUSTÍVEIS E ALIMENTOS PUXAM ALTA
Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE tiveram alta de preços em março. A maior variação (3,02%) e o principal impacto (0,65 ponto percentual) foram dos transportes.
Na sequência, veio o grupo de alimentação e bebidas. O segmento teve alta de 2,42% e respondeu por 0,51 ponto percentual de impacto. Juntos, os dois grupos contribuíram com cerca de 72% do IPCA.

O resultado de transportes (3,02%) foi influenciado pela alta dos preços dos combustíveis (6,70%). O destaque veio da gasolina, que avançou 6,95%. Assim, foi o subitem com o maior peso individual (0,44 ponto percentual) no índice do mês.
Março registrou o início dos reflexos econômicos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Um dos primeiros impactos do conflito foi a disparada das cotações do petróleo no mercado internacional.

O avanço da commodity levou a Petrobras a promover um mega-aumento de combustíveis nas refinarias, incluindo a gasolina, no dia 11 de março.
Isso ocorreu porque o petróleo é uma das variáveis que determinam a política de preços dos combustíveis da estatal. A taxa de câmbio também pesa na estratégia da companhia.
Em 11 de março, a gasolina subiu 18,8% nas refinarias. O gás de cozinha, por sua vez, avançou 16,1%. O óleo diesel teve reajuste ainda maior, de 24,9%, nas instalações da Petrobras.

As altas chegaram de maneira rápida a postos de combustíveis e pontos de revenda de gás espalhados pelo país. Segundo o IPCA, o diesel subiu 13,65% para os consumidores em março, e o gás de botijão, 6,57%.
Pedro Kislanov, gerente do IPCA, destacou que os efeitos dos combustíveis não ficam restritos às bombas dos postos. Os avanços de itens como o diesel também elevam custos de fretes, gerando pressões sobre itens como alimentos, citou o pesquisador do IBGE.

No caso de alimentação e bebidas, a inflação de 2,42% decorreu, principalmente, da subida dos alimentos para consumo no domicílio (3,09%). A maior contribuição (0,08 ponto percentual) foi a do tomate, cujos valores subiram 27,22% em março.
A cenoura, por sua vez, avançou 31,47%. O produto acumula disparada de 166,17% em 12 meses. O leite longa vida (9,34%), o óleo de soja (8,99%), as frutas (6,39%) e o pão francês (2,97%) também ficaram mais caros.

“Foi uma alta disseminada nos preços. Vários alimentos sofreram uma pressão inflacionária”, analisou Kislanov.
“Isso aconteceu por questões específicas de cada alimento, principalmente fatores climáticos, mas também está relacionado ao custo do frete. O aumento nos preços dos combustíveis acaba refletindo em outros produtos da economia, entre eles, os alimentos”, completou.
A guerra no Leste Europeu é outra ameaça para os preços da comida. Commodities agrícolas, como trigo, milho e soja, subiram após o começo do conflito.

O que pode amenizar os repasses, segundo analistas, é a recente trégua do dólar. Em parte de abril, outro possível alívio no IPCA pode vir do fim da taxa extra nas contas de luz.
O fim da bandeira de escassez hídrica, que encareceu a energia elétrica a partir de setembro, foi antecipado pelo governo para o próximo dia 16.

POSSÍVEL ESTOURO DA META
O IPCA está em dois dígitos no acumulado de 12 meses desde setembro do ano passado. Assim, encontra-se distante da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central).
Neste ano, o centro da medida de referência é de 3,50%. O teto é de 5%.
De acordo com analistas, o IPCA deve estourar novamente a meta. Há instituições financeiras que projetam alta superior a 7% no acumulado até dezembro.

Se as estimativas forem confirmadas, 2022 será o segundo ano consecutivo de descumprimento da meta. Em 2021, o IPCA teve alta de 10,06%.

Em uma tentativa de frear a inflação, o BC vem subindo a taxa básica de juros. Em março, a Selic alcançou 11,75% ao ano. O mercado vê espaço para uma taxa ainda mais alta.
A inflação persistente pressiona o presidente Jair Bolsonaro (PL), que deve tentar a reeleição neste ano e teme os impactos da perda do poder de compra do eleitorado.

Bolsonaro, incomodado com a alta dos combustíveis, decidiu trocar o comando da Petrobras.

Por Leonardo Vieceli 

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