Indústria agora sofre com energia cara, diz pesquisa da CNI
Empresas ainda relatam dificuldades com abastecimento de uma série de matérias-primas
As indústrias brasileiras chegaram ao quinto trimestre seguido com problemas para comprar insumos. Além do preço alto, as empresas ainda relatam dificuldades com o abastecimento de uma série de matérias-primas, afetando a produção e desestabilizando a formação de caixa das indústrias.
Segundo sondagem da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), na passagem de agosto para setembro, o alto custo da energia elétrica também ganhou espaço entre os problemas apontados pelas empresas.
Enquanto a falta ou alto custo de matéria-prima foi apontado como a principal dificuldade por 62,4% das empresas consultadas pela entidade, a falta ou alto custo de energia elétrica apareceu em 24,7%. No primeiro trimestre, a conta de luz era citada por apenas 11,3% das indústrias.
Marcelo Azevedo, economista da CNI, diz que a desorganização geral nas cadeias de produção ainda é severa e generalizada. “Com impacto negativo na situação financeira das empresas e no custo das indústrias, o que limita uma recuperação industrial que poderia ser melhor”, diz.
No segundo trimestre, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a indústria recuou 0,2% em relação aos primeiros três meses deste ano. A escassez de insumos é apontada como um dos principais fatores no enfraquecimento do setor.
A indústria de transformação, segmento mais dependente de matérias-primas, encolheu 2,2%. Os atrasos e interrupção de fornecimento de insumos vem desde o ano passado.
A pandemia resultou em uma sequência de quebras na cadeia global de abastecimento, com a interrupção na produção e a retomada desigual. Quem depende de peças e partes importadas enfrenta prazos maiores diante de uma crise sem precedentes no transporte marítimo em todo o mundo. Até contêineres estão em falta.
Há ainda o aumento na demanda por alguns tipos de insumos, como é o caso dos chips semicondutores. A falta desses componentes eletrônicos é global. No Brasil, a indústria automobilística tem registrado uma sequência de paralisações operacionais para tentar adequar o ritmo de produção à disponibilidade de peças e componentes.
Segundo a CNI, os industriais estão mais insatisfeitos ainda com as margens de lucros. O indicador que mede esse resultado caiu 0,3 pontos. Também estão menos satisfeitos com as condições financeiras -queda de 0,4 pontos. Também há retração nas expectativas em relação a acesso ao crédito.
Nesse último quesito, as condições para endividamento junto a instituições financeiras tiveram recuo de 1,1 ponto na escala de 0 a 100 da sondagem. Segundo a CNI, mesmo em queda, o indicador de acesso ao crédito ainda está acima da média história, que é de 39,7 pontos.
“O acesso ao crédito é uma questão relevante, principalmente em um contexto de reestruturação das empresas, que vem ocorrendo em decorrência da pandemia”, afirma a confederação da indústria.
A evolução do nível de estoques está em 50,1 pontos, o que, segundo os critérios da CNI, configura um limite para ser considerado em queda. Já o estoque efetivo está em 49,1 pontos, abaixo do planejado pelas empresas.
Mesmo com as dificuldades, a sondagem da confederação aponta para estabilidade no nível de produção. “Apesar da piora das expectativas, todos os índices ficaram acima da linha divisória de 50 pontos, indicando que há otimismo dentre os empresários industriais”, diz o economista da CNI.
Em São Paulo, pouco mais da metade das micro e pequenas indústrias já veem o custo da energia elétrica como um fator de ameaça aos negócios, segundo pesquisa Datafolha para o Simpi (Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias de São Paulo) realizada em setembro.
O número de indústrias micro e pequenas que relatou aumento significativo na conta de luz passou de 68%, em agosto, para 74%, no mês passado. As que disseram não ter registrado alta caíram de 29% para 25%.
“Indiscutivelmente, a crise hídrica e energética provocada pela falta de chuvas tem agravado o prejuízo financeiro de empresas em todos os segmentos, especialmente entre as micro e pequenas indústrias, cujo repasse das sucessivas altas de preços muitas vezes é inviável”, diz o Simpi, em nota.
A pesquisa também mostra uma piora geral no número de empresas relatando alta significativa de custos. Sete em dez micro e pequenas indústrias paulistas disseram estar gastando muito mais para manter suas produções. O resultado, segundo o Simpi, é o pior em seis anos.
Por Fernanda Brigatti