Guerra da Ucrânia atinge agro, e ministra diz já ter ‘plano A e plano B’
A importação de fertilizantes e de trigo podem ser afetadas
O Ministério da Agricultura já faz um levantamento dos múltiplos e variados problemas que o Brasil pode enfrentar por causa da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
A importação de fertilizantes e de trigo podem ser afetadas. A exportação de soja, outros grãos e carne para a Rússia e a Ucrânia também é motivo de preocupação.
“O ministério avalia que, como o mundo todo, sofreremos impactos. Mas ainda não está claro o tamanho deles”, diz a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. “É preciso tranquilidade e cautela. Temos muitas alternativas, e já estamos estudando todas elas. Temos plano A e plano B”, afirmou ainda à coluna.
O primeiro e mais imediato obstáculo é a importação de fertilizantes, fundamentais para a agricultura. O Brasil adquire no exterior 85% do volume aplicado nas lavouras.
A Rússia responde por cerca de 30% do suprimento ao país. A Belarus, nação aliada de Vladimir Putin, por cerca de 20%.
O Brasil já vinha enfrentando problemas para comprar os fertilizantes da Belarus -o cloreto de potássio, produzido pelo país, é um dos fertilizantes mais usados por agricultores brasileiros nas culturas de soja e milho.
As exportações da Belarus, no entanto, têm sido alvo de sanções dos EUA e da Europa, que começaram a ser aplicadas depois da eleição presidencial do ditador Aleksandr Lukachenko, em 2020.
A Belarus não tem saída para o mar e seus produtos eram escoados pelos portos da Lituânia -que, aliada do ocidente, fechou as portas para a atividade.
Em novembro do ano passado, a ministra Tereza Cristina viajou à Rússia para tentar contornar o problema e aumentar a garantia de fornecimento de fertilizantes, evitando que eles faltem no Brasil -o que pode impactar no preço dos alimentos da safra deste ano.
As sanções aplicadas pelos EUA e pela União Europeia ao país de Putin, no entanto, ameaçam agora esse fornecimento. O Brasil não é obrigado a seguir as medidas, mas elas podem afetar o fluxo de mercadorias.
Tereza Cristina afirma que, caso o comércio de adubos da Rússia para o Brasil seja inviabilizado, há alternativas. “O potássio é o maior problema. Mas podemos comprá-lo do Canadá, de Israel, do Chile, de Omã”, segue.
Ela cita ainda o Marrocos e o Irã -país para o qual viajou recentemente e que fez uma grande oferta de fertilizantes ao Brasil.
Os iranianos, no entanto, também sofrem sanções, o que dificulta a operação logística de importação.
Navios de países sancionados, por exemplo, não podem ser abastecidos pela Petrobras. Em 2019, a estatal se negou por 50 dias a fornecer combustível para duas embarcações iranianas, temendo violar a legislação norte-americana. O impasse só foi resolvido depois de determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que ordenou o abastecimento.
Um outro problema já vislumbrado pelo ministério é o do trigo -o Brasil importa 60% de tudo o que consome. E uma parte desse volume vem da Rússia.
A maior parte das compras, porém, é feita na Argentina, e outro tanto nos EUA e no Canadá. A alternativa poderia ser aumentar a importação desses países.
Com a possibilidade de corte no fornecimento russo, no entanto, o preço do produto deve aumentar -com impacto na inflação brasileira.
Um terceiro, e não menos importante, problema é a exportação de soja brasileira para a Rússia.
Com as sanções, os navios russos podem ter dificuldade para transportar o produto, o que pode afetar as vendas.
A Rússia importou 768,2 mil toneladas de soja em 2021, ou US$ 343,2 milhões. A oleaginosa é o principal produto exportado aos russos.
O país compra também proteínas o Brasil, com destaque para a carne de frango. Foram 105,8 mil toneladas embarcadas no ano passado, ou US$ 167,1 milhões.
Por Mônica Bergamo