Guedes embarca para reuniões do FMI nos EUA para discutir efeitos da guerra
A intenção do FMI é canalizar parte de um total de US$ 650 bilhões em recursos emitidos em 2021 de países com posições financeiras externas fortes
O ministro Paulo Guedes (Economia) embarca neste domingo (17) rumo aos Estados Unidos para participar de uma série de reuniões do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial. No centro das discussões estará o cenário de estresse da economia global devido aos efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia.
A situação financeira de muitos países que se endividaram de maneira intensiva em meio à crise da Covid-19 tem levantado preocupações e o FMI pretende avançar na criação de um novo fundo com o objetivo de fornecer resiliência e sustentabilidade às nações mais fragilizadas.
A intenção do FMI é canalizar parte de um total de US$ 650 bilhões em recursos emitidos em 2021 de países com posições financeiras externas fortes para países vulneráveis por meio de financiamento de longo prazo.
Para atender à demanda projetada, o fundo precisa mobilizar inicialmente cerca de US$ 50 bilhões em recursos totais de acordo com projeções do FMI. A expectativa é que o novo fundo entre em operação até o fim do ano.
As preocupações com segurança energética e alimentar em escala global também vão permear os debates. De acordo com membros do governo que falaram sobre a agenda, o Brasil quer se colocar como uma solução no atual contexto (por ser um grande produtor de commodities) e pretende usar essa posição de vantagem para construir ou reforçar as pontes com a comunidade global.
O Brasil também tem reiterado durante as discussões multilaterais que pretende trilhar um caminho de crescimento verde, mostrando ter o que considera serem ativos ambientais relevantes, como a matriz energética do país -vista pelo governo como a mais limpa do G20- e iniciativas recentes como um programa de incentivo à reciclagem anunciado nos últimos dias.
A argumentação da agenda verde faz parte de uma tentativa de responder às pressões da comunidade internacional sobre a política de retrocesso ambiental do governo brasileiro em diferentes frentes, mas sobretudo quando o tema é a entrada do país na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) -movimento que tem sido ameaçado pela preocupação com a degradação do meio ambiente no Brasil durante o governo Bolsonaro.
O convite para o Brasil entrar na OCDE foi aprovado em janeiro pelos membros do conselho da Organização, o que iniciou um processo negociador que deve durar pelo menos dois anos. Mas, para ter sucesso, o Brasil precisa aderir uma série de normativos e condições -como a redução de desmatamento e medidas de mitigação de mudanças climáticas previstas no acordo de Paris.
O Ministério das Relações Exteriores da França publicou uma nota em janeiro dizendo que a entrada do Brasil na OCDE dependerá de progressos sérios, concretos e mensuráveis na luta contra o desmatamento e as mudanças climáticas.
O comunicado se estende aos outros cinco países postulantes (Argentina, Bulgária, Croácia, Peru e Romênia), mas serve como um aviso indireto ao Brasil, cuja política ambiental tem sido reiteradamente criticada pelo governo de Emmanuel Macron. A França é um dos 38 países que integram o grupo e que precisam dar consenso para confirmar o ingresso na entidade.
Essa é a segunda viagem internacional de Guedes em cerca de três semanas. No fim de março, ele foi a Paris participar das reuniões da OCDE. Às vésperas de embarcar, ele disse que o Brasil é apenas um “pequeno transgressor” ambiental e que iria negociar um valor a ser pago por outros países pela proteção dos recursos naturais.
“O Brasil não é o cara que polui o mundo. É um pequeno transgressor, um pequeno poluidor”, afirmou. “De vez em quando tem uma floresta que queima aqui e ali”, disse.
Além das reuniões com as autoridades internacionais, Guedes vai ter encontros com representantes da iniciativa privada -como membros do mercado financeiro. Os nomes ainda não foram divulgados pelo Ministério da Economia.
Por Fábio Pupo