Em 2022, dólar ficou mais caro que o euro pela primeira vez em 20 anos – Mais Brasília
FolhaPress

Em 2022, dólar ficou mais caro que o euro pela primeira vez em 20 anos

Pela primeira vez, a moeda europeia teve valor menor do que o dólar

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

O euro completou seu aniversário de 20 anos em 2022, mas o ano ficou marcado por um fato negativo: pela primeira vez, a moeda teve valor menor do que o dólar.

Desde a criação, o dinheiro europeu sempre valeu alguns centavos a mais que o dólar. Em julho deste ano, as duas moedas atingiram a paridade. 22 de agosto, o euro foi cotado por menos de 1 dólar. Cada moeda europeia valia 97 centavos do dinheiro americano. Ou cada dólar valia 1,0061 euro.

A queda do euro foi causada por diversos fatores. A Guerra da Ucrânia, iniciada em fevereiro, aumentou os preços do gás e de outros produtos no continente, gerando incerteza e inflação. Foi preciso buscar alternativas para o gás russo, que mantinha casas aquecidas e indústrias funcionando.

Ao mesmo tempo, em março, o Fed (banco central americano) deu início a uma alta nos juros, o que atraiu dinheiro estrangeiro para os EUA e fortaleceu o dólar. Ao mesmo tempo, o BCE (Banco Central Europeu) teve postura mais contida e demorou a mexer nos juros, que estavam abaixo de zero.

No entanto, o outono europeu veio com temperaturas mais quentes que o esperado, (o que gerou menor demanda por gás) e a atuação mais firme do BCE em subir os juros, a partir de setembro, ajudaram a moeda europeia a recuperar a força.

O euro ficou cerca de três meses, até o começo de novembro, oscilando ao redor da taxa de 1 para 1, até retomar força a partir de 12 de novembro, quando se estabilizou na faixa de 1,03 euro por dólar. Perto do Natal, na segunda (19), cada euro valia 1,06 dólar. Há dois anos, em dezembro de 2020, esta cotação estava em torno de 1,20 dólar

Em meados de dezembro, o BCE fez a terceira alta seguida de juros e elevou a taxa a 2% ao ano. Nos EUA, o Fed reduziu a velocidade da alta de juros, e elevou a taxa para 4,5%. No Brasil, a Selic foi mantida em 13,75% ao ano na última reunião do Banco Central.

Cristine Lagarde, presidente do BCE, indicou que o banco deve seguir subindo a taxa no ano que vem, para conter o risco de inflação.

“Com base na informação que temos hoje, há previsão de outro aumento de 50 pontos base na nossa próxima reunião, e possivelmente na depois daquela, e possivelmente depois também”, disse Lagarde, em coletiva de imprensa em 15 de dezembro. Ela também disse esperar que uma possível recessão na Europa será “relativamente curta e rasa.”

A moeda única europeia foi adotada em 1º de janeiro de 2002, e substituiu os dinheiros de quase todos os países da Europa Ocidental, como as pesetas da Espanha, os marcos alemães, os francos franceses e os escudos portugueses. Ao abrir mão da moeda nacional, os países facilitaram o comércio com seus vizinhos e passaram a ter um dinheiro mais forte e estável do que tinham antes. Por outro lado, perderam poder para definir a política monetária, que ficou sob comando do BCE (Banco Central Europeu).

No entanto, cada país ainda tem liberdade para definir sua política fiscal, ou seja, decidir quanto arrecadar de impostos, como gastar o dinheiro público e pegar empréstimos se necessário.

Como o continente tem países com economias mais fortes (Alemanha, França) e outras mais instáveis (Espanha, Grécia), houve um desequilíbrio. A Grécia, por exemplo, teve de se sujeitar a cortes de gastos públicos, na década passada, para obter ajuda dos vizinhos para superar uma forte crise na década passada. O país considerou deixar o euro na época mas, ao final, ficou.

Josilmar Cordenonssi, professor de economia na Universidade Mackenzie, explica que a vantagem do valor do euro sobre o dólar é fruto, em boa parte, da força da economia alemã, a quarta maior do mundo.

“A Alemanha é mais conservadora do ponto de vista fiscal que os Estados Unidos e tem dívida bem mais baixa do que o resto dos países avançados, em torno de 60% em relação ao PIB. Nos EUA e no Japão, elas passam de 100% do PIB. Dívidas altas geralmente fragilizam as moedas”, explica Cordenonssi.

O professor aponta que uma eventual desvalorização do euro frente ao dólar poderia atrapalhar as exportações brasileiras para a Europa, pois os produtos daqui ficariam mais caros para os consumidores de lá. A desvalorização também tornaria os produtos europeus mais competitivos no mercado internacional.

Atualmente, o euro é usado em 19 países. Em 1º de janeiro de 2023, a Croácia adotará a moeda e se tornará o 20º membro da zona do euro. Há outros seis países candidatos a adotar o euro, mas que precisam antes cumprir uma série de requisitos de estabilidade econômica.

Por Rafael Balago