Dólar registra forte queda antes de reunião de Lula com equipe econômica – Mais Brasília
FolhaPress

Dólar registra forte queda antes de reunião de Lula com equipe econômica

Presidente se reunirá nesta tarde para debater ações contra desvalorização do real nos últimos dias

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

dólar registrava forte queda e a Bolsa subia nesta quarta-feira (3), com o mercado aguardando uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros da área econômica, nesta tarde, para tratar do câmbio e da situação fiscal. No exterior, a maior parte das divisas também apresenta valorização ante a moeda americana.

Enquanto aguarda os desdobramentos da reunião da tarde, o mercado vai acompanhar novos discursos do presidente Lula, às 11h e às 15h, em eventos do Plano Safra. A percepção é de que quanto menos Lula abordar a questão do câmbio ou o trabalho do Banco Central, melhor para as cotações.

Isso porque os ataques constantes de Lula ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, e ao nível da taxa Selic, hoje em 10,50%, têm gerado ainda mais pressão para os mercados de câmbio e juros futuros, dizem analistas.

Na Bolsa, o dia é de alta, com apoio principalmente das ações da Vale, a empresa de maior peso do Ibovespa, e do alívio nas curvas de juros futuros locais.

Às 11h, o dólar caía 1,35%, cotado a R$ 5,588, enquanto o Ibovespa subia 1%, aos 126.047 pontos.

Nos EUA, dados divulgados nesta manhã mostraram que foram abertas 150 mil vagas de emprego no setor privado no mês passado, depois de 157 mil em maio, em dado revisado, conforme o relatório da ADP. Economistas consultados pela Reuters previam criação de 160 mil vagas.

Já os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA atingiram 238 mil na semana passada, ante estimativa de 235 mil.

Os novos números fortaleceram a tese de desaceleração da economia americana e deram otimismo ao mercado sobre o início do ciclo de corte de juros nos EUA, também contribuindo para a queda global do dólar nesta quarta.

Na terça, a alta do dólar foi influenciada por novas declarações de Lula sobre o Banco Central. Em entrevista à rádio Sociedade da Bahia, o presidente afirmou que o Banco Central é uma instituição de estado e não pode estar a serviço do sistema financeiro. Ele também voltou a dizer que o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, tem viés ideológico.

“A gente precisa manter o Banco Central funcionando de forma correta, com autonomia, para que seu presidente não fique vulnerável às pressões políticas. Se você é democrata, permite que isso aconteça. Quando é autoritário você resolve fazer com que o mercado se apodere da instituição”, disse o presidente.

Lula também afirmou que há atualmente um ataque especulativo ao real, acrescentando que voltará a Brasília na quarta-feira e discutirá o que fazer em relação à alta do dólar.

Nos últimos 60 dias, nos meses de junho e julho, Lula fez ao menos 14 comentários públicos sobre política fiscal e monetária, em 10 diferentes dias. Criticou a autonomia do Banco Central, atacou o presidente da autarquia e colocou em dúvida a intenção do governo de cortar gastos, entre outros assuntos que afetam o humor do mercado.

Após o dólar abrir em baixa, a fala de Lula passou a pesar sobre os negócios ao longo da manhã e as cotações da moeda norte-americana ganharam força. Profissionais do mercado afirmaram que a possível intervenção do governo no câmbio gerava receios.

“A insistente despreocupação do governo com o déficit fiscal faz com que os investidores sigam retirando a moeda estrangeira do país”, diz Felipe Castro, planejador financeiro e sócio da Matriz Capital.

Na visão do analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos, a fala corrobora o mau humor dos últimos dias com tensão crescente entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o titular do BC em um ambiente de aumento nas preocupações fiscais.

Perto do fim da sessão, no entanto, a moeda americana desacelerou e se afastou das máximas. Houve um movimento semelhante nas curvas de juros futuros do Brasil, que operaram em alta durante boa parte do dia, mas passaram a cair, acompanhando os rendimentos dos títulos do Tesouro americano, os chamados “treasuries”.

Os comentários de Lula vêm sendo apontados por profissionais do mercado como um dos principais motivos para que o dólar tenha disparado ante o real e a curva de juros esteja em forte alta no Brasil. Em 2024, a moeda norte-americana acumula elevação superior a 16%.

Na Bolsa brasileira, o Ibovespa começou o dia em alta firme, mas também teve uma sessão instável, chegando a apagar os ganhos em alguns momentos. No fim, fechou em oscilação positiva de 0,05%, aos 124.787 pontos.

Com Reuters