Documentos sinalizam que 123Milhas inflou balanço
Recursos estão conectados ao Novo PAC, Bolsa Família, Mais Médicos, Brasil Sorridente, merenda escolar, Bolsa Atleta e Lei Paulo Gustavo. Confira um resumo
Contando que clientes antigos voltassem a comprar passagens, a 123Milhas e sua empresa irmã HotMilhas inflaram os balanços dos últimos dois anos ao considerar essa expectativa como ativos reais.
Em 2022, a operação de ambas em conjunto contabilizou essa possível venda futura como 53% do total de ativos das companhias (R$ 1,87 bilhão), sem a garantia de que seriam efetivadas.
Ou seja, o grupo como um todo anotou como ativo mais de R$ 1 bilhão com base na expectativa de fidelização de seus clientes.
A contabilização dos ativos influi diretamente na percepção sobre a saúde financeira da empresa, já que, quanto maior o ativo, maior o patrimônio líquido da empresa.
No caso específico de 2022, os ativos sem lastro concreto representaram, para o conjunto 123/HotMilhas, 53% do total de ativos das companhias (R$ 1,87 bilhão).
Ainda segundo os balanços, essa prática começou em 2020, no caso da 123Milhas e, no ano seguinte, no caso da HotMilhas.
Em 2021, os ativos registrados nessas condições pela 123Milhas (R$ 335 milhões) representavam 76% do total. Ou seja, há dois anos, a grande maioria dos ativos já era baseada em meras expectativas.
Ao mesmo tempo, o balanço apontava um patrimônio líquido positivo de R$ 18,2 milhões. Isso significa que, se os R$ 335 milhões não tivessem sido contabilizados, a empresa já estaria tecnicamente insolvente desde aquele ano, com patrimônio negativo de mais de R$ 316 milhões.
Em 2021, a empresa chegou a escrever, nas notas explicativas das demonstrações financeiras, que projetava que clientes antigos garantiriam à empresa uma receita de R$ 459 milhões até 2024.
Entretanto, diz a companhia, “foram contabilizados apenas R$ 335 milhões, visto que o investimento em formação de carteira de empresa é constituído e limitado pelos gastos em marketing”.
Regras contábeis estabelecem que isso só pode ser registrado como ativo quando a companhia tem “controle suficiente”.
As mesmas regras alertam, contudo, que “a ausência de direitos legais de proteção ou de outro tipo de controle sobre as relações com os clientes ou a sua fidelidade faz com que a entidade normalmente não tenha controle suficiente sobre os benefícios econômicos previstos, gerados do relacionamento com os clientes e de sua fidelidade”.
Procurada, a companhia não se manifestou até o momento.
Por Julio Wiziack, com Diego Felix