Dólar sofre pressão com risco fiscal e fecha em R$ 5,1920
Tensões políticas e aumento de despesas do governo puxa cotação do dólar para cima
Nesta terça-feira (3), as tensões políticas e o aumento do risco fiscal provocaram instabilidade no mercado financeiro doméstico, afetando especialmente o câmbio. O dólar encerrou o dia com alta de 0,52% sobre o real, a R$ 5,1920.
A moeda americana chegou a encostar em R$ 5,2750 (2,12%), mas alta desacelerou ao longo do dia, com as expectativas de aumento na taxa de juros na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que ocorre nesta quarta (4).
Segundo a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, a combinação de tensões políticas e temores de que haja aumento nas despesas do governo, com deterioração fiscal, puxa a cotação do dólar para cima há alguns dias.
“Na sexta-feira (30), tivemos o início das discussões sobre parcelamento no pagamento de precatórios e, na segunda, ficou mais exacerbada a possibilidade de um Bolsa Família em patamar maior”, afirmou. “Nesta terça, ainda tivemos a volta da CPI da Covid-19. Isso elevou a incerteza e a uma maior aversão ao risco no Brasil.”
Quanto maior é a aversão ao risco, mais os investidores tendem a buscar ativos considerados de proteção -como dólar e ouro.
Nesta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que o governo pode sugerir até dobrar o valor médio pago a beneficiários do Bolsa Família.
Além disso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, também disse que o governo não tem capacidade para o pagamento de todos os precatórios programados para 2022 e, por isso, está propondo o parcelamento dos valores. “Devo, não nego; pagarei assim que puder”, afirmou.
Na segunda (2), o governo apresentou a líderes uma proposta que dribla a regra do teto de gastos em 2022 para adiar o pagamento desses precatórios em ordem de usar os recursos para elevar o valor do Bolsa Família.
O pacote de medidas busca, desde já, melhorar a popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na campanha presidencial do próximo ano. Ele está atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em pesquisas eleitorais.
Para Consorte, ainda que as expectativas do mercado se concretizem e o Banco Central anuncie um aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) nesta quarta, é preciso avaliar o quanto esse movimento já está precificado na taxa de câmbio.
“Acredito que [esse aumento] vai ajudar, mas vai ser momentâneo porque essas questões políticas e fiscais ainda vão falar mais alto por bastante tempo”, disse a economista.
No mercado acionário, a Bolsa de Valores brasileira encerrou o pregão desta terça-feira em alta de 0,87%, aos 123.576 pontos, acompanhando os mercados internacionais.
O Ibovespa, principal índice acionário do país -que sentiu a volatilidade ao longo do dia também-, chegou a cair 1,4% nas mínimas do dia, indo aos 120.807 pontos. Na máxima, encostou nos 123.765 pontos (1,02%).
Por aqui, o destaque da sessão ficou com as blue chips -ações de empresas já consolidadas no mercado e com volume significativo negociado em Bolsa. A maior alta do índice, por exemplo, ficou com Vale, que terminou com ganhos de 3,41%.
Petrobras, que foi na contramão dos preços do petróleo no exterior, teve avanços de 1,66% (preferenciais, sem direito a voto) e de 1,72% (ordinárias, com direito a voto).
Segundo o diretor de renda variável da Zahl Investimentos, Flávio de Oliveira, tanto os rumores de aumento do Bolsa Família como as falas de Guedes em relação ao pagamento dos precatórios também impactaram no mercado acionário brasileiro.
“De uma forma ou de outra isso acaba gerando burburinho no mercado porque, apesar de não ser um calote, ainda estamos falando de uma postergação de pagamento de dívidas federais e isso nunca é visto com bons olhos pelo mercado”, afirmou.
No exterior, os mercados também tiveram um dia volátil, refletindo preocupação com o avanço do número de casos da variante delta do coronavírus e seus efeitos negativos sobre a recuperação econômica global.
Os índices americanos Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq encerraram com altas de 0,80%, 0,82% e 0,55%, respectivamente. O Euro Stoxx 50, um dos principais índices da Europa, terminou praticamente estável com ganhos de 0,03%.
Texto: Isabela Bolzani