Dólar sobe mesmo após Copom elevar Selic e Bolsa tem correção

Alta dos juros no Brasil tende a favorecer a desvalorização da moeda americana, pois o país se torna mais atrativo

As ações negociadas na Bolsa de Valores brasileira tinham viés negativo nas primeiras horas desta quinta (3/2), dia seguinte à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central que confirmou a elevação de 1,5 ponto percentual dos juros básicos do país. Agora a taxa Selic é de 10,75% ao ano.

Às 12h15, o Ibovespa, referência da Bolsa, recuava 0,15%, a 11.720 pontos. O índice aprofundava, portanto, a correção iniciada na véspera, quando recuou 1,18% após três semanas de ganhos quase diários. Caminho inverso era tomado pelo câmbio. O dólar subia 0,26%, a R$ 5,29.

Em tese, a alta dos juros no Brasil tende a favorecer a desvalorização da moeda americana, pois o país se torna mais atrativo a estrangeiros que buscam ganhos fáceis em renda fixa.

Analistas apontam, porém, que a manifestação do Copom na véspera indicou que a estabilização dos juros está próxima. Isso diminui a expectativa de perpetuação dos ganhos elevados com a Selic em alta.

Os juros dos contratos DI (Depósitos Interbancários) recuavam 0,21 ponto percentual nesta quinta, a 11,92% ao ano. Essa taxa, que é negociada entre os bancos, serve de referência para financiamentos e também reflete a expectativa do mercado de crédito sobre os rumos da taxa de juros do país no curto prazo.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, ressaltou que investidores também estão aproveitando as recentes baixas no mercado de câmbio para embolsar lucros. A venda de moeda, consequentemente, pressiona a alta do dólar.

A elevação da taxa de juros se faz necessária como medida de combate à inflação. O crédito mais caro retira dinheiro de circulação, diminuindo consumo e investimentos empresariais.

Os juros elevados também são um caminho para o Brasil buscar desestimular a saída de capital rumo aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, onde o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) se prepara para começar a elevar a sua taxa de juros a partir de março. Evitar a escassez de dólares no Brasil impede altas exageradas da moeda americana, que também é fator de aceleração da inflação.

Nos Estados Unidos, depois de alguns dias de recuperação, o mercado de ações abriu em baixa. Os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuavam 0,86%, 1,52% e 2,21%.

O viés negativo era puxado pelo tombo da Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp. As ações da companhia despencavam 25% após a companhia ter divulgado resultados decepcionantes no quarto trimestre de 2021.

No mercado de commodities, a alta do minério de ferro continuava a impulsionar as ações da Vale, que subiam 0,72%.

O barril do petróleo Brent caía 0,61%, a US$ 88,92. A commodity ainda ronda a cotação mais alta desde 2014. A crise envolvendo uma eventual invasão da Ucrânia pela Rússia, um dos maiores produtores do mundo, e a insistência da Opep (organização dos países exportadores) em não acelerar a produção pressionam os preços.

A Petrobras recuava 1,52%, em um dia em que o noticiário pode gerar oscilações para os papéis da estatal.
Principal nome das pesquisas na disputa pela Presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta que, em um eventual novo governo, não manterá o preço dos combustíveis vinculado ao dólar, como ocorre atualmente com a política de preços praticada pela Petrobras.

“Nós não vamos manter o preço dolarizado. Eu acho que os acionistas de Nova York, os acionistas do Brasil, têm direito de receber dividendos quando a Petrobras der lucro, mas é importante que a gente saiba que a Petrobras tem que cuidar do povo brasileiro”, disse o ex-presidente em uma entrevista à Rede de Rádios do Paraná.

“Eu não posso enriquecer um acionista americano e empobrecer a dona de casa que vai comprar um quilo de feijão e paga mais caro por causa do preço da gasolina.”

A política de preços dos combustíveis da Petrobras foi alterada no governo do ex-presidente Michel Temer. Sob alegação de que o controle de preços rígido implementado no governo da ex-presidente Dilma Rousseff gerou prejuízo para a estatal e inibia investimentos, passou-se a adotar uma política que acompanha o preço do petróleo no mercado externo, combinado com a variação do dólar, com reajustes frequentes.

Já a própria Petrobras informou que há possibilidade de pagar dividendos em nível “muito maior” do que no passado, após ter atingido o que considera um patamar de “dívida ótima”, afirmou nesta quinta o diretor-executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Rodrigo Araujo.

Por Clayton Castelani 

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