Dólar sobe 4% e vai a R$ 4,80, na maior alta desde março de 2020
Ao longo da tarde, a alta se intensificou ainda mais
O dólar comercial registrou forte alta acima de 4% frente ao real na retomada dos negócios no mercado local nesta sexta-feira (22/4) após o feriado de Tiradentes na quinta (21).
Em alta de mais de 2% desde a manhã, a divisa dos Estados Estados Unidos passou a registrar valorização superior a 3% por volta do meio-dia.
Ao longo da tarde, a alta se intensificou ainda mais.
No fechamento da sessão, a divisa dos Estados Unidos marcava alta de 4,04%, a R$ 4,8060 para venda. Foi o maior aumento em um pregão desde 16 de março de 2020, quando a eclosão da pandemia fez o dólar saltar 4,5%.
Além do cenário macroeconômico global, a contínua escalada no câmbio também foi resultado do acionamento de uma série de ordens de contenção de perdas (stop-loss) por operadores. Na máxima do dia nesta sexta, a divisa chegou a subir cerca de 4,75%, a R$ 4,839.
O movimento perdeu um pouco da força após o BC (Banco Central) vender US$ 571 milhões no mercado à vista de câmbio durante a tarde, na primeira operação do tipo neste ano.
A Bolsa de Valores local, que também permaneceu fechada na véspera, viu o índice de ações Ibovespa recuar 2,86%, aos 111.077 pontos, na maior queda desde o final de novembro de 2021.
A maior aversão ao risco, já observada nos mercados globais na véspera, vem após sinalizações do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sobre a possibilidade de uma postura mais agressiva no processo de alta dos juros para combater a inflação.
O presidente do Fed, Jerome Powell, disse na quinta que um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa de juros estará “na mesa” quando o BC americano se reunir em 3 e 4 de maio para aprovar a próxima alta deste ano. Powell também sinalizou que poderá ser necessária uma série de aumentos de meio ponto, num conjunto agressivo de ações do Fed.
“A visão de que o Fed deve apertar o passo passou a ser amplamente aceita. Com isso, o mercado já precifica pelo menos três altas de meio ponto nas próximas reuniões”, dizem os analistas da XP, em relatório.
No mercado acionário dos Estados Unidos, que já fechou com quedas expressivas no pregão passado, o índice S&P 500 teve perdas de 2,77%, enquanto o Dow Jones cedeu 2,82% e o Nasdaq, 2,55%.
Na Europa, o dia foi igualmente de perdas para as principais Bolsas da região -o FTSE-100, de Londres, recuou 1,39%, e o CAC-40, de Paris, registrou desvalorização de 1,99%. O DAX, de Frankfurt, cedeu 2,48%.
Na Ásia, as ações chinesas registraram sua maior queda semanal em seis semanas nesta sexta, com a retomada das medidas de isolamento para conter um novo avanço da Covid-19 paralisando a atividade econômica em grandes cidades.
Autoridades de Xangai dobraram sua ofensiva contra o vírus, lançando outra rodada de testagem em toda a cidade e alertando os moradores de que o lockdown de três semanas só será suspenso em fases quando a transmissão for eliminada.
“Enquanto resultados corporativos predominantemente positivos têm contribuído para impedir quedas mais duras dos índices americanos, a maior probabilidade de um Fed mais agressivo no combate à inflação e, consequentemente, de um juro americano acima do patamar neutro em 2022, continua pesando sobre o sentimento de investidores”, apontam os analistas da Guide.
No cenário local, pesam adicionalmente os riscos que vêm de Brasília.
Entre as maiores perdas do dia, as ações da Eletrobras tiveram queda na casa dos 4%, com dúvidas a respeito do sucesso da privatização ainda neste ano após o pedido do TCU (Tribunal de Contas da União) para analisar por mais 20 dias a privatização da estatal.
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou nesta sexta que a previsão é realizar a privatização até julho deste ano.
Além disso, segue no radar dos agentes possíveis desdobramentos sobre o embate entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o Judiciário, após o chefe do Executivo conceder o perdão da pena ao deputado Daniel Silveira, condenado pela corte a 8 anos e 9 meses de prisão.
“Em tese, tal decisão anula a condenação e a pena impostas pelo STF ao parlamentar pelos “crimes contra a democracia”. Agora é saber como deve responder o STF”, diz Pedro Galdi, analista da Mirae Asset Wealth Management.
Por Lucas Bombana