Dólar cai a R$ 5,22 com aposta em alta dos juros; Bolsa sobe 0,20%
O dólar já caiu 6,27% neste ano
O dólar voltou a bater a cotação mínima em quase cinco meses nesta quarta-feira (9). A expectativa de que a alta da inflação irá forçar aumentos ainda maiores da taxa de juros está atraindo capital estrangeiro para o país, aliviando a pressão sobre o câmbio.
Depois de alguns altos e baixos ao longo do dia, a moeda americana fechou em queda de 0,64%, a R$ 5,2260. É a menor cotação desde os R$ 5,2230 registrados em 13 de setembro de 2021. O dólar já caiu 6,27% neste ano.
Sem repetir os ganhos robustos de janeiro (6,98%), a Bolsa de Valores ainda se beneficia da avaliação do mercado de que ativos brasileiros continuam baratos. Isso tem levado o seu índice de referência a conseguir algumas altas discretas. Nesta quarta, o Ibovespa subiu 0,20%, a 112.461 pontos.
Pressionada por alimentos, a inflação oficial do Brasil subiu 0,54% em janeiro, informou nesta quarta o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o maior resultado para o mês em seis anos.
Alinhado às expectativas de analistas, o resultado sinaliza uma desaceleração frente a dezembro de 2021, quando o avanço havia sido de 0,73%, mas o IPCA segue em dois dígitos no acumulado de 12 meses.
Ao analisar a alta dos preços no Brasil, o Goldman Sachs destacou que “a inflação está agora não apenas muito alta, mas também altamente disseminada”.
Com esse pano de fundo, segundo o banco, há um risco crescente de que reajustes retroativos de preços e salários mantenham uma crescente inflação inercial, o que significa uma reação em cadeia, em que todos os setores tentam repassar a alta de custos adiante.
A disseminação da inflação por vários setores pode reduzir o impacto do principal instrumento à mão do Banco Central para tentar frear a alta de preços, que é dificultar o acesso ao crédito por meio da elevação da taxa básica de juros. A Selic já está em 10,75% ao ano.
Diante da expectativa de que o Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) irá a elevar os juros americanos em março, o Goldman Sachs descreve um cenário desafiador para o Brasil. Juros mais altos nos EUA tendem a pressionar a alta do dólar, uma vez que investidores internacionais podem tirar dinheiro de aplicações brasileiras para buscar ganhos mais seguros nos títulos do Tesouro americano.
Para manter dólares no país, uma vez que a alta no câmbio também pressiona a inflação, o Banco Central do Brasil também teria como recurso aumentar ainda mais a Selic.
Parâmetro para avaliar a expectativa do mercado sobre os juros, as taxas DI (Depósitos Interbancários) de curto prazo eram negociadas em alta nesta quarta. Em dois dias, as taxas subiram de 11,95% para 12,26% ao ano. Esse tipo de contrato é negociado exclusivamente entre bancos, mas serve de referência para financiamentos e empréstimos em geral.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, revisou para cima suas expectativas para a Selic diante das perspectivas mais duras indicadas pelo Banco Central sobre o aperto monetário. Sanchez avalia que o Copom elevará a Selic para 11,75%, em março, e 12,25%, em maio.
Comentários feitos mais cedo pelo diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, ampliaram as expectativas pela aceleração dos juros. Serra afirmou que a batalha da autarquia contra a inflação está longe de ser vencida, mostrando preocupação com a propagação da alta dos preços.
Neste momento, enquanto os juros americanos seguem zerados, o Brasil oferece juros reais (descontada a inflação) vantajosos. Mas os juros não são o único fator de atração de dólares para o país.
Investidores estão trocando ativos avaliados como caros em mercados desenvolvidos, sobretudo as ações dos EUA, por rendimentos e oportunidades em praças consideradas descontadas. Nesse quesito, o Brasil se destaca. Há consenso de que o real opera muito desvalorizado e que a Bolsa brasileira está barata.
Segundo dados divulgados nesta quarta pelo Banco Central, o Brasil contabilizou em janeiro a maior entrada líquida de dólares por meio de contratos de câmbio em cinco meses, com superávit de US$ 1,49 bilhão (R$ 7,85 bilhões).
Nas negociações da Bolsa desta quarta, o setor de commodities, que também é responsável pela entrada de dólares no país, teve papel positivo.
A Vale sustentou ligeira alta de 0,02%, em um dia de desvalorização dos contratos do minério de ferro exportados do Brasil para a China. A commodity, porém, segue valorizada no mercado chinês.
A Petrobras subiu 0,38%, apoiada pela valorização de 1,19% do petróleo. O barril do Brent avançou 1,19%, a US$ 91,86 (R$ 484,36).
Do lado negativo, as ações preferenciais do Bradesco afundaram 8,58% e as ordinárias, 8,80%. Paula Zogbi, da Rico, chamou a atenção para o balanço do banco, que trouxe números considerados fracos, motivando a manutenção da recomendação neutra para a ação pela XP. Na esteira do concorrente, o Itaú cedeu 3,98%.
Ainda entre as empresas que trouxeram maior peso negativo para o Ibovespa, as ações da Oi caíram 2,88%.
O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou com restrições nesta quarta a compra das redes móveis da Oi pelas operadoras de telefonia Tim, Vivo e Claro por R$ 16,5 bilhões. As ações da Tim e da Vivo avançaram 5,06% e 2,72%.
Nos Estados Unidos, as ações fecharam no azul sob a liderança do setor de tecnologia. A Nasdaq subiu 2,08%. O segmento é o que mais vem sofrendo perdas diante das expectativas de alta dos juros no país.
Referência da Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 avançou 1,45%, enquanto o Dow Jones subiu 0,86%.
Analistas consideram que o mercado acionário americano continuará oscilando até que o Fed indique com clareza qual será o ritmo do aperto monetário.
Por Clayton Castelani