Dólar atinge R$ 5,75 e Bolsa cai 4,5% após debandada no time de Guedes

O mercado vem impondo preços mais altos para investir no país

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores Brasileira, aprofundava a queda no início da tarde desta sexta-feira (22/10), atingindo a mínima de 102.853 pontos às 12h25, uma baixa de 4,53%. O câmbio seguia pressionado, com o dólar alcançando a máxima de R$ 5,7550, alta de 1,55%.

O mercado vem impondo preços mais altos para investir no país devido ao aumento da percepção de risco após o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cruzar o limite da responsabilidade fiscal ao propor um drible na regra do teto de gastos. A manobra causou uma debandada no time do ministro Paulo Guedes (Economia) nesta quinta-feira (21/10).

A disparada do dólar e a forte queda da Bolsa ocorrem desde a última terça-feira (19). Na ocasião, Bolsonaro, preocupado com a popularidade às vésperas da campanha eleitoral, determinou que o novo Bolsa Família, o Auxílio Brasil, seja de R$ 400, acima dos R$ 300 estimados anteriormente.

Para cumprir a determinação do presidente, o governo avaliou que precisaria furar o teto de gastos -regra que limita o crescimento das despesas públicas. Para driblar a regra, nesta quinta, o governo e seus aliados no Congresso inseriram na PEC (proposta de emenda à Constituição) que adia o pagamento de precatórios uma mudança na correção do teto de gastos que, na prática, expande o limite das despesas federais.

O conjunto das alterações previstas cria um espaço orçamentário para despesas de R$ 83 bilhões no ano eleitoral de 2022.

Quatro secretários da equipe econômica pediram demissão nesta quinta por discordarem das decisões. Pediram para deixar o governo dois dos principais nomes do núcleo da pasta, o que comanda as contas públicas.

O maior representante da área, abaixo de Guedes, é o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal. Ele e o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt -subordinado a Funchal-, pediram exoneração dos cargos.

“Há muita incerteza no curto prazo que pode empurrar o dólar para cima ante o real. Por outro lado, os players acham que o real está gravemente desvalorizado, o BC [Banco Central] provavelmente aumentará seu ritmo de alta dos juros e intervenções cambiais ainda são possíveis. Portanto, a estabilidade nesses níveis não parece ser o cenário-base”, disse o Citi em nota.

Os juros futuros mantinham-se sob intensa onda de compra, com as taxas disparando mais 51 pontos-base em alguns vencimentos, aumentando a pressão para o Bacen acelerar o ritmo de aumentos da taxa Selic.

Os índices globais oscilavam em diferentes direções nesta manhã desta sexta. Nos Estados Unidos, o Dow Jones subia 0,27%, enquanto S&P 500 e Nasdaq recuavam 0,03% e 0,051%, respectivamente. O petróleo Brent, referência mundial, subia 0,50%, a US$ 85,03 (R$ 479,71%).

Nesta quinta, o dólar subiu 1,88%, a R$ 5,6670, a maior cotação desde 14 de abril. A Bolsa, que chegou a cair à mínima de 105.713 pontos, fechou em queda de 2,75%, a 107.735 pontos, a menor pontuação desde 23 de novembro.

As empresas listadas na Bolsa de Valores brasileira perderam R$ 284 bilhões em valor de mercado em três dias após o governo revelar a intenção de furar o teto de gastos para aumentar o valor do novo Bolsa Família.

Na última segunda-feira (18), as ações na Bolsa valiam R$ 4,984 trilhões. Ao final do pregão desta quinta, o valor caiu para R$ 4,700 trilhões, segundo dados levantados pela desenvolvedora de sistemas de análise financeira Economatica.

A estatal Petrobras perdeu R$ 24,15 bilhões no período, liderando a lista dos prejuízos, seguida pelas empresas Vale (-R$23,9 bi), Magazine Luiza (-R$ 12,3 bi), Rede D’Or (-R$ 8,1 bi) e Ambev (-R$ 7,55 bi).

Por Clayton Castelani

 

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