Uma “tempestade climática” formada por calor intenso, falta de chuva e geada resultou em laranjas menores e queda da fruta nos pomares, derrubando a safra no cinturão citrícola formado pelo interior paulista e o Triângulo Mineiro.
A safra 2021/22 encerrou com um recuo de 31,2 milhões de caixas de laranja, o que, se pode não parecer muito frente às 262,97 milhões de caixas apuradas pelo Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura), representam 64% de toda a safra esperada da Flórida (EUA), um tradicional polo citricultor.
A queda é ainda mais drástica para a citricultura porque a safra deveria ser de alta produção. A cultura é bianual -ou seja, produz muito num ano e menos no seguinte-, mas as quase 263 milhões de caixas de agora foram inferiores às 268,3 milhões da safra 2020/21, que foi um ano de baixa no ciclo.
A projeção inicial do Fundecitrus indicava 294,17 milhões de caixas de 40,8 quilos cada, mas a estiagem prolongada, somada às geadas registradas em julho, fez com que os frutos ficassem menores, obrigando os citricultores a usarem mais laranjas para encher uma caixa.
“Procuramos os melhores caminhos para amenizar os impactos climáticos, mas a citricultura não conseguiu isso nos últimos anos”, disse a agropecuarista Sarita Junqueira Rodas, que comanda o grupo Junqueira Rodas, que tem 13 fazendas em São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Além do combo climático, ela disse que o setor sofre com a inflação, o alto custo de mão de obra e, agora, o risco de escassez de insumos devido à guerra no Leste Europeu. “Não há produtor que durma em paz.” A perda devido ao clima nas fazendas do grupo é estimada em 15%.
Os reflexos dessa segunda safra seguida com baixa produção serão a redução da remuneração final dos citricultores e dos estoques de suco de laranja nas indústrias.
“O clima atrapalhou desde a época do florescimento. Tivemos um período muito quente depois do florescimento, só que depois, na sequência, veio um calor muito forte e onde tinha aparecido os primeiros frutos, eles caíram. Em algumas regiões, a chuva veio muito tarde, por isso a gente acabou tendo uma safra de predominância de segunda e terceira floradas, que são mais tardias”, afirmou o coordenador da pesquisa de estimativa de safra do Fundecitrus, Vinícius Trombin.
De acordo com ele, os frutos estão 16% mais leves que a média das últimas cinco safras -142 gramas, ante 170 considerados ideais- e apresentaram taxa de queda dos pés maior que a de anos anteriores (20%, ante 13% a 16% dos últimos anos).
Com os custos de produção em alta, o impacto para o consumidor deve ser pagar mais caro pela laranja, devido à pressão inflacionária e à baixa oferta da fruta.
“A guerra é outra preocupação, porque a Europa é basicamente nosso principal mercado. Tendo qualquer problema lá, influencia o consumo de suco”, afirmou Trombin.
A possibilidade de faltar suco no mercado é vista como real por Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR (associação dos exportadores).
A projeção atual indica que, em 30 de junho, os estoques das indústrias estarão com 126,5 mil toneladas, segundo mais baixo desde 2008 -em 2017, os estoques chegaram a 107,3 mil toneladas.
“Quando há desequilíbrio climático grande, como agora, uma parte da produção não atinge os padrões e o suco fica indisponível para venda.” Esse suco não vendido por não atender as exigências do mercado fica estocado e é misturado à próxima safra.
Pesquisadora de citros no Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, Fernanda Geraldini disse que a previsão para a safra 2022/23 é de um clima mais favorável, devido ao volume maior de chuvas desde outubro.
“Claro que não podemos ignorar a seca intensa dos últimos anos, que ainda pode ter impacto, mas o clima está bem mais favorável.”
Ela, porém, levanta outro ponto que pode ser um problema mais sério caso persista na citricultura: a redução da área plantada, que desde 2020 caiu cerca de 4%.
“Não é um absurdo, mas é um sinal de alerta, pode ser que caia neste ano e é algo que começaria a preocupar”, disse a pesquisadora.
Por Marcelo Toledo