Bolsa opera em queda puxada por commodities; dólar cai após dados dos EUA
Investidores aguardam novos números de inflação e atividade americanos
A Bolsa brasileira abriu em queda na manhã desta terça-feira (23) puxada pelo declínio das commodities no exterior, que pressiona ações da Vale e da Petrobras, as duas empresas de maior peso do Ibovespa.
Já o dólar começou o dia subindo, mas passou a registrar queda ante o real no fim da manhã, seguindo o movimento no exterior. Dados sobre atividade empresarial mais fracos que o esperado nos EUA mostraram queda na demanda e desencadearam uma queda global da divisa.
Nesta semana, investidores aguardam novos números sobre inflação e atividade econômica americanos para alinhar apostas sobre o futuro da política de juros do país.
Às 11h41, o Ibovespa recuava 0,55%, aos 124.876 pontos, enquanto o dólar recuava 0,41%, cotado a R$ 5,147.
“Alguns modelos de curto prazo que apostam na valorização do real enxergam espaço para [o dólar] voltar ao patamar de R$ 5, e momentos de menor volatilidade, como esta semana, podem contribuir para uma possível correção de distorções, várias posições vendidas na moeda podem estar sendo desfeitas”, disse Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.
O sentimento global de fato se mostrava bem mais ameno no início desta semana, depois de dias muito turbulentos, com investidores se mostrando aliviados pelo assentamento das tensões no Oriente Médio depois que o Irã não respondeu a uma retaliação de Israel em resposta a ataques iranianos realizados há pouco mais de uma semana.
Isso abriu espaço para a recuperação do apetite por risco, mas o otimismo do mercado era limitado pela cautela antes da divulgação de dados do índice de inflação PCE, o preferido do Federal Reserve, na sexta-feira (26). Após números de preços ao consumidor deste mês, os mercados adiaram apostas num primeiro corte de juros pelo Fed para setembro, impulsionando o dólar globalmente.
Na quinta-feira, também serão divulgados os dados do PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA referentes ao primeiro trimestre.
Enquanto isso, no Brasil, analistas consultados pelo Banco Central passaram a ver menos afrouxamento monetário este ano e no próximo, mostrou a pesquisa semanal Focus, com as estimativas para a Selic ao final de 2024 e 2025 subindo a 9,50% e 9,0%, respectivamente.
Os economistas mantiveram perspectiva de novo corte de 0,5 ponto percentual nos juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), mas probabilidades implícitas em contratos futuros de juros mostram mais de 90% de chance de haver redução menos intensa, de apenas 0,25 ponto.
“A edição mais recente do Focus confirma o que vinha circulando há dias entre os investidores: uma Selic de um dígito no fim deste ano está muito menos garantida do que há cerca de duas semanas”, disse a Levante Investimentos em relatório a clientes, citando, para além de incertezas externas, a percepção de risco fiscal doméstico elevado.
“Nas últimas semanas, a interlocução entre Executivo e Legislativo piorou bastante, o que aumenta o risco tanto de aprovação de pautas-bomba pelo Congresso quanto reduz a probabilidade de o governo emplacar medidas que elevem a arrecadação”, completou a Levante.
Um ritmo mais lento de afrouxamento monetário no Brasil, em teoria, seria positivo para o real, uma vez que isso preservaria melhor a rentabilidade do mercado de renda fixa, atraindo investidores estrangeiros.
Por outro lado, esse impulso poderia não ter efetividade caso fosse motivado por deterioração do risco fiscal, já que esse também é um fator levado em consideração por agentes financeiros na hora de escolher destinos de investimento.
*Com Reuters