Bolsa fecha em alta de 1,34% com ata do Fed e balanços
Desde o início da semana o mercado aguardava a decisão da reunião de política monetária do Fed, marcada para esta quarta
A Bolsa de Valores brasileira recuperou os 126 mil pontos nesta quarta-feira (28), impulsionada pela decisão de manutenção da taxa básica de juros americana pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) e pela divulgação de balanços corporativos.
O Ibovespa, principal índice acionário do país, encerrou com alta de 1,34%, aos 126.285 pontos.
Desde o início da semana o mercado aguardava a decisão da reunião de política monetária do Fed, marcada para esta quarta, quando o órgão anunciou que vai manter as taxas de juros.
A instituição também afirmou que a recuperação econômica americana continua no caminho certo -apesar de ainda estar longe do ideal e do aumento dos casos de coronavírus- e à sinalização de que os estímulos devem continuar por enquanto.
Além disso, mesmo com a alta da inflação no país, o Fed indicou que continua acreditando que o aumento dos preços é temporário. A instituição prevê que o problema se atenue conforme os gargalos das cadeias de abastecimento diminuam e a demanda retorne aos níveis normais.
A decisão foi vista como positiva pelo mercado. “Isso mostra que no horizonte de longo prazo, o Fed acredita que a meta de inflação será cumprida, o que afasta a expectativa de um aumento precoce dos juros”, afirmou o analista da Clear Corretora, Rafael Ribeiro.
“Outro ponto foi o anúncio de mais dois Repos [sigla em inglês para compromissos de recompra], que vão permitir que as instituições reservem ativos de alta qualidade, como títulos do Tesouro americano, enquanto o Fed irá prover liquidez quando necessário”, completou.
Para Thomás Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office, o Fed continua preso a uma armadilha de liquidez que só deve ser discutida de fato em agosto, começando de maneira muito branda e com foco em hipotecas.
“Por conta do comunicado acomodatício, os ativos de risco voltaram a ganhar força dado a manutenção de elevada liquidez nos mercados e a diminuição dos riscos de retirada mais rápida dos estímulos”, afirmou.
Reflexo desse cenário, o dólar registrou a maior desvalorização e o menor patamar em duas semanas nesta quarta (28). A moeda fechou em queda de 1,25%, a R$ 5,1100.
Na cesta de moedas emergentes, o real teve a segunda maior valorização ante o dólar na sessão desta quarta, perdendo apenas para o peso colombiano.
Para Gibertoni, o Fed mais ameno deve se combinar a um Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central, que define a taxa básica de juros) com uma política monetária mais rígida em relação a inflação, o que deverá beneficiar a moeda brasileira.
“O movimento de queda do dólar [no Brasil] pode ser mais persistente. Além de um Copom mais duro, especialmente se vier uma alta de 1 ponto percentual da Selic, ainda temos balança comercial melhor e fiscal também melhor, com queda da dívida. Isso tende a atrair capital para o Brasil”, afirmou, mantendo previsão de dólar a R$ 4,90 ao fim do ano.
A agenda de balanços no Brasil também foi positiva para o Ibovespa, com destaque para Weg, que atingiu o resultado de R$ 1,1 bilhão no segundo trimestre. As ações da companhia registraram a maior alta da Bolsa, com avanço de 8,17%, a R$ 37,20.
A Vale também encerrou em alta de 2,72%, a R$ 117,29, com os investidores na expectativa do resultado da companhia, previsto para ser divulgado ainda nesta quarta.
Outro ponto que colaborou para o movimento de alta do Ibovespa foram as blue chips -ações de empresas líderes de mercado e que possuem um grande volume negociado na Bolsa. Favorecidas pelo aumento nos preços do petróleo, por exemplo, as ações da Petrobras subiram 2,06% (preferenciais, sem direito a voto) e 2,08% (ordinárias, com direito a voto).
Os papéis do setor financeiro também tiveram um dia positivo. Nesta quarta, o Santander reportou um lucro de R$ 4,2 bilhões no segundo trimestre, quase o dobro (98,4%) do registrado em igual período de 2020. Os papéis da companhia encerraram a sessão em alta de 0,75%, a R$ 41,51.
“A queda recente do setor financeiro, com os papéis dos bancos retornando para os níveis de março, e as expectativas de bons resultados no segundo trimestre ajudam a explicar o movimento de recuperação”, afirmou Ribeiro.
Para o trimestre, o mercado espera provisões menores, um aumento da receita de serviços conforme a economia se recupere e a continuidade de redução de custos, adotada no ano passado.
No exterior, Dow Jones registrava queda de 0,36%, enquanto o S&P 500 encerrou perto da estabilidade, com recuo de 0,02%. Na contramão, a Bolsa de tecnologia Nasdaq, em Nova York, fechou em alta de 0,70%, refletindo os bons resultados das big techs, divulgados na véspera.
Texto: ISABELA BOLZANI