Bolsa cai de novo e dólar sobe a R$ 5,6260 pressionados por risco fiscal
Após início positivo do pregão, negócios perderam força
A Bolsa de Valores brasileira fechou em queda de 0,62% nesta quinta-feira (28), a 105.704 pontos. Após o início positivo do pregão, com o mercado assimilando a já esperada alta da taxa Selic para 7,75% ao ano, os negócios perderam força com o risco fiscal voltando a desestimular investimentos.
A pressão sobre o câmbio é o principal reflexo da tensão gerada por esse cenário. O dólar subiu 1,25%, a R$ 5,6260. Os juros DI (Depósitos Interbancários) para janeiro de 2023 subiram 0,98 ponto percentual, passando de 11,51% para 12,48%.
“O movimento de hoje é basicamente uma continuidade do medo do risco fiscal que estamos vendo nos últimos dias”, diz Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.
O mercado reagiu negativamente ao segundo adiamento da discussão da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos precatórios no Congresso. O governo pretende utilizar a PEC para acomodar parte dos gastos extraordinários com o pagamento do Auxílio Brasil, o substituto do Bolsa Família.
Embora o mundo dos negócios seja desfavorável ao drible no teto de gastos anunciado pelo governo para o ano eleitoral de 2022, a dificuldade do Executivo para fechar o Orçamento piora a percepção sobre o rumo das contas públicas e amplia incertezas.
“A ausência de recursos no orçamento para o Auxílio Brasil gera incerteza porque, além da mensagem de irresponsabilidade fiscal, esse descontrole aumenta a dívida pública e resulta em mais elevação nos juros e na inflação”, diz Túlio Nunes, especialista de finanças da Toro Investimentos.
O ministro da Cidadania, João Roma, disse na manhã desta quinta que, para pagar os R$ 400 do Auxílio Brasil em dezembro, é preciso que a PEC dos precatórios seja aprovada no Congresso até a segunda semana de novembro.
Se aprovada, uma mudança na PEC libera R$ 15 bilhões para o governo gastar ainda neste ano, para pagamento de vacina, auxílio para caminhoneiros e o Auxílio Brasil.
A dificuldade do Executivo para organizar as contas públicas é um dos principais fatores de pressão sobre o dólar, cuja alta estimula o avanço da inflação, forçando o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) a aumentar os juros básicos (Selic) para desestimular o consumo e assim desaquecer os preços.
A alta de 1,5 ponto percentual da Selic na véspera, porém, foi insuficiente para acalmar o mercado, que considerou o Banco Central apenas reativo ao cenário econômico e não proativo para se antecipar aos problemas, segundo o analista da corretora Clear Rafael Ribeiro.
“Essa percepção fez a curva de juros inclinar mais um pouco, com os investidores acreditando que, levando em conta o ritmo atual da inflação, o Banco Central terá que apertar o passo ainda mais em 2022 e em 2023”, avaliou Ribeiro.
Além do risco fiscal, a Bolsa brasileira teve seu desempenho prejudicado pela combinação de baixas de commodities importantes para exportadores locais.
O petróleo Brent, referência mundial, recuou 0,08%, a US$ 85,51 (479,86). Os preços da commodity estão após a avaliação de alta nos estoques nos Estados Unidos.
Os papéis ordinários da PetroRio caíram 7,26%, a maior desvalorização em sete meses marcados por ganhos com as seguidas altas do petróleo. As ações preferenciais da Petrobras, porém, subiram 0,94% com o mercado aguardando os resultados do trimestre da estatal.
A Vale (VALE3) caiu 1,01%, em mais um dia de baixa nos contratos futuros de minério de ferro para janeiro de 2022, que recuaram 1,5%.
A pressão na China para a redução das emissões de dióxido de carbono por meio do fechamento de minas de carvão vem preocupando o setor de minério de ferro quanto ao risco de redução da produção de aço no gigante vermelho devido à escassez de energia.
A Vale também informou que recebeu notificação da SEC, órgão que fiscaliza o mercado de capitais nos Estados Unidos, sobre a possibilidade de abertura de investigação a respeito da tragédia de Brumadinho, que deixou 272 mortos em janeiro de 2019.
O grande destaque positivo do pregão foi a Ambev, cujas ações subiram 9,72%. A fabricante de bebidas divulgou forte crescimento de receitas entre julho e setembro, quando atingiu os maiores volumes consolidados já registrados em um terceiro trimestre.
Nos Estados Unidos, Wall Street fechou em alta, impulsionada por ganhos da Apple e da Amazon antes da divulgação dos balanços das duas empresas, enquanto resultados sólidos de companhias como Caterpillar e Merck ajudaram a aliviar preocupações com o impacto da desaceleração do crescimento econômico sobre os lucros.
Os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 0,68%, 0,98% e 1,39%.
Os investidores também estavam de olho em Washington, onde o presidente Joe Biden disse ter garantido um novo arcabouço e USS 1,75 trilhão (R$ 9,8 trilhões) para gastos econômicos e com ações para lidar com mudanças climáticas.
Texto: Clayton Castelani