Bolsa cai 2,6% e dólar atinge R$ 5,57 após Bolsonaro determinar auxílio de R$ 400

Mercado também está atento à possível votação da PEC dos precatórios

A Bolsa de Valores brasileira operava em forte queda e o dólar avançava firme no início da tarde desta terça-feira (19) com o mercado temendo que as discussões em Brasília sobre o novo programa de distribuição de renda do governo resultem em aumentos de gastos acima do teto fiscal.

Às 12h14, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa, caía 2,60%, a 111.454 pontos, enquanto o dólar subia 0,83%, a R$ 5,5660, mas já tendo alcançado a máxima de R$ 5,5740 na primeira hora após a abertura das negociações.

O dólar seguia em alta mesmo depois do leilão realizado pelo Banco Central para venda à vista de US$ 500 milhões (R$ 2,78 bilhões), a primeira operação desse tipo desde março.

O nervosismo do mercado ocorre após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ter determinado que o Auxílio Brasil chegue a R$ 400, valor superior aos R$ 300 do auxílio emergencial. O benefício pago na pandemia acaba no próximo dia 31.

O governo deve editar uma medida provisória para estabelecer uma parcela adicional e chegar ao valor do ticket pago hoje. Segundo interlocutores do presidente, há espaço no orçamento do Bolsa Família para pagar os R$ 300 neste ano a 17 milhões de pessoas. O desafio, porém, é chegar ao novo valor determinado pelo presidente.

A revelação sobre o valor do Auxílio Brasil reforça a tensão gerada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que havia defendido na véspera, em entrevista ao site da revista Veja, que o país não poderia priorizar a responsabilidade fiscal e o respeito ao teto de gastos em detrimento das necessidades da população mais vulnerável diante dos impactos sociais provocados no Brasil pela pandemia de Covid-19.

Embora exista consenso sobre a necessidade em amenizar os prejuízos sociais gerados pela pandemia, o mercado digere mal a separação que parte da classe política faz entre disciplina fiscal e investimentos sociais.

Essa dicotomia, presente na fala de Lira, tem aumentado ainda mais a percepção quanto ao risco fiscal do país, segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

“Lira revela sua pretensão populista ao impor uma dualidade inexistente entre o social e a responsabilidade, como se houvesse um entrave ou que para se fazer política social tivesse que ser irresponsável”, disse Sanchez.

De acordo com o economista, as declarações de Lira também indicam que ele poderá ser um dos principais agentes políticos a pressionar pelo aumento dos gastos públicos com a proximidade das eleições de 2022.

O mercado também está atento à possível votação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos precatórios em comissão especial da Câmara ainda nesta terça. Os títulos da dívida judicial reconhecida representarão despesas de aproximadamente R$ 89 bilhões em 2022 e o parcelamento de parte desses débitos é visto como uma contrapartida para viabilizar o Auxílio Brasil.

A pressão que o cenário fiscal exerce sobre o câmbio tem feito o Banco Central intervir diariamente no mercado desde a última quarta-feira (13), quando a autoridade monetária deu início a uma série de leilões de novos contratos de swap cambial tradicional, o que na prática equivale à venda da divisa no mercado futuro, e é diferente da venda à vista realizada nesta terça.

No início desta manhã, o real tinha o pior desempenho de uma lista de quatro divisas que perdiam para o dólar nesta manhã, segundo a agência Reuters.

Em mais um sinal sobre o peso da crise fiscal doméstica, a queda acentuada da Bolsa brasileira ocorre mesmo em um dia em que os mercados globais abriram positivos. Nos Estados Unidos, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiam 0,32%, 0,50% e 0,41%.

O petróleo Brent, referência mundial, subia 0,51%, a US$ 84,76 (R$ 469,68). As ações da Petrobras caíam 3,29% e as da Vale recuavam 0,83%.

Texto: Clayton Castelani

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