BC avaliou custos e benefícios de acelerar ritmo de alta de juros, mostra ata do Copom

Para o Copom, a magnitude da elevação é suficiente para alcançar a meta de inflação para os próximos anos.

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central avaliou os custos e os benefícios de acelerar o ritmo de aperto monetário, mas, segundo ata da reunião divulgada nesta terça-feira (28/9), concluiu que nível atual é “efetivamente contracionista” e adequado para levar a inflação para a meta em 2022 e 2023.

Na semana passada, o BC elevou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, para 6,25% ao ano. Acelerar o ritmo seria subir a Selic acima desse patamar para fazer frente à escalada de preços e das expectativas de inflação nos últimos meses.

Diante de surpresas inflacionárias, em que os preços sobem acima do esperado, o mercado tem elevado a pressão para que o BC intensifique o ritmo de alta dos juros.

“O Copom avaliou os custos e benefícios de acelerar o ritmo da elevação dos juros, fazendo as seguintes ponderações. Em primeiro lugar, o estágio do ciclo de ajuste é caracterizado por uma política monetária já efetivamente contracionista, o que é evidenciado quando se observa a diferença das expectativas para as trajetórias da taxa de juros e da inflação ao longo do horizonte relevante de política monetária”, disse o texto.

Para o Copom, a magnitude da elevação é suficiente para alcançar a meta de inflação para os próximos anos. Com isso, a indicação é que na próxima reunião, no fim de outubro, haja nova alta de 1 ponto percentual, para 7,25% ao ano.

Na ata, a autoridade monetária sugeriu que, apesar de manter o mesmo ritmo, o ciclo de alta pode ser mais longo e terminar em patamares mais elevados para levar a inflação à meta.

“Em segundo lugar, simulações com trajetórias de elevação de juros que mantêm o ritmo atual de ajuste, mas consideram diferentes taxas terminais, sugerem que o atual ritmo de ajuste é suficiente para atingir patamar significativamente contracionista e garantir a convergência da inflação para a meta em 2022, mesmo considerando a assimetria no balanço de riscos”, continuou a ata.

O BC afirmou ainda que precisa de mais informações para avaliar a atividade econômica e a persistência dos choques inflacionários.

“Finalmente, o peso de itens voláteis nas revisões das projeções de inflação de curto prazo e o ineditismo do processo de readequação econômica pós-pandemia reforçam o benefício de acumular mais informações sobre o estado da economia e a persistência dos choques em vigor”, afirmou.

De acordo com o cenário básico do BC, as projeções de inflação estão “ligeiramente acima” da meta para 2022 e ao redor da meta para 2023. O Copom reiterou que riscos fiscais permanecem puxando as expectativas para cima.

“O Comitê ponderou que os riscos fiscais continuam implicando um viés de alta nas projeções. Essa assimetria no balanço de riscos afeta o grau apropriado de estímulo monetário, justificando assim uma trajetória para a política monetária mais contracionista do que a utilizada no cenário básico”, destacou.

Sobre a atividade econômica, o BC reiterou visão otimista e afirmou que, mesmo com dados de alta frequência “marginalmente mais negativos”.

“O Comitê manteve a visão de uma retomada robusta da atividade no segundo semestre, na medida em que os efeitos da vacinação sejam sentidos de forma mais abrangente”, projetou.

“Os membros do Copom discutiram a evolução da atividade econômica doméstica à luz dos indicadores e informações disponíveis. Ao resultado do PIB do segundo trimestre ligeiramente melhor que o esperado, seguiram-se divulgações de alta frequência marginalmente mais negativas, ainda que evoluindo favoravelmente”, pontuou a ata.

Na visão do BC, isso ocorreu porque parte do crescimento esperado para o segundo semestre foi antecipado e de dificuldades nas cadeias produtivas.

“Parte dessas revisões decorre de uma antecipação do crescimento esperado para alguns dos setores mais atingidos pela pandemia; outra parte deriva da menor produção industrial decorrente da manutenção de dificuldades nas cadeias de suprimentos”, destacou.

Para 2022, o Copom disse considerar que o crescimento da economia será beneficiado pela recuperação do mercado de trabalho e do setor de serviços, “mesmo que em menor intensidade do que se antecipava anteriormente”, pelo desempenho de setores menos ligados ao ciclo de negócios, como agropecuária e indústria extrativa, e por resquícios do processo de normalização da economia conforme a crise sanitária arrefece.

Nas últimas semanas, o mercado tem revisado para baixo as expectativas de alta do PIB (Produto Interno Bruto) de 2022. De acordo com a pesquisa Focus, em que o BC divulga projeções de instituições financeiras e casas de análise, economistas esperam que a economia cresça 1,57%. Há quatro semanas, a estimativa era de 2%.

Sobre o mercado de trabalho, o Copom discutiu sobre a evolução do emprego.

“O recuo da taxa de desocupação com crescimento da força de trabalho e da população ocupada indica que o mercado de trabalho segue em recuperação. Todavia, os níveis das duas últimas variáveis ainda consideravelmente abaixo dos observados antes da pandemia sugerem hiato remanescente no mercado de trabalho”, afirmou.

“Diante da diferença entre os principais indicadores do emprego no segmento formal -PNAD Contínua e Novo Caged, sendo que o último mostra recuperação mais robusta do que o primeiro- permanece a dificuldade de avaliação do efetivo estado do mercado de trabalho”, ponderou.

Por Larissa Garcia

 

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