‘What If…?’ mostra como a Marvel pode se perder com tantas realidades paralelas

Série estreia como mais uma a flertar com histórias alternativas no universo dos heróis, estratégia que tem seus riscos

O que aconteceria se uma agente britânica tivesse entrado na máquina que transformou Steve Rogers no poderoso Capitão América? E se T’Challa tivesse sido abduzido por extraterrestres e impedido de assumir o trono de Wakanda? Ou se o Homem de Ferro virasse um zumbi comedor de cérebros?

Essas e outras perguntas são respondidas por “What If…?”, a quarta série do chamado Universo Cinematográfico Marvel, o MCU, que estreia nesta semana no Disney+. Como o nome –que ficou sem tradução para o português– sugere, o desenho brinca com o que poderia ter acontecido aos heróis do estúdio caso suas histórias tomassem caminhos diferentes.

Primeira produção animada do MCU, a série antológica mostra, a cada episódio, novas versões de super-heróis já bem conhecidos pelo público, buscando inspiração nos quadrinhos homônimos lançados na década de 1970.

Mas seriam essas novas tramas apenas possibilidades remotas ou elas de fato existem e se desenrolam simultaneamente ao que já vimos nos últimos anos da Marvel nos cinemas?

Pelos rumos de outros filmes e séries do estúdio, “What If…?” mais parece um banquete de realidades paralelas do que um exercício despretensioso de criatividade.

A ideia de que o Universo Cinematográfico Marvel vai se expandir e virar um multiverso cinematográfico já vem sendo ventilada há algum tempo, principalmente depois que a animação “Homem-Aranha no Aranhaverso” abriu essa porta.

Vencedor do Oscar, o longa acompanha Miles Morales, uma das identidades do herói aracnídeo, tentando fechar um portal que conecta diversas realidades alternativas –numa delas, o Homem-Aranha é uma mulher, por exemplo.

Já em 2019, a versão em live-action do personagem, interpretada por Tom Holland, também flertou com essa ideia, ao incluir nos momentos finais de “Homem-Aranha: Longe de Casa” uma aparição de John Jonah Jameson, jornalista vivido por J. K. Simmons nos filmes do aracnídeo dos anos 2000 –quando Tobey Maguire encarnava o protagonista.

Além disso, está o fato de Alfred Molina, ator que fez o vilão Doutor Octopus na era Maguire, estar confirmado para aparecer em “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”, que deve ser lançado em dezembro. Os fãs foram rápidos ao criar teorias que afirmam que todos os filmes já feitos do aracnídeo vão convergir nas telas, com diferentes versões de um mesmo personagem contracenando.

“Isso sempre fez parte do apelo da Marvel, então é divertido ver que o MCU finalmente chegou a um ponto em que é possível incluir isso”, diz Bryan Andrews, diretor dos episódios de “What If…?”, sobre a possibilidade de vermos realidades paralelas se cruzando nos filmes e séries da companhia.

De fato, nos quadrinhos, é comum haver diferentes versões para um mesmo herói, e em várias ocasiões linhas narrativas diferentes se encontraram nas páginas. Já nas telas, as teias do Homem-Aranha não foram as únicas que deixaram rastros desses planos ambiciosos.

Desde que comprou a Fox em 2017, a Disney tem à disposição uma série de personagens da Marvel com direitos que antes pertenciam ao estúdio rival –e que, portanto, não podiam aparecer no MCU. Eles são, notavelmente, os membros do Quarteto Fantástico, que estão na fila para ganhar um novo filme, e os X-Men.

Hugh Jackman, nesta semana, já deu uma resposta definitiva de que não voltará ao papel de Wolverine nos cinemas. Mas ele andou publicando fotos ao lado de Kevin Feige, produtor e arquiteto do MCU, não fechando totalmente a porta para participações especiais. Dessa forma, é possível que diferentes versões do mutante com garras metálicas se encontrem no futuro.

Essa ideia de que um mesmo personagem pode se multiplicar e habitar diferentes narrativas se tornou um pouco mais concreta no mês passado, com o fim da série “Loki”, também do Disney+. Nela, descobrimos que há um guardião supervisionando todo o universo no qual os filmes da Marvel são ambientados, garantindo que linhas do tempo alternativas não sejam criadas –só que ele foi morto.

O criador da série, curiosamente, é ainda o roteirista de “Doctor Strange in the Multiverse of Madness” –algo como Doutor Estranho no multiverso da loucura–, previsto para estrear no ano que vem. Ele também é responsável por assegurar o bom funcionamento da nossa realidade, o herói de Benedict Cumberbatch tem poder suficiente para ramificar as histórias do MCU que acompanhamos há alguns anos.

Em meio a esse emaranhado de personagens, cenários, anos e universos, no entanto, fica uma preocupação comum a muitos fãs nas redes sociais -a Marvel pode acabar perdendo a mão nessa expansão aparentemente infinita de suas histórias?

Bryan Andrews, o diretor de “What If…?”, acredita que não. Segundo ele, Kevin Feige tem seus planos sob controle. “O amor que nós temos por esses personagens e a vontade de ver no que eles vão se meter nos motiva a retornar para essas histórias”, diz sobre a possibilidade de nunca dizermos, de fato, adeus a gente como Steve Rogers, Tony Stark e Natasha Romanoff –os dois últimos, o Homem de Ferro e a Viúva Negra, mortos em “Vingadores: Ultimato”.

“What If…?”, afinal, nada mais é que uma inesgotável fonte de possibilidades para que esses e outros personagens se mantenham vivos nas telas. O problema que precisará ser enfrentado, agora, é o perigo de que o MCU se torne hermético –é só fugir um pouco da faixa etária de adolescentes e jovens adultos para notar que parte do público já não consegue acompanhar tudo isso.

Falamos, afinal, de uma franquia que terá lançado uma dezena de títulos, entre filmes e séries, só neste ano. Se já é difícil acompanhar as histórias assim, com todos os heróis vivendo numa mesma realidade, num mesmo tempo presente, pense em como será quando os complexos multiversos estiverem estabelecidos.

Em meio a tantas linhas narrativas, uma realidade paralela em que o MCU já não reina supremo e se tornou produto de nicho pode estar surgindo –mas só o tempo dirá se Feige sabe mesmo o que está fazendo.

WHAT IF…?
Onde: Disponível no Disney+
Classificação: 14 anos
Produção: EUA, 2021
Criação: A.C. Bradley

Por Leonardo Sanchez

 

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