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Em Brasília, Orquestra Sinfônica traz concertos internacionais gratuitos em setembro

Apresentações acontecem às terças-feiras, no Teatro Plínio Marcos, no Eixo Cultural Ibero-Americano, com maestros convidados. Veja a programação

Foto: Arquivo pessoal

Três concertos internacionais, três maestros convidados, três solos de piano, um de violino e mais uma edição do ciclo dedicado ao repertório de Beethoven marcam a programação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS) para este mês.

Regente da orquestra, o maestro Claudio Cohen dá detalhes:  “Começamos pelo francês, com obras de Maurice Ravel, Gabriel Fauré e da compositora Lili Boulanger, e em seguida teremos o concerto espanhol, destacando Manuel de Falla e Joaquim Turina. Na sequência, será a vez do repertório clássico chinês, no qual apresentaremos ao grande público composições daquele país”.

A maestrina francesa Nathalie Marin apresenta peças de Gabriel Fauré (1845-1924) e Maurice Ravel (1875-1937) e afirma: “É preciso saber que Ravel foi aluno de Fauré. Masques et Bergamasques [de Fauré] é uma comédia musical, inspirada pela commedia dell’arte [forma de teatro italiano com tipos mascarados, pantomima e estereótipos populares], muito fresca, poética e animada. Ravel, por sua vez, é o mestre da orquestração. Concerto para Piano é uma peça de grande colorido, cheia de detalhes e finesse. E teremos a presença de Fábio Martino, esse grande pianista brasileiro, que vai nos dar sua interpretação dos diálogos e contrapontos entre piano e orquestra”.

Lili Boulanger

O público da OSTNCS terá também, nesse dia, a oportunidade de conhecer mais sobre Lili Boulanger (1893-1918), musicista prodigiosa no piano, violino, violoncelo e harpa. Ela foi a primeira mulher a vencer o Prix de Rome, considerado o prêmio de composição mais importante do mundo.

Lili teve como tutor Gabriel Fauré, que era amigo de sua família, toda ela de músicos, e descobriu que a menina tinha ouvido absoluto. “É uma das poucas compositoras francesas muito interpretadas, com sucesso internacional e que infelizmente morreu aos 24 anos. D’un matin de printemps é uma obra suave, primaveril, vívida e brilhante”, descreve a regente, cuja carreira se divide entre os repertórios sinfônico e lírico.

Elogiado por Nathalie Marin, o pianista Martino fala sobre a composição de Ravel: “Eu gosto muito dessa obra, sempre gostei dela, e cada vez que a executo eu sempre encontro algo de novo. O segundo movimento desse concerto é um dos mais bonitos que já foram escritos na história da música. É muito especial o diálogo que o piano faz com o resto da orquestra”.

Ele destaca um ponto de interesse especial para o público: “É interessante que o piano toca da primeira à última nota nesse movimento, sem nenhuma pausa. Toda vez que eu apresento esse movimento, vem primeiro uma sensação de liberdade e de descobrimento do infinito. Para mim, esse movimento representa isso, o infinito, algo que a gente não consegue alcançar. É difícil transformar em palavras o sentimento que esse movimento provoca, mas acredito que os ouvintes vão entender. É uma delícia tocar esse concerto”.

O pianista iniciou seus estudos aos cinco anos de idade no piano que pertenceu à avó, professora de música. Após anos de formação no Brasil e na Alemanha, classificou-se no primeiro lugar em concurso patrocinado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e, desde então, vem acumulando outras premiações internacionais. Ele possui também uma extensa discografia, que inclui a gravação, em 2019, do Concerto para Piano nº 1 de Rachmaninoff, com a Filarmônica de Stuttgart. Outro destaque na carreira de Martino é o álbum Latin Soul, que reúne compositores da América Latina.

Espanha e China

A apresentação dedicada ao repertório espanhol ficará a cargo do maestro Marc Moncusi. “Nesse concerto, poderemos desfrutar de duas das melhores obras da literatura musical espanhola de todos os tempos”, conta, em referência à Sinfonia Sevillana, de Joaquín Turina, e à Suíte nº 2 de El Sombrero de Três Picos, de Manuel de Falla. “Também interpretaremos o conhecidíssimo Concerto para Piano e Orquestra nº 2, de Rachmaninoff, sem dúvida um dos melhores e mais conhecidos do repertório universal de todos os tempos”.

Para esse concerto, Moncusi contará com a presença do jovem pianista espanhol Martín García, ganhador do Concurso Internacional de Piano de Cleveland em 2021 e do prêmio do Concurso Chopin de Varsóvia no mesmo ano. O currículo do maestro revela uma carreira musical ampla e variada, com destaques tanto no campo sinfônico e operístico quanto no balé, além de música contemporânea.

Caberá ao diretor artístico e maestro da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Evandro Matté, conduzir a OSTNCS na apresentação do Concerto Chinês. Antes Ele explicou que ainda está se familiarizando com as peças do repertório asiático, que nunca tocou, e propôs incorporar ao programa uma peça de Villa-Lobos (1887-1959), o Choro nº 6, que terá o solista chinês Xuan Du no violino.

“Gosto muito de um texto de Villa-Lobos sobre os choros representarem uma nova forma de composição musical, na qual são sintetizadas as diferentes modalidades da música brasileira indígena e popular, tendo por elementos principais o ritmo e melodias típicas”, comenta Matté. “Em texto posterior, Villa-Lobos acrescenta que os choros são construídos com base nas manifestações sonoras dos hábitos e dos costumes dos nativos brasileiros, assim como nas impressões psicológicas que trazem certos tipos populares, extremamente marcantes e originais.”

Iniciando-se no trompete aos sete anos de idade, Matté, aos 15, já integrava a Orquestra Sinfônica de Caxias do Sul (RS), sua cidade natal. Ele estudou no conservatório ligado à Sinfônica de Porto Alegre e, aos 19 anos, assumiu a cadeira de trompetista da orquestra, posição que ocupou por 25 anos. Deixa clara a admiração por Villa-Lobos: “Ele utiliza elementos da natureza, como cor, temperatura, luz, canto dos pássaros… Mesmo utilizando a escrita tradicional da música de concerto, Villa-Lobos lança mão de elementos de percussão que refletem a música brasileira, e consegue ser totalmente original”.

Imperador

O último concerto do mês, dedicado a Ludwig van Beethoven (1770-1827), dentro do ciclo do compositor germânico, terá como solista no Concerto para Piano e Orquestra nº 5 em Mi Bemol Maior Op. 73, Imperador a pianista russa radicada em Brasília Anastasiya Evsina.

Ela traz uma nota histórica para o músico que revolucionou sua arte: “Em 1809, quando Beethoven compunha esse concerto, a Áustria era bombardeada pelas tropas de Napoleão. Apesar de Beethoven inicialmente admirar Napoleão por seus ideais revolucionários, sentiu-se traído por suas ambições imperialistas, chegando a retirar a dedicatória ao francês na Sinfonia nº 3, Eroica”. Evsina destaca na composição “o estilo típico de Beethoven, representando a luta heroica do ser humano perante adversidades”. E lembra que “Imperador é notavelmente mais pessoal que outras composições clássicas da época, antecipando o surgimento do romantismo”.

A pianista, cuja paixão pelo instrumento se manifestou aos quatro anos, coleciona performances aclamadas em palcos como o Tokyo Opera City Recital Hall (Japão), o Palácio Nacional da Cultura, em Sófia (Bulgária) e o Rachmaninov Hall, em Moscou (Rússia). “Diferentemente dos concertos de Haydn e Mozart, onde solista e orquestra colaboraram, em Beethoven, o solista se destaca”, pontua. “Seu virtuosismo elevou-se a novos patamares. O 5º Concerto foi considerado por contemporâneos um dos mais desafiadores”.

Anastasiya traduz sua ligação com Beethoven: “Para mim, o Concerto para Piano nº 5 mescla poder majestoso e sensibilidade. No segundo movimento, enxergo a fortaleza do herói e sua ternura. A técnica e o ritmo exigidos são intensos, particularmente no vibrante terceiro movimento. Mesmo diante de adversidades, como sua surdez, Beethoven brindou-nos com esta obra de profunda alegria”.

Programação

 

* Dia 5, às 20h, no Teatro Plínio Marcos (Eixo Cultural Ibero-Americano)

Concerto Francês
→ Lili Boulanger – D’un matin de printemps
→ Maurice Ravel – Concerto para Piano
Solista – Fábio Martino (Piano)
→ Gabriel Fauré – Masques et Bergamasques
→ 
Maurice Ravel – Le Tombeau du Couperin
Regente Nathalie Marin (França)

 

* Dia 12, às 20h, no Teatro Plínio Marcos

Concerto Espanhol
→ 
Manuel de Falla – El Sombrero de Três Picos, Suíte nº 2
→ 
Joaquin Turina – Sinfonia Sevillana
→ 
Sergei Rachmaninov – Concerto para Piano nº 2
Solista – Martin Garcia (piano)
Maestro Marc Moncusi

 

* Dia 19, às 20h, no Teatro Plínio Marcos

Concerto Chinês
→ 
Autor desconhecido – Jiangsu Ballad/Jasmine Flowers
→ 
Chen Gang e He Zhanghao – Butterfly Lovers – Concerto para Violino e Orquestra
→ 
Villa-Lobos – Choros nº 6
Solista Xuan Du (violino)
Maestro Evandro Matte

 

* Dia 26, às 20h, no Teatro Plínio Marcos

Ciclo Beethoven 2023
→ Abertura As Ruínas de Atenas Op. 113
→ Sinfonia nº 8 em fá maior Op.93
→ 
Concerto para Piano e Orquestra nº 5 em Mi Bemol Maior Op. 73, Imperador
Solista – Anastasiya Evsina (piano)
Maestro Claudio Cohen.