‘Cavaleiro da Lua’, da Marvel, tem Oscar Isaac e Ethan Hawke debatendo justiça

Na série, um ex-agente da CIA que é cooptado por um deus egípcio da ficção para ser seu "avatar"

Desde que se lançou nas séries com o Disney+, o Universo Cinematográfico Marvel vem deixando para o formato serializado algumas de suas tramas mais adultas e contemporâneas. Enquanto “WandaVision” era uma comédia nostálgica que se transformava num ensaio sobre o luto, “Loki” bombou nas redes com sua ficção científica complexa e “Falcão e o Soldado Invernal” pôs o racismo em pauta.

Agora, “O Cavaleiro da Lua” estreia propondo uma discussão ainda mais delicada -e, portanto, protagonizada por um herói que, talvez, mais pareça o vilão da história para alguns espectadores.

Na série, inspirada num quadrinho menos pop da coleção da Marvel, seguimos Marc Spector, um ex-agente da CIA que é cooptado por um deus egípcio da ficção para ser seu “avatar” -uma espécie de apóstolo- na Terra. Seu maior dever é desmantelar uma organização liderada por Arthur Harrow, um líder excêntrico e populista que representa uma outra divindade.

Seu discurso é carismático -afinal, ele oferece abrigo e comida aos pobres, tem uma tranquilidade e autocontrole invejáveis e se apresenta como uma pessoa simples, quase franciscana-, mas esconde um propósito, no mínimo, questionável.

Com o poder que foi concedido a ele por sua deusa egípcia, ele é capaz de sentir se uma pessoa é boa, ruim ou se vai se tornar uma coisa ou outra -e, se há maldade em seu futuro, Harrow a mata sem rodeios, numa espécie de justiça prévia à la “Minority Report: A Nova Lei”.

“Há uma ideia interessante na série sobre como seria um mundo sem pecado. Esse país [os Estados Unidos] hoje pensa que algo é totalmente bom ou totalmente ruim, e nada é assim”, diz Ethan Hawke, intérprete de Harrow.

“Esse dualismo nos gera problemas, porque queremos que as coisas sejam isso ou aquilo, mas a vida é muito mais complexa. Meu personagem quer criar um mundo sem pecado, mas não há vida sem morte.”

As duas divindades egípcias da história -o Cavaleiro da Lua e Harrow- se opõem justamente por causa desse dualismo. O primeiro acredita que todos merecem o benefício da dúvida, enquanto o segundo acha que, para criar um mundo melhor, é preciso fazer justiça com as próprias mãos e eliminar o mal pela raiz.

Segundo Hawke, o debate é bastante atual, especialmente no desenrolar do conflito na Ucrânia. “Essa discussão entre violência e não violência, agir e não agir, está sempre presente. Meu personagem se apega à ideia de que a cura é parte do veneno, algo usado para justificar guerras, por exemplo.”

O ator de “Antes do Pôr do Sol” e “Boyhood” reforça que há em “Cavaleiro da Lua” uma mensagem para os “tempos voláteis” em que vivemos, que dialoga com a Ucrânia, mas também com a pandemia, a crise do clima e as demandas por justiça social. Se a conversa tivesse acontecido alguns dias depois do Oscar, talvez Hawke até lembrasse o tapa que Will Smith deu em Chris Rock como um desses momentos em que nos questionamos se a violência é a melhor saída.

Hawke é mais um astro de Hollywood contratado pela Marvel para estrelar um de seus vários projetos. Ao seu lado, em “Cavaleiro da Lua”, está Oscar Isaac, que começa a série como um atrapalhado atendente da loja de lembrancinhas do Museu Britânico, em Londres. Por sofrer do que acredita ser sonambulismo, ele se acorrenta à cama todas as noites -mas, na verdade, ele acorda na madrugada a mando do deus Khonshu, sem saber.

Hawke diz que o que chamou a sua atenção para “Cavaleiro da Lua” foi a possibilidade de trabalhar com personagens pouco conhecidos, o que aliviaria a pressão de ser o rosto de uma adaptação da Marvel e possibilitaria que a trama ganhasse contornos mais independentes, sem seguir tantas fórmulas.

“Eu tenho assistido a todos esses filmes nas últimas duas décadas e tenho muitos amigos que atuaram neles, então sempre me perguntei como seria fazer parte disso”, diz. “Com ‘Cavaleiro da Lua’, notamos que o segredo para o sucesso é mudar, a Marvel não pode ficar só fazendo a mesma coisa, por isso essa série é tão surpreendente.”

Além de Hawke e Isaac, “Cavaleiro da Lua” tem F. Murray Abraham como a voz de Khonshu. No elenco ainda estão Gaspard Ulliel, astro francês morto precocemente em janeiro, após um acidente de esqui, e uma brasileira -Fernanda Andrade, que esteve na franquia “CSI” e no terror “Filha do Mal”.

CAVALEIRO DA LUA

Quando: Disponível no Disney+
Elenco: Oscar Isaac, Ethan Hawke e Gaspard Ulliel
Produção: EUA, 2022
Criação: Doug Moench

Por Leonardo Sanchez 

Sair da versão mobile