“Se Bolsonaro tivesse pedido, teríamos saído do QG”, diz Major Cláudio à CPI da CLDF
Vídeos mostram o major, preso desde março, convocando os apoiadores do ex-presidente Bolsonaro a “encherem as ruas”
Nesta quinta-feira (9), a CPI dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) ouviu o major da Polícia Militar Cláudio Mendes dos Santos, que é apontado como um dos principais líderes do acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília. Vídeos mostram o major, preso desde março, convocando os apoiadores do ex-presidente Bolsonaro a “encherem as ruas” após a divulgação do resultado das eleições.
Apesar dos vários vídeos em que aparece em um carro de som discursando para os acampados, durante depoimento no CPI, o militar negou que exercesse liderança dentro do grupo e afirmou que sua participação nos movimentos não incentivaram os ataques de 8/1.
Ao relator da CPI, deputado Hermeto (MDB), o militar afirmou que o não reconhecimento da derrota nas eleições por parte de Bolsonaro foi um erro, e que foi crucial para o desfecho do que ocorreu em Brasília em janeiro.
“Se o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, tivesse ido uma vez ao acampamento e dito ‘pessoal, vão embora’, todo mundo tinha ido”, afirmou o militar.
Hermeto fez coro à declaração e afirmou que a passividade do ex-chefe do executivo foi determinante para a tentativa de invasão da Polícia Federal, tentativa de ataque a bomba e para as invasões do 8/1.
“O presidente Bolsonaro tinha que ter assumido a derrota, tinha que ter passado a faixa para o presidente Lula, é isso que acontece num país democrático. Ele [Bolsonaro], indiretamente, influenciou todos eles [manifestantes presos]”, afirmou o distrital.
“Minha participação no QG era missionária”
Na oitiva, major Cláudio ainda negou as acusações de que teria ensinado técnicas de guerrilha a outros manifestantes enquanto participava dos acampamentos. Ele alegou que sua participação no QG era “missionária”, que atuava como pastor evangélico, e não como militar. Cláudio Mendes disse ainda que o acampamento teria virado uma espécie de “santuário”, e que tinha um cunho religioso, e não, golpista. “Muitas pessoas foram curadas ali, muitas pessoas receberam orações naquele lugar”, declarou.
O presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), criticou duramente a alegação do major, de que os acampamentos tinham uma natureza religiosa. Para o distrital, os movimentos no QG do Exército tinham caráter golpista, sendo a origem de uma tentativa de tomada do poder.
“Ali naquele acampamento, foi tramada a colocação de uma bomba para explodir a rodoviária de Brasília, o aeroporto e a subestação de energia de Furnas. Não era um santuário, era uma área de terroristas que queriam cessar o processo democrático”, criticou Vigilante.
O major afirmou ainda que o acampamento era “controlado pelo exército”, e que recebiam a visita, inclusive, de ex-magistrados. Ele citou os nomes de Wilson Koressawa, ex-juíz com quem teve, inclusive, uma desavença no QG e de Sebastião Coelho, afirmando que ambos visitavam o acampamento.
Ao relembrar sua carreira militar, o major chegou a se emocionar, classificando como injusta sua prisão. Ele contou que que só foi detido por conta de uma denúncia de sua ex-esposa, com quem teria desavenças. Disse ainda que se arrepende da participação nos acampamentos e suplicou ao presidente Lula um induto para si e para diversos manifestantes que estariam “presos injustamente”, segundo alega. “Peço ao presidente Lula que ele haja com misericórdia”, suplicou.
A Comissão cumprirá sua última oitiva no dia 16 de novembro, momento em que será ouvido o Coronel Reginaldo Leitão. O deputado Hermeto afirmou, nesta quinta (9), que ainda em novembro o relatório final da comissão estará pronto.