Rui Costa se retrata após chamar Brasília de ilha da fantasia
Ministro da Casa Civil afirma que declaração polêmica foi 'desabafo'
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, se retratou nesta quarta-feira (7) e disse não ter sido feliz na escolha de palavras ao ter chamado Brasília de “ilha da fantasia” no final da semana passada.
A declaração foi alvo de críticas de políticos da direita à esquerda do Distrito Federal, inclusive do governador, Ibaneis Rocha (MDB).
“Ao citar Brasília como centro do poder político, não fui feliz nas minhas palavras, o que permitiu que alguns transformassem a minha declaração em um ataque à cidade ou ao seu povo”, disse Rui Costa nas redes sociais.
“Quero deixar absolutamente claro que meu desabafo nada tem a ver com brasileiras e brasileiros que vivem na capital, com seus familiares, lutando, sonhando e passando dificuldades como tanta gente em todas as cidades do país.”
O ministro, contudo, não chegou a se desculpar diretamente.
O que o ministro classificou como desabafo foi uma declaração ocorrida em um evento na Bahia, na última sexta-feira (2), em que disse que a capital federal é uma ilha da fantasia.
“Brasília é difícil. É difícil porque lá fazer o certo, para muitos, está errado. E fazer o errado, para muitos, é que é o certo na cabeça deles”, discursou, durante inauguração em Itaberaba.
O ex-governador da Bahia disse ainda que a transferência da capital do Brasil para “longe da vida das pessoas”, na sua opinião, fez muito mal ao país.
Ao relatar uma reunião ocorrida na véspera, o ministro contou ter dito aos participantes que teria sido melhor manter a sede dos Poderes no Rio de Janeiro, ou levar para São Paulo, Minas Gerais ou mesmo de volta para a Bahia, para que as pessoas se deparassem com a fome, a miséria e o desemprego antes de entrar na Câmara e no Senado.
“Vocês podem ter certeza. Brasília não vai me mudar e eu vou lutar com todas as minhas forças para mudar Brasília e mudar aquele jeito de encarar o que é coisa pública. Eu chamo aquilo de ilha da fantasia”, disse.
A fala do homem forte do governo Lula (PT) gerou mal-estar até entre aliados. A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) disse que a declaração é “típica de quem não conhece a cidade e o DF”.
“Se existe uma ‘ilha da fantasia’, ela é habitada justamente por quem só consegue enxergar aqui tapetes e gabinetes. Se ele quisesse criticar o sistema político, composto majoritariamente por pessoas de fora de Brasília, que o fizesse diretamente, sem ofender a cidade”, disse a parlamentar.
“Convido o ministro a conhecer a riqueza da nossa gente e da nossa cultura. Assim, tenho certeza que ele aprenderá a respeitar Brasília, o DF e o seu povo”, completou.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, foi ainda mais duro. Ao portal Metrópoles chamou o ministro de “idiota completo”.
“Ele é um idiota completo. Não merecia estar onde se encontra. Agora já sabemos de onde vem o ataque contra o Fundo Constitucional”, afirmou.
‘A GENTE SABE QUE GOVERNO É RALLY’, DIZ PADILHA
Também nesta quarta, o ministro da articulação política, Alexandre Padilha, classificou governo como “rally”, reconhecendo as dificuldades do terceiro governo de Lula, e admitiu receber de parlamentares sugestões, inclusive para troca de ministros.
“A gente sabe que governo é rally, aqueles que você tem estrada, buraco, obstáculos. Você troca motorista, pneu, mas o que importa é o caminho que está sendo seguido”, disse, em entrevista à GloboNews.
O ministro da Secretaria de Relações Institucionais também afirmou que, em conversas, entrou em debate eventuais trocas de ministros, como sugestão de parlamentares, mas não citou nomes. A respeito de Daniela Carneiro (Turismo) e Nísia Trindade (Saúde), citadas pelo centrão como nomes para reforma ministerial, Padilha foi elogioso.
“O presidente Lula tem avaliação extremamente positiva das duas ministras, Daniela e Nísia. Em nenhum momento, isso entrou em discussão, inclusive pelo trabalho das duas. Agora, era absolutamente natural a gente receber avaliações dos ministros que estão nas pastas. Esse tema entrou em debate naquele rally que estamos tendo de sugestão dos partidos, de poderem fazer avaliação”, afirmou.
No caso específico do Turismo, Padilha também disse que sempre existiu debate dentro da União Brasil sobre o perfil dos ministros que têm no governo: Juscelino, nas Comunicações; Waldez Góes, em Integração e Desenvolvimento Regional; e a Daniela.
A ministra, que também é deputada, pediu desfiliação da sigla ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), abrindo uma crise com a legenda. A União Brasil, apesar de ter três pastas, não tem votado 100% alinhado com o Planalto no Congresso.
Há uma disputa hoje pelo Turismo. O partido quer substituir Daniela por outro nome, mas o seu marido e prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho, é aliado de Lula e tem lutado contra essa possibilidade. Ele já se filiou ao Republicanos e, na terça-feira, esteve reunido com Padilha.
Segundo o próprio ministro disse na entrevista à GloboNews, ele fez questão de ressaltar a eles que o trabalho de Daniela é “muito importante”, e chamou articulações por reforma ministerial de “bolsa de apostas”.
Por Marianna Holanda