Réu confesso da morte de Letícia Curado, Marinésio dos Santos vai a júri popular na segunda (21/6)

Em meio as buscas pelo criminoso Lázaro Barbosa, foragido há dez dias após matar uma família em Ceilândia, outro caso de repercussão e que chocou o Distrito Federal volta a ganhar novos capítulos

Em meio as buscas pelo criminoso Lázaro Barbosa, foragido há dez dias após matar uma família em Ceilândia, outro caso de repercussão e que chocou o Distrito Federal volta a ganhar novos capítulos. Na próxima segunda-feira (21/6), o cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto vai a júri popular pelo assassinato de Letícia dos Santos Curado de Melo, em 23 de agosto de 2019.

O julgamento ocorre a partir das 9h, no Tribunal do Júri de Planaltina. Na época do crime, a advogada tinha 26 anos e seguia para o trabalho, no Ministério da Educação (MEC) onde trabalhava como terceirizada, quando foi abordada e pegou uma carona com o maníaco.

Um mês após o crime, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) denunciou Marinésio pelo homicídio qualificado de Letícia. Como qualificadoras, a Promotoria de Justiça apontou feminicídio, motivo torpe, meio cruel, dissimulação e crime praticado para assegurar impunidade de outro delito. Ele também responde por tentativa de estupro, furto e ocultação de cadáver.

Além de Letícia, Marinésio também foi indiciado pelo homicídio duplamente qualificado da auxiliar de cozinha Genir Pereira de Sousa, 47anos. A mulher que trabalhava como empregada doméstica desapareceu no dia 2 de junho e o corpo dela foi encontrado dez dias depois.

A defesa de Marinésio já tem uma linha para seguir no julgamento. O advogado do réu Marcos Venicio Fernandes Aredes disse que vai trabalhar para tirar duas qualificadores e tentar absolver o cozinheiro dos crimes de furto e estupro.

“A nossa linha vai se basear no que consta nos autos. As provas colhidas e os laudos anexos em processo não comprovam esses crimes”, disse.

Marinésio cumpre pena no Complexo da Papuda, na PDF I, onde compartilha a cela com outros doze condenados. Segundo o advogado, ele mantém um bom comportamento e relacionamento com os demais detentos.

Marinésio dos Santos Olinto réu confesso da morte de Letícia Curado. Foto: Reprodução

Saudade além do tempo

Um ano e dez meses após o assassinato da esposa, falar da Letícia ainda é extremamente delicado para o viúvo, Kaio Fonseca, 27 anos. Em entrevista ao Mais Brasília, o homem relata que a dor ainda o acompanha diariamente e que muitas vezes se sente perdido sem a presença da companheira.

“Tem dias que estou mais acostumado e tem dias que dói bastante. A Letícia organizava tudo na minha vida e, sem ela, parei de fazer planos, não tenho ânimo pra mais nada, não trabalho…”, lamentou.

Testemunha no caso, Kaio relata que o filho do casal, hoje com cinco anos, já sabe o que aconteceu com a mãe. Segundo o homem que, atualmente está desempregado, a criança só não entende a crueldade do crime.

“Meu filho está bem porque ele é muito forte. Precisei conversar com ele sobre o que tinha acontecido e, do jeito dele compreendeu. Na cabeça dele, da forma como ele entende é como se a mãe estivesse em algum lugar e um dia ele fosse encontrar ela. Muitas vezes ele que segura a minha barra e me dá forças, mas a ausência da mãe é nítida na vida dele”, declarou à reportagem.

Kaio Fonseca ainda contou que vive dias confusos e uma mistura de sentimentos. Atualmente, morando sozinho em um apartamento na cidade de Planaltina, ele relata que a ausência da esposa ainda é muito sentida. Ele confessa que não vê fotos, nem vídeos ou nenhuma lembrança que remeta a Letícia porque apesar da saudade, ainda sente muita raiva de tudo o que aconteceu.

No último dia das mães, celebrado em 8 de junho, em um desses momentos de fúria misturado com amor, ele escreveu um texto para a esposa. O material que não foi publicado nas redes sociais e foi cedido para a reportagem fala sobre a falta que Letícia faz na vida dele e do filho. Veja o conteúdo na íntegra:

“Tem dias que seus olhos não vão conseguir segurar suas lágrimas, na cabeça começará uns clarões que nos seus olhos se transformam em vultos brancos, com isso seu cérebro começa a lembrar da saudade dela, uma saudade que espanca seu coração de uma forma que o desespero bate tão forte no peito você já não sabe mais o que fazer. Pra um homem se sentir impotente é a pior parte, hoje me sinto impotente e dividido, dividido entre o amor que Letícia me deixou e o ódio que o Marinésio colocou em mim.
Datas sempre foram importantes pra Letícia, ela sempre gostou de dar os melhores presentes. Olhar pro meu filho no dia do aniversário dele e no dia das mães é mais doloroso do que se imagina, saber que ela não está mais aqui pra abraçar e falar que ela era a melhor mãe que eu poderia dar pro meu filho, dói de mais, é a hora que a lágrima cai, a raiva vem e eu simplesmente desabo embaixo do chuveiro, escondido e acanhado com medo que alguém me veja tão destruído e acabado.
Não se enganem, não tenho medo de demonstrar fraqueza, o problema é que a minha tristeza vira um efeito dominó, quando demonstro tristeza para quem está perto de mim, a tristeza toma conta do lugar, e ver pessoas triste por minha causa dói mais ainda, só espero que Deus esteja no controle, porque muitas vezes eu não estou…”

A reportagem também procurou Kênia Sousa, mãe da advogada, mas ela não respondeu as mensagens e não atendeu as ligações.

Letícia Curado, morta em 23 de agosto de 2019 quando seguia para o trabalho. Foto: Reprodução

Relembre o caso

Era por volta de 8h da manhã da sexta-feira, 23 de agosto de 2019, quando Letícia Curado foi para um ponto de ônibus entre o Vale do Amanhecer e a DF-230. Ali, a advogada ia seguir para o local de trabalho, o Ministério da Educação (MEC), na Esplanada dos Ministérios.

Marinésio se aproximou do local, em uma blazer preta. Para Letícia ele afirmou ser motorista de transporte pirata. Dentro do carro, o homem tentou forçá-la a ter relações sexuais. Letícia se recusou e reagiu. Marinésio, então, esganou a vítima e a matou asfixiada.

O homem ainda escondeu o cadáver dentro de uma manilha às margens da rodovia. No dia do crime, a polícia ainda concluiu que ele furtou os pertences de Letícia: um relógio, um pen-drive, um nécessaire e um aparelho celular. Os objetos foram apreendidos dentro do veículo quando ele foi preso em flagrante.

O corpo da funcionária terceirizada do MEC foi encontrado em 26 de agosto de 2019, três dias após o crime.

 

 

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