PCDF faz operação no Rio para desarticular grupo especializado no golpe do consignado

Policiais civis cumpriram 31 mandados judiciais, na manhã desta quarta-feira (5/10)

Na manhã desta quarta-feira (5/10), policiais civis da 9ª Delegacia de Polícia (Lago Norte), com o apoio operacional da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ), cumpriram 31 mandados judiciais, sendo duas prisões temporárias, sete prisões preventivas, nove buscas e apreensões e 13 sequestros de bens e valores. O alvo da megaoperação é uma organização criminosa especializada no golpe do consignado.

Em decorrência da legislação eleitoral que proíbe o cumprimento de prisões entre cinco dias antes e 48 horas após a eleição, a equipe manteve acompanhamento dos alvos, deflagrando a operação nos primeiros minutos desta manhã.

De acordo com as investigações, o grupo montou uma empresa de fachada chamada Global Intermediações Promotora LTDA. Essa empresa possuía cerca de 30 funcionários e funcionava como um call center, assediando pessoas em todo o Brasil, oferecendo créditos consignados. Os criminosos ligavam para pessoas que já possuíam créditos consignados e ofertavam uma falsa portabilidade para outro banco com supostas taxas de juros e parcelas menores.

A vítima era induzida a fornecer toda a documentação e aceitar a portabilidade. Na verdade, os golpistas obtinham um novo empréstimo em nome da vítima que acabava com duas dívidas: a original e a nova obtida fraudulentamente.

Após o golpe, os criminosos bloqueavam os celulares e as vítimas ficavam sem ter a quem recorrer. Com o desconto em seus contracheques dos novos empréstimos, diversas vítimas ficaram com a própria subsistência comprometida.

A investigação da PCDF demonstrou que o núcleo da organização criminosa era composto pela mesma família (mãe, filho e nora). A nora ainda usou o nome do irmão (motoboy) para figurar como proprietário laranja da Global Intermediações.

Para evitar serem localizados, sistematicamente mudavam de endereços e escritórios no Rio de Janeiro, trocavam de chips de celular e contatos de WhatsApp, o que deixava as vítimas perdidas.

Vítimas e prejuízos

No Distrito Federal, foram localizadas cinco vítimas, com prejuízos entre R$ 90 mil e R$ 230 mil. A investigação também localizou outras dezenas de vítimas espalhadas em diversos estados do território nacional, entre eles, PR, SC, PE, RJ, GO, AL, RS, BA.

Após efetivarem tantas vítimas e o nome da empresa ficar “queimado” em sites de reclamações, eles abandonaram o CNPJ e abriram outro para iniciar o ciclo novamente. O esquema movimentou cerca de R$ 3,5 milhões.

Todas as pessoas que foram vítimas dessa mesma empresa devem registrar ocorrência policial nos seus respectivos estados ou procurar a 9ª Delegacia de Polícia. Cada nova vítima encontrada representa adicionais de quatro a oito anos de prisão passíveis de serem imputados ao grupo.

Vazamento de dados

A investigação também revelou que está ocorrendo um sistemático vazamento dos dados pessoais da população brasileira. Conforme a PCDF, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) está sendo desrespeitada e as informações pessoais de milhões de brasileiros estão sendo comercializadas sem qualquer critério, o que facilita toda espécie de golpe.

Todas as vítimas narraram que, quando recebiam as ligações, os criminosos sabiam tudo de suas vidas, valores de empréstimos anteriores e contas bancárias que possuíam. Esse nível de informação fornecia uma falsa imagem de legitimidade das propostas e fazia com que os criminosos ganhassem a confiança das pessoas.

As apurações apontaram também que o mercado de crédito consignado se encontra em descontrole. Os bancos terceirizaram a venda desses produtos aos correspondentes bancários que por sua vez quarteirizam a digitação das propostas nos sistemas dos bancos. As vítimas muitas vezes estão tratando com uma empresa intermediária que depois irá solicitar a outro correspondente bancário a inserção da proposta no sistema do banco.

Ao final, a vítima sequer sabe ao certo quem realmente formalizou sua proposta no banco. Em muitos casos, os bancos possuem responsabilidade solidária nessas contratações fraudulentas, pois estão ocorrendo falhas na fiscalização e controle de seus correspondentes autorizados.

“Essa é a oitava operação deste ano, deflagrada pela 9ª DP, com o objetivo de combater espécies de fraudes eletrônicas. Tentamos demonstrar aos criminosos que pescar vítimas ligando para o DDD (61) não é um bom negócio. O aparente enriquecimento inicial logo vem seguido da forte repressão da PCDF. Por isso o nome da operação Ouro de Tolo, pois o lucro obtido com as vítimas do DF é ilusório e todos os criminosos acabaram presos e com seus bens bloqueados”, destaca o delegado da 9ª DP, Erick Sallum.

“Novamente alertamos a população: é preciso redobrar a atenção e optar sempre que possível pela tratativa pessoal direta na agência bancária. Não aceitem propostas por WhatsApp, tampouco forneçam seus documentos a terceiros sem antes conferir no próprio banco se são agentes realmente autorizados. Sempre desconfiem de propostas boas demais”, completa o delegado.

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