Pastor suspeito de esquema que prometia um ‘octilhão’ de reais a fiéis é transferido para Brasília

Até quinta (5), a PCDF pretende ouvir o depoimento do pastor

Nesta quarta-feira (4), o pastor Osório José Lopes Júnior, principal alvo da Polícia Civil do Distrito Federal e suposto integrante de uma quadrilha criminosa que enganou mais de 50 mil vítimas no Brasil e no exterior, foi transferido para Brasília.

Osório José Lopes Júnior, preso no último dia 21 de setembro, durante a operação policial, segundo as investigações, prometia um ‘octilhão’ de reais a fiéis de lucro em transações financeiras.

A transferência do suspeito foi realizada pela Divisão de Operações Aéreas (DOA) da PCDF, em um voo que chegou à capital às 12h50. O pastor foi detido em um rancho em Sucupira, cidade do interior de Tocantins. Até quinta (5), a PCDF pretende ouvir o depoimento do pastor.

Entenda o caso: 

Em 20 de setembro, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou uma operação para investigar e prender integrantes de uma quadrilha criminosa que aplicou golpes em mais de 50 mil vítimas no Brasil e no exterior.

Segundo a polícia, os golpistas iniciavam conversas com as vítimas pelas redes sociais. Abusando da fé alheia, da crença religiosa e invocando de uma teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara”, os criminosos convenciam as  vítimas, em sua grande maioria evangélicas, a investirem suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias, com promessa de retorno financeiro imediato e rentabilidade estratosférica.

Foi detectada, por exemplo, a promessa de que somente com um depósito (“aporte”) de R$ 25, as pessoas poderiam receber de volta nas “operações” o valor de Um Octilhão de Reais; ou mesmo “investir” R$ 2.000 para ganhar 350 bilhões de centilhões de euros.

Batizada por Operação Falso Profeta, a ação policial foi comandada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Ordem Tributária, vinculada ao Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (DOT/DECOR). Foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva e dezesseis mandados de busca e apreensão, com o objetivo de combater organização que atua na prática de estelionato e outros crimes no Distrito Federal e em várias outras unidades da federação.

A investigação aponta que os suspeitos formam uma rede criminosa organizada, estruturalmente ordenada, hierarquizada e caracterizada pela divisão de tarefas, especializada no cometimento de diversos crimes como falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e estelionatos por meio de redes sociais (fraude eletrônica), com o fim de obter vantagem econômica em prejuízo de milhares de vítimas no Brasil e no exterior que são induzidas a investirem quantias em dinheiro com a promessa de recebimento futuro de valores milionários.

Ainda de acordo com a polícia, o  golpe pode ser considerado um dos maiores já investigados no Brasil, uma vez que foram constatadas, como vítimas, pessoas de diversas camadas sociais e localizadas em quase todas as unidades da federação, estimando-se mais de 50 mil vítimas.

De acordo com a investigação, iniciada há cerca de um ano, o grupo é composto por cerca de duzentos integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas intitulados pastores, que induzem e mantêm em erro as vítimas, normalmente fiéis que frequentam suas igrejas, para acreditar no discurso de que são pessoas escolhidas por Deus para receber a “Benção”, ou seja, as quantias milionárias.

Como instrumento da fraude, os investigados constituem pessoas jurídicas “fantasmas” e de fachada simulando ser instituições financeiras digitais (falsos bancos), com alto capital social declarado, através das quais as vítimas supostamente irão receber suas fortunas.

Para dar aparência de veracidade e legalidade às operações financeiras, os investigados ainda celebram contratos falsos com as vítimas, com promessas de liberação de quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento, que estariam registrados no Banco Central do Brasil (BACEN) e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).

A investigação também apontou movimentação superior a R$ 156 milhões nos últimos cinco anos em cerca de quarenta empresas “fantasmas” e de fachada, e mais de oitocentas contas bancárias suspeitas.

Em dezembro do ano passado, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) prendeu, em Brasília, um suspeito de envolvimento no esquema. A prisão ocorreu após o suspeito ter usado um documento falso em uma agência bancária localizada na Asa Sul, simulando possuir um crédito de aproximadamente R$1 bilhões.

Mas, mesmo após a prisão em flagrante desse suspeito, à época o principal digital influencer da organização criminosa, o grupo continuou a aplicar golpes.

Nessa nova etapa da investigação, em que participaram cerca de cem policiais civis, foi realizado o cumprimento de mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e quatro Estados – Goiás, Mato Grosso, Paraná e São Paulo. Também são cumpridas medidas cautelares de bloqueio de valores, bloqueio de redes sociais e decisão judicial de proibição de utilização de redes sociais e mídias digitais.

Além do DECOR, participaram da operação policiais do Departamento de Polícia Especializada, e das Polícias Civis dos estados de Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

Os alvos poderão responder, a depender de sua participação no esquema, pelo cometimento dos delitos de estelionato, falsificação de documentos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem tributária e organização criminosa.

 

 

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