Não há data prevista para atingir 75% da população vacinada no Brasil, diz especialista

Mudanças no calendário afetam prognósticos, alerta professora da UnB. Ao todo, foram aplicadas 68,8 milhões de doses, sendo 47,6 milhões da primeira e 21,2 milhões da segunda

Esta quarta-feira (9/6) é o Dia Mundial da Imunização, e a cada dia que passa os brasileiros se perguntam quando a população terá uma taxa segura de vacinação. Recentemente,  alguns países divulgaram o sucesso na imunização, e inclusive em alguns já se pode andar sem a máscara. Fatos assim reacendem a esperança na sociedade, em meio à pandemia do novo coronavírus, que se estende há quase um ano e meio no País.

Até o momento, o Ministério da Saúde enviou aos estados e municípios 105,4 milhões de doses de imunizantes contra a Covid-19. Desse total, foram aplicadas 68,8 milhões de vacinas, sendo 47,6 milhões da primeira dose (D1) e 21,2 milhões da segunda dose (D2). Já no Distrito Federal, até terça-feira (8/6), segundo dados da Secretaria de Saúde, 1.033.616 doses foram administradas, sendo 707.124 como D1 e 326.492 como D2.

A professora de imunologia da Universidade de Brasília (UnB), Anamélia Lorenzetti Bocca, ressalta que a vacinação contra a Covid-19 é importante para diminuir o número de infecções e a circulação do vírus no País. “A nossa saída é a vacinação, porque nessa doença a disseminação do vírus é muito rápida, coisa que não víamos em outras infecções, como por exemplo a H1N1”, explica.

“Não é que ela (Covid-19) seja mais letal que as outras doenças, mas infecta muita gente e o número de mortos acaba sendo muito grande. Então, melhorar a resposta imune dessas pessoas que estão nesses grupos de riscos, que podem evoluir para óbito, é extremamente importante”, esclarece a professora da UnB.

Segundo Anamélia Bocca, para equiparar a outros países que começaram a liberar o uso de máscara após a imunização é preciso vacinar 75% das pessoas maiores de 18 anos no Brasil. “O que a gente tem de bem prático, por exemplo, em Serrana (SP), é que eles viram que com 75% da população vacinada já existiam uma queda enorme de pessoas infectadas e de casos de internação e, óbvio, que com redução de pessoas que evoluíram para óbito”.

Ela alerta, no entanto, que para isso ocorrer deveria haver uma maior disponibilidade de imunizantes no País. No Brasil, 11% da população foi imunizada com as duas doses da vacina contra a Covid-19.

“Hoje, a gente tem vários gargalos. O primeiro deles foi a demanda de vacina que passou um mês sem a CoronaVac, que imuniza mais rapidamente, porque estava tendo um atraso na importação da IFA para poder produzir essas vacinas. A gente tinha essa vacina guardada para a segunda dose. Chegou ao ponto em que a maior disponibilidade do último mês foi a da AstraZeneca, cuja segunda dose só acontece depois de 81 a 90 dias”, alega a especialista.

Para a professora, não há como prever quando o Brasil atingirá os 75% da população imunizada, porque o calendário de disponibilidade de doses do Ministério da Saúde muda mensalmente. “A Fiocruz vai passar a produzir sua própria IFA e, com essa mudança na produção de reduzir o número de doses, mas a gente vai receber a da Janssen. Então, a data exata é muito flexível”, esclarece.

 

Baixa adesão

Além da disponibilidade de vacinas, a professora de imunologia cita a baixa adesão da população em tomar a segunda dose. “Se a gente olhar a população acima de 70 anos, não estão todos com a segunda dose e essa campanha já começou há muito tempo”, declara.

“O que está acontecendo é que os governos não estão fazendo vigilância ativa, que seria localizar essas pessoas, telefonar, falar para vir ou ir até a casa para aplicar a vacina. Então, esse é o ponto que não está sendo feito. A gente vê que não é um fator só para o atraso”, avalia Anamélia.

A especialista destaca, ainda, que não é o momento da população escolher a vacina, porque o principal objetivo da vacinação é conter a disseminação do vírus. “A gente precisa que todo mundo entenda que não importa se você vai tomar a vacina com uma eficácia X ou uma vacina que tenha uma eficácia um pouco maior. O ponto é que ela tem que tomar a vacina dentro de uma eficácia menor, porque ela vai está contribuindo para impedir a disseminação do vírus”.

“A vacinação não blinda ninguém do vírus. O que ela faz é tornar o seu organismo mais apto a reagir àquele vírus, o que significa que se eu tomar as duas doses da vacina, eu posso estar infectada, só que com uma doença mais branda. Existem vários relatos no Brasil, vacinaram todos os idosos e, mesmo assim, todos eles infectaram, só que não desenvolveram a doença”, completa.

A especialista orienta que mesmo as pessoas imunizadas devem continuar com os cuidados não farmacológicos, que são utilizar álcool em gel, fazer a limpeza adequada dos locais, usar máscara e manter o distanciamento social.

 

Sensação de alívio

Professora aposentada, Eliete Pereira Gomes, 52 anos. Foto: Arquivo pessoal

 

A professora aposentada Eliete Pereira Gomes, de 52 anos, moradora do Gama, tomou a primeira dose da vacina contra a Covid-19 no dia 2 de junho e conta que se sentiu aliviada ao ser imunizada. “Sensação de alívio, de um pouco de segurança, principalmente por ser hipertensa, mas também de muita alegria”, afirma. “Estava muito ansiosa que a vacinação acontecesse. Nós torcemos tanto por isso. Trouxe esperança”, disse a aposentada.

Apesar da sensação de segurança, Eliete revela que só vai ficar mais tranquila em relação à doença quando receber a dose completa. “Eu vou ficar mais segura a partir da segunda dose. Mas, do jeito que sou, vou continuar me cuidando. Relaxar, jamais. Tem uma galera que já está relaxando com a primeira. Acho muita loucura”, se admira.

Desde o início da pandemia, ela destaca que vem tomando todos os cuidados possíveis para se proteger contra a doença. “Evitando aglomerações, utilizando álcool em gel, álcool 70%, higienizando as mãos, compras, ficando em casa. Só saio para o extremamente necessário. Ainda continuo me cuidando da mesma forma. A minha sobrinha Amanda fala que sou a louca do álcool em gel”.

A professora aposentada também relatou que perdeu um primo, um vizinho e alguns amigos para a Covid-19. “Uma angústia muito profunda pela forma que esse maldito vírus se desenvolve de forma diferente em cada pessoa, e pela velocidade que ele as ceifou. A gente sente muito medo também”, desabafa.

 

Dose de esperança

Jornalista Raquel Bacarin, 46 anos. Foto: Arquivo pessoal

 

Para a jornalista Raquel Bacarin, 46 anos, moradora de Águas Claras, a vacina é uma dose de esperança no caos causado pela gravidade da Covid-19. Raquel foi vacinada há três semanas, com a primeira dose da Astrazeneca, por ter pressão alta. A comorbidade foi adquirida durante a gestação, aos 26 anos.

Por conta da pandemia, Raquel diz que deixou de visitar a família que mora no Mato Grosso do Sul, trancou a matrícula na academia e está em home-office. “Ao cuidar de mim, eu protejo a minha família e também as outras pessoas. A Covid-19 é uma doença muito grave e precisamos estar conscientes disso”, reforça ela.

A jornalista terá a imunização completa em agosto, com a segunda dose. Mas, mesmo após esse período, Raquel explica que vai continuar mantendo todas as medidas de prevenção, com uso da máscara, evitando aglomerações e higienizando as mãos sempre. “Cada um precisa fazer sua parte. A vacina e as medidas de prevenção são as únicas alternativas que temos para evitar a circulação do vírus”, complementa.

 

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