Na caçada por 'serial killer do DF', presença de policiais em estradas de terra é reduzida
FolhaPress

Na caçada por ‘serial killer do DF’, presença de policiais em estradas de terra é reduzida

Os responsáveis pela operação agora reveem estratégias. Nos últimos dias, a coordenação da força-tarefa passou a apostar em informações

A presença de policiais em circulação nas estradas de terra onde são realizadas as buscas por Lázaro Barbosa de Sousa, 32, foi reduzida. Após duas semanas sem êxito em capturá-lo, a decisão é parte de uma nova abordagem das forças de segurança engajadas na caçada.

A fase inicial de buscas ao “serial killer do DF” foi marcada por um grande quantitativo de policiais na região do município de Cocalzinho de Goiás (GO). Mais de 200 agentes de Goiás e do Distrito Federal foram mobilizados para a tarefa.

Os responsáveis pela operação agora reveem estratégias. Nos últimos dias, a coordenação da força-tarefa passou a apostar em informações. A Folha de S.Paulo percorreu as estradas do local nessa quarta-feira (23/6) e constatou que o número de viaturas em circulação estava bem menor. A perseguição ao acusado de matar uma família no DF entrou em seu 16º dia nesta quinta (24/6) .

O vaivém de carros da polícia já não era o mesmo dos dias anteriores. Helicópteros das forças de segurança reduziram os sobrevoos na área. Menor efetivo em circulação, avaliam as autoridades, pode fazer com que o criminoso se movimente. Desde o final da semana passada não há mais relato de que ele tenha sido avistado.

Coordenadora da força-tarefa, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás disponibilizou um aplicativo para celular, pelo qual a população poderá fornecer pistas. Os dados enviados por meio de denúncias são inseridos em um sistema que os cruza com imagens de satélites. O disque-denúncia por meio de WhatsApp segue funcionando, apesar da grande quantidade de trotes.

A SSP-GO reforçou também a comunicação das equipes com rádios de longo alcance cedidos também tanto pelo Exército como pela Polícia Federal. Em nota, a secretaria rebateu especulações de que a força-tarefa tenha perdido o rastro de Lázaro, ampliando a área das buscas.

“O perímetro de atuação da força-tarefa continua o mesmo. A área operacional não foi aumentada”, afirmou a pasta.

Nas últimas 48 horas, como vem ocorrendo, policiais se dirigiram a algumas chácaras e fazendas para averiguar situações reportadas por moradores. Um fazendeiro relatou ter trocado tiros com um invasor, mas nada diz que tenha sido Lázaro. Próximo dessa fazenda uma equipe da Companhia de Operações de Divisas (COD), da Polícia Militar de Goiás, fazia incursões na mata. Um dos policiais classificou o caso de desafiador. De acordo com ele, bem antes da chacina ocorrida em Ceilândia (DF) e da fuga, o COD fora alertado sobre Lázaro, já considerado um foragido da Justiça.

O matador já era procurado na região. Com a atribuição de patrulhar as divisas do estado com o DF, a companhia tem experiência em fazer buscas em regiões de mata. A polícia procura Lázaro desde o dia 9 de junho, apontado como o responsável por assassinar um casal e dois filhos ao invadir uma chácara na zona rural do DF para roubar. Cláudio Vidal de Oliveira, 48, Gustavo Vidal, 21, e Carlos Eduardo Vidal, 15, foram mortos no local.  Cleonice Andrade, 43, foi levada como refém e seu corpo foi localizado três dias depois às margens de um córrego, sem roupas. De acordo com a polícia, a vítima foi executada com tiro na nuca.

Desde então, relatos apontam que ele invadiu outras propriedades no DF e em Goiás. Baleou moradores de uma chácara, fez reféns em outra. Trocou tiros com um funcionário de uma fazenda, roubou armas e veículos.

Instituto de Identificação da Polícia Civil do DF divulgou imagens de possíveis disfarces de Lázaro. Além do quádruplo latrocínio (matar para roubar) em Ceilândia, é atribuída a ele uma tentativa do mesmo crime em 2020, ao invadir uma chácara em Goiás para roubar e atingir um idoso com um machado.

O fugitivo tem condenação por duplo homicídio na Bahia. É considerado foragido da Justiça também por crimes de estupro, roubo à mão armada e porte ilegal de arma de fogo, acusações que o levaram à cadeia em 2013 no DF. Após três anos, progrediu para o regime semiaberto e fugiu. De acordo com informação da Secretaria de Administração Penitenciária do DF, ele não retornou ao sistema após uma saída temporária.

Em 2018, Barbosa foi capturado pela polícia de Goiás, mas conseguiu escapar novamente. Desde então, vinha sendo procurado pela polícia.

Existem contra ele atualmente quatro mandados de prisão cadastrados no BNMP (Banco Nacional de Mandados de Prisão), administrado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Caso Lázaro

– Quarta-feira (9) – A onda de crimes tem início quando o suspeito invade uma casa em Ceilândia. Lá, ele teria matado o empresário Cláudio Vidal, 48; dois filhos dele, Gustavo Marques, 21; e Carlos Eduardo Vidal, 15; e sequestrado a mãe deles, Cleonice Marques, 43.

– Sexta-feira (11) – Polícia Militar do DF inicia buscas pelo suspeito.

– Sábado (12), à tarde – polícia encontra o corpo de Cleonice Marques. Cadáver estava próximo de um córrego na região de Sol Nascente (DF). Mulher estava nua, de bruços e apresentava cortes na região das nádegas.

– Sábado (12), à noite – Três pessoas são baleadas em uma casa na zona rural de Cocalzinho de Goiás. Suspeito teria forçado vítimas a fazer comida para ele enquanto as obrigava a fazer consumo de drogas. No local, Lázaro supostamente rouba duas armas de fogo e munições.

Feridos estão hospitalizados, dois deles em estado grave.

– Domingo (13), à tarde – Chácara é invadida em Cocalzinho de Goiás. Proprietário encontra imóvel revirado e dá falta do carro, um Corsa vermelho.

– Domingo (13), noite – veículo é abandonado na BR-070, após avistar bloqueio policial próximo à cidade de Edilândia. Suspeito foge à pé, supostamente para região de mata. Investigadores ainda não confirmaram se responsável por abandonar carro é mesmo Lázaro.

Polícias militar e rodoviária federal destacam 120 policiais para o cerco, que tem auxílio de 3 helicópteros

– Segunda-feira (14), manhã – Mais policiais se juntam à operação de captura. Agora, são 210 agentes da PM-GO, PM-DF e Polícia Federal (PF) que atuam para detectar e prender Lázaro. Secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodnei Miranda acompanha os trabalhos in loco.

– Segunda-feira (14), noite – Lázaro pede comida em uma chácara em Edilândia, mas diante da negativa do caseiro atira com uma pistola contra a propriedade. O caseiro, que também estava armado com uma espingarda, revida, fazendo com que o procurado fuja do local correndo a pé.

– Terça-feira (15), tarde – Moradores de uma fazenda em Cocalzinho de Goiás afirma ter avistado Lázaro passando pela propriedade. Desesperados, eles orientam os policiais sobre o caminho que ele seguiu.

– Terça-feira (15), tarde – Três pessoas – uma mulher e duas crianças – foram mantidas reféns de Lázaro Barbosa em uma propriedade rural que fica a 5 km de distância do povoado de Edilândia. Os reféns foram libertados após troca de tiros com a polícia e o suspeito fugiu por um Rio próximo da fazenda.

– Terça-feira (15), noite – Lázaro teria retornado a uma propriedade que invadiu pela manhã em busca de alimentos. O proprietário encontrou a casa revirada e deu falta de produtos alimentícios.

– Terça-feira (15), noite – Secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda diz que equipes estão mais perto de capturar Lázaro e que não deixarão o local sem o suspeito.

– Quarta-feira (16), manhã – Secretário de Segurança Pública, Rodney Miranda diz que suspeito não agiu nesta madrugada e que o cansaço será a estratégia para capturá-lo.

– Quinta-feira (17), manhã – A secretaria de Segurança Pública de Goiás informou que 20 policiais da Força Nacional vão auxiliar nas buscas por Lázaro, em Edilândia.

– Quinta-feira (17), manhã – Rodney Miranda, Secretário de Segurança de Goiás, afirmou que Lázaro está mais desgastado e cometendo mais erros.

– Quinta-feira (17), noite– Rodney Miranda, Secretário de Segurança de Goiás, confirmou que Lázaro foi visto pelo menos duas vezes e que houve pelo menos um confronto.

– Sexta-feira (18), manhã – Policiais encontraram uma vela de sete dias na região de mata de Edilândia, povoado de Cocalzinho de Goiás. O objeto, com o nome de Lázaro, foi localizado ainda na noite de quinta.

– Sexta-feira (18), manhã – Mãe de Lázaro fala pela primeira vez e pede ao filho que se entregue.

– Sexta-feira (18), manhã – Mãe de Lázaro fala pela primeira vez e pede ao filho que se entregue. Esposa do suspeito diz que ela e a filha sofrem ameaças e também pede que ele se entregue.

– Sexta-feira (18), tarde – Moradores de Girassol servem lanche a policiais e jornalistas, reconhecendo os esforços dos profissionais nas buscas por Lázaro e na divulgação de informações.

– Sábado (19), manhã – Policiais restringem para 10 km quadrados o perímetro de busca por Lázaro Barbosa. Helicópteros voltam a sobrevoar região. Forças de segurança auxiliam proprietários rurais que precisam alimentar os animais, mas estão com medo.

– Domingo (20), manhã – 270 policias seguem nas buscas por Lázaro.

– Domingo (20), tarde – Suspeita de Lázaro estaria em Águas Lindas é desmentida pela polícia.

– Segunda-feira (21), manhã – Lázaro Barbosa Sousa, 32, segue escondido em região de mata entre Edilândia e Girassol, em Cocalzinho de Goiás, segundo autoridades.

– Segunda-feira (21), tarde – Secretaria recebe quase mil denúncias sobre Lázaro, em 24h, a maioria trote. Além disso, o exército cedeu 40 rádios comunicadores para auxiliar as equipes. Segundo a SSP, cerca fica cada vez mais fechado.

– Terça-feira (22), manhã – Intensificação de barreiras em busca de Lázaro causa fila de carros na BR-070.

– Terça-feira (22), manhã – Um carro é encontrado queimado na região de Girassol.

– Terça-feira (22), tarde – Policiais encontram um lençol e um serrote na região de Girassol, a 4km de Águas Lindas.

– Quarta-feira (23), manhã – Comandante da Rotam explica porque a tropa deixou as buscas por Lázaro, no fim de semana.

– Quarta-feira (23), manhã – A secretaria de Segurança Pública pediu que um eventual advogado de Lázaro procurasse a força-tarefa para negociar a rendição.

Quarta-feira (23), tarde – Disque Denúncia de Lázaro recebe 3,8 mil desde domingo. Polícia diz que há indicativos que suspeito tentou invadir uma casa, na noite de terça.

O procurado

A série de crimes atribuída a Lázaro Barbosa, 32, teve início em entre 8 e 9 de abril de 2020, quando ele teria invadido uma propriedade rural de Santo Antônio do Descoberto. Quatro idosos estavam no local. Um deles foi atingido com golpe de machado na cabeça, mas sobreviveu, embora apresente sequelas, segundo a Polícia Civil goiana. Os outros idosos também foram agredidos, com menos gravidade. Lá ele roubou bens e celulares que depois foram recuperados pelos investigadores. À época ele foi indiciado por crime de roubo mediante restrição da liberdade das vítimas, emprego de arma branca e por tentativa de latrocínio.