Mulheres inspiradoras: como a sexóloga Delma Eusébio ensina mulheres a ter prazer
Engraçada, de risada boa de ouvir e muito falante, a sexóloga acabou transformando a entrevista em um diálogo aprazível
Falar de sexualidade ainda é um tabu – e dos grandes -, mesmo em 2024, pleno século XXI, com todas as possibilidades tecnológicas imagináveis daquela época em que a ciência atual era narrada no cinema como a ficção científica mais absurda. Falar da sexualidade e do prazer feminino, então… nem se fala.
Para se ter uma ideia, somente nos últimos 50 anos é que a medicina dedicou-se a estudar um dos órgãos femininos que é específico para o prazer da mulher: o clitóris. Agora, imagine você, leitor, a seguinte cena: uma mulher preta falando de sexualidade abertamente em palcos, palestras, nas redes sociais; tratando de temas, no mínimo, delicados. Será que esta mulher sofreria represálias, preconceitos?
Se a sua resposta for sim, você acertou.
Mas saiba que nenhum destes obstáculos impediu Delma Eusébio, a brasiliense de 46 anos, graduada em administração e nutrição e especialista em saúde íntima feminina, de continuar fazendo o que ela faz de melhor: trabalhar com sexualidade feminina.
Casada há 21 anos, Delma hoje é empreendedora na área da sexualidade feminina. Por meio de técnicas de pompoarismo moderno – a chamada ginástica íntima – ela ensina às mulheres a conhecer melhor a sexualidade e como obter mais prazer.
Hoje, nas plataformas digitais, existem cursos em que a sexóloga tem alunas em 29 países. No Brasil, Delma tem alunas em todos os estados. Atualmente, ela tem torno de 4 mil alunas espalhadas pelo mundo. Ao todo, a profissional acredita já ter tido mais de 10 mil alunas, entre aquelas presenciais e aquelas que compraram seus cursos online.
Quem quiser encontrá-la, pode acessar o seguinte instagram: @delmaeusebio
O preconceito, porém, faz com algumas pessoas deturpem a profissão dela. “Acham que quem trabalha com sexualidade é alguém que passa o dia inteiro fazendo sexo”, diz. Delma relata ainda que recebe muita proposta indecente. “Muitos acham que podem me pagar para fazer sexo, existem milhões de propostas nesse sentido”, revelou.
Culturalmente, especialistas argumentam que os seres humanos foram criados com mentalidades que fazem com que as pessoas tenham travas mentais, medos, tabus, bloqueios e receio de falar abertamente sobre sexualidade. Por isso, para alguns, questões relacionadas ao sexo ainda trazem estranheza, causando preconceito.
“Existem duas coisas dentro deste nosso nicho da sexualidade: uma é ensinar sobre a educação sexual e a outra é ensinar as técnicas de sexo mesmo, propriamente ditas. No meu caso, eu faço as duas coisas. Quando eu comecei a trabalhar com a sexualidade da mulher, há quase 15 anos, era ainda mais difícil. Hoje as pessoas estão mais abertas, estão mais acessíveis, elas querem receber a informação. Mas ainda existe o preconceito.”
Mas, se por um lado existiram dificuldades, por outro lado a curiosidade instigou Delma a iniciar na área. Ela conta que era servidora pública quando conheceu, aqui em Brasília, uma pessoa que trabalhava com sexualidade, realizando palestras em eventos, em chá de lingerie, e acabou se interessando pelo assunto.
“Eu nunca fui uma pessoa tímida no dia a dia. Mas eu era uma pessoa meio tímida e um pouco travada sexualmente. Eu tinha muitos problemas nessa área. Aí comecei a trabalhar com essa pessoa, a acompanhar essa pessoa que eu conheci, eu acompanhava em todas as palestras, fiz todos os cursos e acabei virando uma espécie de assistente, depois a gente virou sócia e eu comecei a fazer o mesmo trabalho, conciliando ainda com o meu trabalho de servidora pública. Depois de um certo tempo, o sucesso era tão grande, que eu não consegui mais conciliar e tive que escolher. Aí eu deixei se ser servidora.”
Engraçada, de risada boa de ouvir e muito falante, a sexóloga acabou transformando a entrevista em um diálogo aprazível.
Entre uma pergunta e outra, a reportagem do Mais Brasília acabou pedindo para Delma escolher, uma entre tantas histórias engraçadas e bizarras que ela deve ter vivido durante cursos e palestras. E a sexóloga surgiu a com um caso pra lá de inusitado.
“Uma vez eu fui fazer uma palestra e a pessoa que me contratou, uma noiva, disse várias vezes que as mulheres da família dela estariam lá. ‘Olha, minha mãe vai estar lá, minhas tias, a minha avó vai estar lá e a minha bisavó vai estar lá’ . A bisavó dela tinha em torno de 90, 95 anos, mais ou menos. E ela me disse para fazer uma palestra bem tranquila, mais básica. No meio da palestra, a bisavó dela gritou da plateia para a bisneta: “Minha filha, você contratou essa pessoa [Delma] para falar essas coisas aí, você podia ter me contratado, porque eu sei muito mais.”
Neste dia, Delma disse que a tal bisavó foi para o palco ajudá-la e ainda fez todas as perguntas ‘cabeludas’ prováveis.
“Ela foi lá pro palco e disse que na época dela não podia-se ter palestras sobre sexualidade, que ela teve que aprender na prática. Foi um caso bem inusitado, o povo ficou de queixo caído, porque a bisavó foi lá e falou, disse que não tem que ter vergonha de nada, que agora é possível à mulher ser muito mais feliz no casamento.”
Sobre a técnica do pompoarismo moderno, Delma diz que método dela é mais fácil porque no método tradicional trabalha-se a musculatura pélvica somente com movimentos internos, sem movimentação de glúteos, pernas, abdômen. Porém, é muito difícil ensinar este método tradicional para aquelas alunas que não tem consciência corporal. E a movimentação estes músculos externos acaba auxiliando os músculos internos e a musculatura pélvica. Com o tempo, as alunas alcançam a consciência corporal e a força necessária para realizarem os movimentos pélvicos internos.
Para a sexóloga, a mulher que tem domínio da própria sexualidade é uma mulher muito mais livre porque essa mulher se conhece. E, geralmente é uma mulher que tem autoestima, que sabe o seu real valor, que normalmente não tem medos.
“A mulher que não é dona da sua sexualidade depende muito do parceiro. Dificilmente você vê uma mulher que conhece a própria sexualidade ser insegura. Porque uma coisa está atrelada à outra.”, explicita.
Sobre machismo, Delma disse que o machismo é cultural e que há locais em que ele está mais impregnado na cabeça das mulheres do que dos homens. “Nas redes sociais, observa-se que quem é mais machista são as próprias mulheres.”
Em relação às faixa etárias femininas, a sexóloga explica que as jovens de hoje estão com mais acesso à informação.
“As jovens não me preocupam. Eu deixaria um conselho para as mulheres da minha faixa etária – entre os 35 aos 55 anos – porque elas têm muito mais problemas, porque naquela época, nós não tínhamos acesso à informação. Para as jovens de 20 anos, eu diria para aproveitarem o conhecimento que têm para serem mulheres melhores para vocês mesmas e ajudarem as mulheres mais velhas a se libertarem. Eu sempre digo: amiga que é amiga compartilha coisa boa.”
Sobre empreender nessa área, a profissional explica que é bastante difícil porque as pessoas não veem a sexualidade como educação. Outro fator que dificulta, é o de mostrar o trabalho às pessoas, porque as próprias plataformas digitais barram assuntos relacionados a sexo, o que não ocorrem com outros temas.
“A gente tem problemas com as diretrizes das redes, não é fácil alcançar as mulheres que precisam de informação desse assunto, a gente não tem a facilidade como outros assuntos tem, de estar no meio das redes sociais sem ter a preocupação de ser bloqueada.”
E finaliza dizendo que o real propósito do trabalho dela é fazer com que todas as mulheres se sintam e sejam mulheres imperdíveis. “E o que ser uma mulher imperdível? É ser uma mulher que sabe ter prazer e sabe proporcionar prazer”.