Mulher denuncia crime de racismo em estabelecimento de Águas Claras
Do Mais Brasília

Mulher denuncia suposto crime de racismo em estabelecimento de Águas Claras

Caso teria ocorrido em 15 de maio, na Rua 14 Sul. E, segundo a mulher, a PCDF teria se recusado a registrar ocorrência

Uma moradora de Águas Claras denuncia que ela e o filho, de 22 anos, sofreram racismo em um estabelecimento comercial da cidade. O caso ocorreu no último dia 15/5, um sábado, na parte da tarde, na Rua 14 Sul.  Após o ocorrido, a  mulher ainda afirma que foi impedida de registrar ocorrência sobre o assunto na Polícia Civil.

Por meio do escritório de advocacia que está à frente do caso, a mulher contou que ela e o filho estavam dentro da unidade e faziam compras. Ela relata que, após efetuarem o pagamento no caixa e se direcionarem para a saída, com sacolas na mão, um colaborador teria apontado o dedo para seu filho e dito que ele “estava roubando”.

O advogado responsável pelo caso, Jailson Rocha, afirmou que o colaborador não utilizava identificação, e que em momento algum ele sinalizou para a mulher e o filho sobre o que estava acontecendo. Apenas teria agido de forma acusatória.

Ainda segundo o advogado, com medo de alguma agressão, o rapaz chegou a levantar a camisa para mostrar que não carregava nada do local. Rocha ressalta que tudo teria ocorrido na frente de funcionários e clientes que estavam na unidade.

Para a mulher e o escritório que a representa, a abordagem foi feita, exclusivamente, por ela e o filho serem negros, já que, segundo o advogado, o funcionário do local informou que teria levantado suspeitas, e também porque ele não abordou outras pessoas que saíam do estabelecimento.

“Entendemos que a abordagem foi, única e exclusivamente, em decorrência da cor/raça, por ser negro. Não havia nenhum elemento indicativo de que nossos clientes estavam praticando alguma conduta que pudesse ensejar a abordagem indevida e constrangedora a que foram submetidos. Ainda estamos analisando quais medidas podem ser tomadas quanto aos fatos ocorridos com os nossos clientes”, informou o escritório por meio de nota.

A mulher conta ainda que, após o ocorrido, foi até a delegacia da região, a 21ª DP, em Taguatinga Sul, e que, no local, foi informada pelo agente plantonista que “não poderia registrar a ocorrência”. Ainda segundo o advogado, ela tentou argumentar e explicar o que tinha acontecido, mas a corporação teria se recusado a lavrar o boletim.

O advogado afirmou que está estudando as medidas que serão adotadas, assim como resgatando provas sobre o ocorrido.

 

Outro lado

Procurado pela reportagem, o estabelecimento comercial, primeiramente, se pronunciou por ligação telefônica do gestor de RH da unidade. Ele confirmou a situação, mas informou que os fatos narrados pela cliente não são verídicos.

Para o Mais Brasília, o gestor afirmou que, no momento em que a mulher e o filho estavam na unidade, havia uma situação de furto em andamento. Segundo ele, o colaborador do estabelecimento havia recebido informações sobre uma pessoa que teria guardado um volume na cintura, por baixo da camisa.

O gestor diz ainda que, no momento da abordagem, dois policiais militares presenciaram a ação. Ele ressalta que os militares estavam na unidade devido à situação em andamento e não por conta do rapaz.

Ainda conforme a ligação do gestor, o colaborador em momento algum teria afirmado que o rapaz estava roubando. Ele relata que foi feita a abordagem e, quando o jovem levantou a camisa, havia um volume em sua cintura, mas ficou comprovado que eram seus documentos pessoais. Assim, ao descartar a suspeita, o colaborador seguiu com seu trabalho e a situação foi finalizada.

Questionado pela reportagem se as características do possível envolvido com a situação de furto correspondiam com as do jovem abordado, o gestor não soube responder. O estabelecimento afirmou que enviaria uma nota sobre o caso, mas até a publicação desta reportagem não foi recebido o documento.

 

O que diz a Polícia Civil

O Mais Brasília questionou a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) sobre a possível negação no registro da ocorrência. Por meio de nota, o delegado-chefe da 21ª DP, Luiz Gratão, disse que os interessados podem procurar a delegacia. “A autoridade policial fará a análise técnico-jurídica do caso que poderá, dependendo da situação, resultar em ocorrência policial”, disse.

 

Crime de Racismo

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), embora caibam na esfera penal, os conceitos de injúria racial e racismo são diferentes. O primeiro está contido no Código Penal brasileiro e o segundo, previsto na Lei n. 7.716/1989.

Enquanto a injúria racial consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem, o crime de racismo atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça. Ao contrário da injúria racial, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível.

Todo cidadão deve denunciar ocorrências de racismo. No DF, o número do Disque-racismo é 156, opção 7.