Mortalidade de covid-19 no DF caiu mais de quatro vezes após vacinação
Boletim Epidemiológico Especial aponta que aumento da vacinação trouxe diminuição drástica na letalidade para os brasilienses entre março e dezembro de 2021
A aplicação da segunda dose das vacinas contra a covid-19 e, posteriormente, o início das doses de reforço foram fundamentais para reduzir a taxa de letalidade da doença em mais de quatro vezes no Distrito Federal ao longo de cinco ondas de contaminação, cada uma com a predominância de uma variante do vírus SARS-CoV-2. É o que aponta o último Boletim Epidemiológico Especial, lançado nesta semana pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES).
“Mais uma vez, fica evidenciado que a imunização é a medida mais eficaz para o combate à covid-19. Por isso, vamos persistir no objetivo de ampliar a cobertura vacinal para todas as idades, com ações extramuros, aos fins de semana, em escolas e outros espaços de grande circulação de pessoas”, afirma a gestora da pasta, Lucilene Florêncio.
Segundo o levantamento, a taxa de letalidade da covid-19 caiu de 4,24%, em março de 2021, para 1,7% em junho do mesmo ano. Neste período, a vacinação entrava na fase da segunda dose. O mesmo fenômeno se repetiu após a aplicação da primeira dose de reforço, em setembro de 2021, quando a taxa de mortalidade estava em 1,74% e teve queda para 0,41% em dezembro daquele ano.
Nessa sensível equação, as ações de vacinação, com mais de 80 locais de atendimento em dias úteis, foram preponderantes para a redução das mortes por covid-19 no DF. “Isso é uma tendência que se consegue ver em qualquer estado: o aumento da vacinação traz a diminuição da letalidade. À medida que o tempo passa, a entrada das doses de reforço vem justamente para reduzir a taxa de letalidade. Quando ela começa a se estabilizar, uma nova dose de reforço é aplicada e reduz mais uma vez”, explica o enfermeiro da equipe do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do Distrito Federal (Cievs), João Pedro Angelici Virginio.
De acordo com os dados apresentados, a mais letal das cinco ondas de contaminação por covid-19 no DF foi a segunda, entre janeiro e junho de 2021, quando houve pico de 49.452 casos e 2.095 óbitos em março. A quarta e a quinta ondas, ambas no primeiro semestre de 2022, tiveram mais de duas vezes o número de casos, mas sem uma elevação proporcional na taxa de letalidade.
Apesar de a análise ter demonstrado que cada onda foi marcada por uma variante diferente, cada uma delas com características distintas, os dados por faixa etária confirmam a hipótese de que a queda da letalidade está ligada à campanha de vacinação. “Vemos que a faixa etária que está sendo imunizada tem redução da mortalidade e da gravidade, e isso vai avançando pelas faixas etárias, conforme avança a vacinação”, acrescenta.
Entre os idosos de 80 anos ou mais, por exemplo, a taxa de mortalidade caiu de 2.382,25 óbitos para cada 100 mil habitantes na primeira onda, quando não havia vacinação, para 177,07 na quinta onda, em junho de 2022, época em que já havia ocorrido o início da aplicação do segundo reforço. Enquanto isso, a taxa de mortalidade das crianças com menos de dois anos ficou estável em 1,14 da primeira à quinta onda. Para o público infantil, a imunização começou em novembro de 2022.
O Boletim Epidemiológico Especial traz ainda a informação de que as faixas etárias com maior incidência de casos e de óbitos por covid-19, em todas as cinco ondas, foram as pessoas entre 30 e 59 anos ou acima dos 80 anos. Para a população geral, de todas as faixas etárias, a incidência de mortalidade caiu de 202,83 óbitos para cada 100 mil homens da segunda onda para 4,16 óbitos a cada 100 mil homens na quinta onda. Já entre as mulheres, este índice caiu de 141,95 na segunda onda para 4,67 na quinta.
Aprimoramento
O diretor de Vigilância Epidemiológica da SES, Fabiano dos Anjos, acrescenta que o documento tem como foco trazer novos conhecimentos sobre os impactos da covid-19 em várias esferas da saúde pública, desde o aumento dos atendimentos a vítimas de violência doméstica até a importância de testagem para Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). “Nós tivemos pessoas que chegaram às portas dos hospitais com covid-19 e tinham HIV/Aids, sem saber”, revela o epidemiologista.
A experiência de enfrentamento à covid-19 também resultou em uma série de aprimoramentos tanto para a gestão e o planejamento de mobilização de leitos e gestão de recursos, quanto para a própria vigilância das doenças. Durante a pandemia, o Cievs passou a atuar com uso mais intenso de ferramentas digitais, como programas para consolidação e análise de dados. “As ferramentas tecnológicas vieram para ficar. Não se faz mais vigilância epidemiológica sem analistas de sistemas”, revela Fabiano.
Esses ensinamentos são válidos, inclusive, para o eventual enfrentamento a novas ondas de covid-19 ou de outras doenças que possam impactar nos serviços de saúde pública. “A experiência da covid-19 ampliou bastante a capacidade da equipe. Tivemos uma resposta bem mais rápida e oportuna, por exemplo, por conta da Monkeypox [uma doença viral em que a transmissão pode ocorrer por meio do contato com o animal ou com o humano infectado], com a elaboração de materiais de apoio e de planos de contingência”, completa a gerente do Cievs, Priscilleyne dos Reis.
Dados atuais
Até o dia 24, a SES confirmou 807.486 casos de covid-19 entre moradores do DF, com 10.830 óbitos, uma taxa de 1,34% de óbitos. Entre 17 de e 24 de junho, foram 138 casos e a taxa de transmissão está em 0,81, que indica a desaceleração no número de casos.
A campanha de vacinação ultrapassa 7,7 milhões de doses aplicadas no DF, sendo 455 mil da nova versão bivalente, atualmente disponível para pessoas com pelo menos 18 anos de idade.
A cobertura vacinal supera os 81% para a primeira dose, com pico de 99,2% para o público com mais de 80 anos. Porém, no caso da dose de reforço, disponível para todos com cinco anos de idade ou mais, 48,1% da população ainda não foi vacinada. Já o reforço bivalente chegou a 49,7% da faixa etária acima dos 80 anos, ficando abaixo de 16% para as pessoas com menos de 49 anos.
Toda semana, a SES disponibiliza boletins epidemiológicos relacionados à covid-19, nos quais são avaliados número de casos, óbitos, taxa de incidência, de transmissão e de letalidade.